A indústria da moda contribui com aproximadamente 2,1 bilhões de toneladas de emissões de gases de efeito estufa (GEE) em um único ano, o equivalente a 4% de todas as emissões globais. Esse número impressionante é comparável às emissões anuais de GEE da França, Alemanha e Reino Unido combinados.
Essas estimativas são baseadas em dados do Fashion on Climate de 2018, mas espera-se que o setor continue crescendo no futuro. Ou seja, se nossos esforços para reduzir o impacto da moda não forem acelerados rapidamente nos próximos 10 anos, as emissões deverão aumentar para 2,7 bilhões de toneladas por ano até 2030.
Poucos meses depois, os incêndios florestais alcançaram níveis alarmantes, afetando 15 milhões de pessoas em todo o país, com a fumaça chegando até São Paulo, Rio de Janeiro e o sul da Bahia. Nesse cenário de urgência, a moda precisa mudar.
Uma revolução necessária
Como parte da causa da emergência climática, a indústria da moda adota algumas parcas, tímidas, mas valorosas iniciativas para tentar mitigar práticas que geram poluição, exploração de mão de obra e consumo desenfreado.
Um desses esforços é o Fórum Fashion Revolution Brasil, realizado pela sexta vez em 2024, que emerge como um espaço pioneiro para debater soluções inovadoras e inclusivas no setor. Criado para conectar academia, ativismo, arte, mercado e sociedade civil, o evento reafirma a necessidade de uma transformação sistêmica na moda.
A tragédia do desabamento do Rana Plaza, em Bangladesh, há dez anos, inspirou a criação do movimento global Fashion Revolution. No Brasil, essa mobilização ganhou força com o Fórum, que se consolidou como um espaço seguro e disruptivo para discutir práticas afirmativas em sustentabilidade, inclusão e diversidade.
Esta sexta edição do Fórum Fashion Revolution, realizada nesta sexta-feira (22) de novembro no Museu de Arte de São Paulo (MASP), organizou sua programação em três eixos temáticos: Raça e Gênero, Clima e Tecnologia, abordando questões centrais da sustentabilidade na moda.
Raça e Gênero: Inclusão e Justiça na Moda
O eixo temático "Raça e Gênero" explora como a moda pode ser um instrumento de inclusão e resistência cultural. Os debates destacam a invisibilização de mulheres negras e indígenas na cadeia produtiva da moda, os desafios enfrentados por trabalhadoras precarizadas e a necessidade de transformar padrões estéticos eurocentrados. Propostas decoloniais e antirracistas reforçam a importância de valorizar práticas e saberes tradicionais.
Clima: Rumo à Regeneração Ambiental
O impacto ambiental da indústria da moda foi o foco do eixo "Clima". Artigos e debates trazem à tona a urgência de abordar questões como a contaminação ambiental, o descarte inadequado de resíduos e a necessidade de incorporar práticas regenerativas. Alternativas sustentáveis, como bioeconomia e o uso de materiais recicláveis, são apresentadas como soluções viáveis para mitigar os danos causados pela produção em larga escala.
Tecnologia: Inovação e Transparência
O eixo "Tecnologia" discute o papel das inovações digitais na transformação da moda. Entre os temas, destaques para a a aplicação de inteligência artificial, impressão 3D e materiais inteligentes para aumentar a eficiência na produção e reduzir desperdícios. Soluções tecnológicas para rastreamento de cadeias produtivas mostram a capacidade de trazer maior transparência e ética ao setor.
Publicação e Reconhecimento
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Reprodução livro Fórum Fashion Revolution 2024
Como parte do evento, foi lançado um livro digital gratuito, reunindo 50 artigos teóricos e 25 ilustrações selecionadas por um comitê científico. Essa publicação reforça o compromisso do Fórum em democratizar o acesso ao conhecimento e incentivar a produção acadêmica e artística no campo da moda sustentável.
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Educação para a transformação
Um dos desdobramentos do Fórum é a Escola de Moda Decolonial (EMD), criada para promover o pensamento crítico e livre de colonialismos na moda.
Em sua segunda edição neste ano, a EMD reuniu mais de mil alunos e consolidou uma comunidade vibrante de pensadores dedicados a repensar o setor. Muitos dos ensaios apresentados no livro digital lançado pelo Fórum têm origem nesse espaço, com ênfase em temas como racismo ambiental e justiça climática.
Prêmio Pernambucanas e Soluções Inovadoras
Pela primeira vez, o Fórum introduziu o Prêmio Fórum Fashion Revolution Pernambucanas, que reconheceu propostas práticas para enfrentar os desafios da moda.
A nova categoria "Ensaios Práticos-Soluções" destacou ideias com potencial transformador, desde novas modelagens e materiais até metodologias aplicáveis pela indústria. O vencedor recebe R$ 10 mil e uma mentoria da Pernambucanas para desenvolver sua solução.
A revolução será inclusiva ou não será
Para o Instituto Fashion Revolution, a transformação da moda passa, necessariamente, por uma abordagem racializada. O impacto das mudanças climáticas atinge de forma desproporcional mulheres negras e pobres, destacando a necessidade de justiça climática e racial. A pergunta “Qual a cor de quem fez minhas roupas?” norteia muitas das reflexões apresentadas nos ensaios, reforçando o compromisso do Fórum com uma moda que beneficie todas as partes envolvidas, da produção ao consumo.
Um chamado à ação
O Fórum Fashion Revolution 2024 deixa claro que a moda pode e deve ser uma força para o bem, promovendo não apenas soluções sustentáveis, mas também mudanças profundas em sua estrutura colonial e concentradora de riquezas. Com iniciativas como o Prêmio Pernambucanas e a Escola de Moda Decolonial, o evento reafirma seu papel como catalisador de transformações necessárias para o futuro do setor. A revolução na moda está em curso — e é inclusiva, sustentável e urgente.