Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Chegou a hora de dar respostas. A mais engenhosa, deixada em cima da mesa por Paulo Melo, consiste em deixar de olhar só para o custo/hora e passar a valorizar as peças produzidas pelo valor acrescentado do detalhe e trabalho especializado que incorporam. Mas não há uma única solução milagrosa, capaz de por si só resolver o drama aflitivo da escassez de costureiras. O cocktail de propostas aqui apresentado contempla dignificar a profissão de costureira, aumentar salários, ampliar a oferta de formação, deslocalizar produção e - por que não? - importar mão-de-obra...


Daqui a dez anos não vamos ter gente para trabalhar. Não sei como vai ser”, desabafa Conceição Dias. Preocupada com a falta aflitiva de mão-de-obra especializada, a CEO do grupo Sonix/DiasTêxtil, organizou um curso interno de formação de costureiras. Começaram 23 raparigas, acabaram três. Pelo sim pelo não, até porque mulher prevenida vale por duas, têm andado a comprar pequenas confeções de que era cliente, para que passem a trabalhar a 100%.

Os SOS vêm de quase todo o lado. “Se quiser hoje uma costureira a saber trabalhar não a consigo encontrar”, garante Alberto Sousa, da Shirtlife. “Basta ligar para qualquer empresa de confeções que logo confirmam que há vagas para costureiras”, refere Paulo Vaz, diretor-geral da ATP.

“Nestes últimos dois anos, registou-se uma procura crescente de mão-de-obra na indústria têxtil, sobretudo de costureiras, e a resposta é insuficiente. É cada vez mais difícil encontrar pessoas para trabalhar”, concorda João Costa, vice-presidente da ATP.

“Começamos a ter um problema que é o da falta de pessoas para trabalhar”, lamenta Rui Carneiro, presidente da Associação Empresarial de Paços de Ferreira, dando como exemplo uma ação de formação com 20 costureiras, em que ficaram 30 vagas por preencher.

A única voz dissonante neste coro, é de José Armindo Ferraz, CEO da Inarbel (Marco de Canaveses) : “Há três ou quatro anos sentia dificuldades em arranjar costureiras. Agora não. Resolvi o problema com formações internas e aliando-me a outras entidades para aliciar as pessoas a virem trabalhar para a têxtil”.

O setor ainda tem um problema de imagem, que prejudica a sua capacidade de atração de mão-de-obra. “Deixamos denegrir a nossa imagem a tal ponto que ela deixou de ser apelativa para os jovens”, lamenta Isabel Furtado.

Artur Soutinho, CEO do grupo MoreTextile, assina por baixo. A ITV é muito competitiva e tecnologicamente avançada, mas não é essa a perceção que têm do setor a maioria da população, em particular os jovens, o que explica a fraca procura do curso de Engenharia Têxtil da Universidade do Minho, apesar da pressão existente do lado da oferta, já que as empresas precisam deles como de pão para a boca.

Sónia Pinto, diretora-geral do Modatex, sabe que há um problema cultural subjacente a este fenómeno: “Um dos fatores que está na origem do desinteresse pelo trabalho em indústrias como a têxtil é a possibilidade de arranjarem emprego em áreas, com outro estatuto.

Muita gente prefere o comércio, mesmo com horários difíceis.”

José Armindo apresenta uma visão mais otimista do assunto: “Há 10 ou 15 anos, trabalhar na têxtil era a última solução, o último escape. Hoje sinto que os meus colaboradores já têm orgulho em trabalhar numa fábrica”.

A diretora-geral do Modatex reconhece que o crescimento das exportações, o aumento das encomendas e as exigências crescentes de qualidade acentuaram a dimensão do problema da falta de mão-de-obra particularmente notória em relação às costureiras.

“Temos ampliado a oferta formativa, levando-a às instalações das empresas, através do programa Formar para Empregar, ou criando extensões de formação em locais onde a ITV tem maior implantação”, explica Sónia que dá pistas para a desdramatização do fenómeno do elevado número de desistências dos cursos de costureiras.

“Há formandas que deixam os cursos antes de os concluírem porque no entretanto receberam propostas de trabalho financeiramente mais vantajosas”, diz Sónia Pinto chamando ainda a atenção para o facto de a maior parte destas ofertas virem de empresas têxteis: “Ou seja, nem sempre o facto de desistirem é sinónimo de que não são aproveitadas pela ITV”.

Soluções? Não há uma só, milagrosa, que resolva tudo. Mas há várias, como, por exemplo, tornar mais glamoroso trabalhar na têxtil. Um exemplo? Os jeans Aly John, da Lamosa, levam na etiqueta a assinatura da costureira que os produziu mais a data em que os concluiu…

Virgínia Abreu, CEO da Crispim Abreu, põe a tónica na necessidade de melhorar o ambiente de trabalho nas empresas – organizando piqueniques, jogos de futebol, atividades ao ar livre -, criando momentos de descontração para libertar o stress do dia.

“O trabalho tem de ser uma coisa boa, as pessoas têm de gostar do que fazem e sentirem-se bem no seu local de trabalho. Senão entram numa rotina negativa e tudo piora, tanto a nível pessoal como profissional”, afirma Virgínia.

Uma maior dignificação da profissão de costureira é uma das soluções avançadas pela CEO da Crispim Abreu: “Ainda há um estigma muito negativo à volta das confeções. É necessário valorizar as pessoas. Devia ser possível atribuir um grau a pessoas, que embora não tenham um curso superior, são artesãos e sabem fazer muito bem uma coisa.

E, gradualmente, os salários têm de melhorar. No futuro, uma boa costureira deveria ganhar tanto como um professor em início de carreira”.

João Costa está de acordo: “As remunerações vão ter de melhorar. De nada serve termos formações se não há pessoas interessadas em aprender ou trabalhar no setor. Há obviamente os constrangimentos dos mercados e dos preços, mas, na medida dos possíveis, é necessário aumentar os salários”.

“A solução passa também por fazer com que o setor seja mais atrativo, nomeadamente ao nível salarial. Trata-se de remunerar justamente os trabalhadores e compensá-los consoante a formação e as responsabilidades que têm”, reconhece Paulo Melo.

O presidente da ATP deixa em cima da mesa uma sugestão engenhosa: “Em alguns casos, vamos ter de deixar de olhar só para o custo/hora e passar a valorizar as peças fabricadas, porque hoje em dia, em Portugal, produzimos com valor acrescentado, onde há muito detalhe e trabalho especializado envolvido, e é isso que é valorizado”.

O recurso à deslocalização é uma das hipóteses elencadas por Paulo Melo: “Não podemos deixar de olhar para o passado e ver o que fizeram países, como a Itália, que foi deslocar a produção. O ideal seria albergar tudo, mas nem sempre isso é possível e o setor ressente-se, principalmente com o crescimento dos últimos anos”.

“A mentalidade das costureiras também tem de mudar. Elas têm de perceber as mudanças. Mas os empresários têm de as acarinhar, porque este setor não sobrevive sem elas. Na têxtil, a mão-de-obra é fundamental. Não somos um setor robotizável”, conclui Paulo Melo.

O cocktail de soluções apresentado para desatar este nó contempla dignificar a profissão de costureira, aumentar os salários, ampliar a oferta de formação, deslocalizar parte da produção, reconverter jovens com formações sem procura no mercado (os alemães estão a fazer cursos de seis meses com bastante sucesso) e, por que não, importar mão-de-obra especializada?

“O país está a envelhecer. A população está a diminuir. Com este inverno demográfico interno, se o país quer continuar a crescer tem de ir buscar gente a qualquer lado…”, resume Artur Soutinho, da MoreTextile.

http://pt.fashionnetwork.com/news/Como-se-resolve-o-drama-da-falta-...

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Em 1998, escrevi um artigo para uma das primeiras edições da revista Costura  Perfeita no que fui seguido por um editorial do Sr. Josep, abordando o tema, pois já naquela época faltavam costureiras no Brasil. E as razões eram e continuam as mesmas enumeradas pelos portugueses, com uma agravante, eles sugerem o salário da costureira equiparar-se ao do  professor, aqui no Brasil, seria regressão.

Sem investimento em treinamento e melhores salários, não sairemos do  lugar. Aumentar salários, contudo, é um risco para as empresas, pois em todas as empresas clientes que tenho atuado, a produtividade sequer chega a 50%, o que significa custo dobrado para a empresa. 

  “O país está a envelhecer. A população está a diminuir. Com este inverno demográfico interno, se o país quer continuar a crescer tem de ir buscar gente a qualquer lado…”, resume Artur Soutinho, da MoreTextile.

  “A mentalidade das costureiras também tem de mudar. Elas têm de perceber as mudanças. Mas os empresários têm de as acarinhar, porque este setor não sobrevive sem elas.

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