Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

O recente artigo de Jorge Grimberg no blog Business of Fashion ecoa o sentimento de Mario Mendes em comentário para a revista Veja. As recentes semanas de moda brasileiras mostraram coleções comprometidas com o apelo comercial de peças que seguiram tendências internacionais, mas que pouco acrescentaram em termos de inovação e criatividade ao cenário da moda global.

Estou cansada de ouvir que a indústria da moda está em crise. Acho que esse papo é usado desde que Dior morreu. A verdade é que sempre teremos do que reclamar, seja pela invasão das marcas de luxo internacionais ou das lojas de “fast fashion”, do custo tributário de confeccionar no Brasil, da ausência de insumos ou mão-de-obra especializada, dos juros altos ou até das novelas queimando tendências. Eu nasci na crise do petróleo, cresci na hiperinflação e agora vivo na recessão norte-americana. Se depender da economia, sempre haverá desafios!

Moda não é um negócio fácil. “Se fosse fácil, não teria graça”, digo sempre. Para meus alunos, digo que se fosse fácil, não precisava estudar. Mesmo os designers mais talentosos não acertam sempre. E é preciso sobreviver uma temporada sem vendas e ainda se sentir inspirado e motivado para criar a próxima. Marcas passam por altos e baixos criativos e administrativos, às vezes em longos ciclos. A Gucci, por exemplo, nunca mais foi a mesma depois da saída de Tom Ford e Domenico de Sole. A Burberry tenta reafirmar-se como marca de prestigio depois da massificação de seu tradicional xadrez na década passada. Moda muda (ainda bem!) e o sucesso de Betsy Johnson nos anos 80 foi seguido por um hiato de décadas, quando o seu estilo saiu de moda, levando-a a vender a marca no final.

É preciso entender que existem expectativas diferentes a serem atendidas. Editores e críticos de moda esperam ser surpreendidos com inovações na passarela e um forte conteúdo conceitual. Quando uma coleção apresenta apenas diferenças marginais em relação a trabalhos anteriores ou coleções de outros designers ela não gera notícia. Todavia o designer não pode deixar de apresentar aquilo pelo qual seu nome é conhecido. É como se Victor e Rolf abandonassem o surrealismo que os tornou famosos. O designer precisa reinventar-se quatro vezes ao ano, mas sem perder a identidade. Pensa que e mole?

Do outro lado, investidores esperar lucros pelo capital comprometido num produto de risco e curto tempo de vida. Não é a toa que existam tão poucos “Bernard Arnault” pelo mundo. Os compradores esperam roupas que “girem”, que não fiquem muito tempo em estoque nas lojas e motivem consumo. E aí entra aquela análise mais profunda do perfil da consumidora. Quantas são as consumidoras que realmente vão usar biquínis assimétricos que produzirão um efeito “zebra” depois do bronzeado? Quantas “tem peito” para usar roupas transparentes sem sutiã? Quantas são arrojadas o suficiente para experimentar proporções e silhuetas inusitadas sem serem chamadas de estranhas? A verdade é que a maioria das consumidoras de moda não está necessariamente atrás de inovação. O que elas buscam é adequar-se moderadamente as vogas vigentes, mostrando a roupa nova, mas que segue a tendência já absorvida e aceita. A consumidora quer estar moderna, em dia, enquanto os críticos querem que a moda esteja à frente do seu tempo. Percebe o paradoxo?

Então, como satisfazer a essas duas expectativas? Editar a coleção para a imprensa e selecionar para a passarela apenas os looks de maior impacto, caprichando no styling, enquanto as peças mais comerciais permanecem no show room à disposição dos compradores, parece uma estratégia aceitável. Minha experiência com a M. Officer foi sempre de achar incríveis as peças na vitrine da loja, mas sem coragem de usá-las. Mas daí eu entrava em comprava um jeans. Sim, eu também não das mais ousadas. Minha ex-aluna April Johnston Hoffman com sua marca Mangled Cortesan produz roupas de inspiração gótica. As peças são super interessantes, mas não tem nada a ver com o meu estilo. Ainda assim, vez por outra, acabo comprando uma camiseta dela. A venda das camisetas, aposto, acabam cobrindo as perdas de dos modelos que não giraram numa coleção.

“À Cesar o que é de Cesar”. Assim, senhores designers, o desafio permanece em atender aos críticos ávidos por novidades, às consumidoras nem sempre tão vanguardistas, e aos investidores que esperam retorno. É como preparar culinária mexicana e italiana numa mesmo restaurante. É na arte de servir o que a quem que o seu negócio sobrevive.

Referências:
http://www.businessoffashion.com/2013/05/brazilian-fashions-identit...
http://veja.abril.com.br/multimidia/video/deu-praia-mas-faltou-assu...
http://waywire.com/users/Baruch/playlists/2683-baruch-wire?video_id...
http://scad.tumblr.com/post/48241742551/fern-mallis-and-betsey-john...
Inventando Moda: Planejamento de coleção (p. 58-59)

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