Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Cristina Betts fala sobre o futuro roteiro de fusões e aquisições da Iguatemi

Na semana passada, em Paris, a Iguatemi, a retalhista de luxo mais importante do Brasil, celebrou a sua recuperação da pandemia. A CEO, Cristina Betts, falou sobre os planos de fusões e aquisições e estima um crescimento contínuo de dois dígitos em 2023.



Cristina Betts - DR


O Brasil sofreu o triplo golpe da lenta sacudidela do COVID-19, da eleição presidencial altamente tensa e dos mercados de ações globais em declínio no ano passado, mas a Iguatemi ainda conseguiu um crescimento de dois dígitos em 2022.
 
O grupo detém um total de 16 shoppings de prestígio e sofisticados, notadamente dois importantes em São Paulo e outro em Brasília, onde se concentram as principais marcas. A Louis Vuitton tem quatro lojas na Iguatemi, enquanto que a Dolce & Gabbana tem cinco. A sua flagship, Iguatemi São Paulo, apresenta um espaço impressionante de 700.000 metros quadrados.

Quando Betts foi nomeada CEO em 2021, tornou-se efetivamente a executiva de luxo mais importante da América Latina, o último degrau de uma carreira que começou após concluir um mestrado na escola de negócios Insead, de Paris.

A sua nomeação aconteceu como parte de uma grande reestruturação que viu a controladora da Iguatemi entrar em colapso na empresa operacional, embora sempre deixando a sua família fundadora Jereissati no comando. A família passou a deter a maioria das ações preferenciais e direitos de voto e uma participação de 30% nas ações ordinárias. Betts sucedeu a Carlos Jereissati, que se tornou presidente da nova empresa. 

Com o recuo da pandemia, Carlos celebrou recentemente a ascensão de Cristina com um jantar no famoso restaurante de moda Voltaire. A presença destacou o peso da Iguatemi: Christian Louboutin; Cédric Charbit, CEO da Balenciaga; Jean Cassegrain, CEO da Longchamp; Roland Herlory, CEO da Vilebrequin e Sonia Rykiel; e Georgina Brandolini, a lendária parisiense que representa a Iguatemi na Europa.
 
Sentamo-nos com Cristina Betts para entendermos melhor o modelo de negócio individual da Iguatemi e os planos para o futuro, muito focados em M&A.

“Nos últimos 10 ou 15 anos, o nosso crescimento veio da construção de novos shoppings em novas cidades. Vamos continuar com isso, vamos expandir e construir em Brasília. Mas muito do nosso crescimento na próxima década virá de fusões e aquisições. Se olharmos apenas para o mercado de alto luxo no Brasil, os 10 principais players não controlam nem 50% do pool de receitas. Ainda é um mercado incrivelmente pulverizado. Existem muitas estruturas de propriedade diferentes. Muitos shoppings são propriedade de meia dúzia de sócios. Portanto, acreditamos que há muitas participações individuais que podem ser compradas”, frisou Betts.
 
“Em 2021 decidimos passar por uma reestruturação da sociedade, mas queríamos que a família continuasse a ser acionista maioritária. Passamos de uma para duas classes de ações. E temos uma nova estrutura de gestão que dá certos direitos de veto aos acionistas minoritários. Transferimos a família para o nível do conselho, e Carlos tornou-se presidente do conselho e eu, CEO. Todos abaixo dele são profissionais. Isto permite-nos financiar aquisições, sem diluir de imediato o controlo da família. Acreditamos que isso é altamente valioso, pois a família conhece muito bem o negócio e também são apaixonados por ele. Mas igualmente porque a transição da empresa para uma gestão profissional garante a continuidade”, explicou Betts.



Carlos Jereissati Filho e Christian Louboutin durante o evento - DR


A Iguatemi foi listada pela primeira vez em 2007 e tem sido uma empresa consistentemente lucrativa desde então. Hoje, após um golpe nas bolsas mundiais, incluindo a brasileira, o seu valor de mercado é de 5,74 reais, cerca de 1,1 mil milhões de euros, uma queda de mais de 50% em relação ao seu preço mais alto.

No seu último ano fiscal, o EBITDA foi de cerca de 750 milhões de reais, com vendas anuais de 1,2 mil milhões de euros. Notavelmente, o seu volume de negócios é quase o mesmo que o seu valor de mercado, sugerindo que as ações da Iguatemi podem ser uma compra muito boa.
 
“O mercado de ações está incrivelmente deprimido neste momento, assim sendo o nosso valor de mercado não reflete o valor real. Continuo a dizer aos nossos investidores, se não comprarem as nossas ações agora, vão arrepender-se depois”, brincou a executiva.
 
A Iguatemi é uma empresa de full service de shopping centers, que projeta, constrói e administra os seus próprios shoppings. Atende ao médio e alto padrão brasileiro, com foco principalmente nas regiões sul e sudeste do país, com exceção de Brasília. A Iguatemi administra as locações, contratos e operações do dia a dia dos seus shoppings, alguns deles construídos com condomínios ao seu redor. Historicamente, tem construído com excesso de capacidade, adicionando gradativamente unidades residenciais, escritórios e hotéis.
 
“Os shoppings demoram para amadurecer. É um costume. Falávamos em cinco anos, pelo menos. As pessoas precisam conhecer o shopping e saber o que esperar”, destaca Betts.
 
Atualmente, 90% de sua ABL está ocupada, uma proporção impressionante. “Mas temos espaço para construir mais um milhão de metros quadrados, assim podemos dobrar o tamanho da empresa”, enfatiza a CEO.
 
Assim como os clássicos shoppings de luxo do oeste, a Iguatemi arrenda espaços com renda mínima garantida e percentagem sobre o arrendamento de vendas. “E, claro, se não faturam, pagam o mínimo”, observa.
 
O preço médio mensal por metro quadrado varia enormemente no Brasil, mas a Iguatemi está no topo, geralmente entre 800 ou 1.000 reais por mês.

O principal shopping é o Iguatemi São Paulo, na capital, onde também estão presentes com o JK Iguatemi, que leva o nome da avenida vizinha JK Kubitschek, com o apelido presidente que construiu Brasília. Como todos os seus shoppings, é movimentado, seguro e silencioso, com restaurantes chiques e cinemas construídos sobre um amplo estacionamento subterrâneo.
 
“O JK abriu há 10 anos e tem-se saído muito bem. Não temos mais espaço no piso térreo para as marcas de luxo”, entusiasma-se a dizer.
 
Apesar da recente tentativa de golpe em Brasília, os negócios seguem firmes; e Betts espera um crescimento de dois dígitos em 2023. Dito isto, o Brasil continua a ser um mercado complicado para marcas de luxo estrangeiras, devido à tributação e segurança, entre outras preocupações.
 
“É complicado operar no Brasil. Fica no hemisfério sul, e há taxas de importação de 30% a 50%. É muito pesado”, reflete.

Contam com uma incubadora de pequenos negócios de retalho nomeada iRetail para incentivar marcas no Brasil, enquanto que as empresas costumam variar os seus relacionamentos com a Iguatemi ao longo do tempo.
 
“As nossas configurações podem variar de franqueado a JV, antes que uma marca assuma o controlo e se torne o seu próprio negócio. A Louboutin, por exemplo, começou como um JV, depois assumiu e voltou a ser uma franquia. A franquia Balenciaga está prestes a ser recuperada de tanto sucesso. Está a abrir a sua segunda loja no Brasil este ano!” observa.
 
Marcas globais como a Sephora e Zara “saíram-se incrivelmente bem, mas a Gap não resultou. A operadora local do grupo não funcionou, assim como as suas marcas próprias”, lamenta.
 


Iguatemi São Paulo - DR


Três quartos britânica e um quarto brasileira, Cristina Betts cresceu em São Paulo, mas fala inglês com sotaque britânico. Depois da Insead, Betts qualificou-se como contabilista, depois trabalhou num banco de investimento antes de se tornar executiva de uma companhia aérea.
 
Em 2008 foi convidada a ingressar no Iguatemi, questionando-se “querem mesmo me contratar? Mas adorei o desafio dos shoppings e do luxo. Foi uma das minhas melhores decisões. Cada dia é um novo desafio”, observa.
 
Betts acabou por ser CFO durante 14 anos antes de se tornar CEO no ano passado. Questionada sobre quem vê como o seu principal concorrente, diz: “Talvez ninguém, pois temos a maioria dos shoppings que carregam marcas de luxo. Em relação ao portfólio todo, o grupo Multiplan  – é de médio a alto padrão.”

Os jornalistas de moda que visitam o Brasil há muito notam a rivalidade entre o clã Auriemo, dono do elegante shopping Cidade Jardim, em São Paulo, e Fasano, a rede hoteleira mais famosa do Brasil.
 
Mas, quando questionada sobre Auriemo, diz: “Sim, têm um bom shopping, mas só um. É mais um incorporador, que constrói o hotel, o shopping ou a casa de fim de semana. A nossa essência é o retalho”, destaca.

Outra tendência que sustenta o crescimento dos shoppings no Brasil é o declínio das ruas comerciais de alto padrão, como a famosa rua Oscar Freire, em São Paulo.
 
“Sim, a Vuitton tinha uma loja lá, mas a maioria das marcas de luxo fugiu. O problema de estar na rua é que não sabe quem serão os seus vizinhos. Então, pode acabar por ter a Topshop ao lado da Vuitton, o que não vai dar certo. Já nos nossos shoppings, coordenamos as marcas de forma muito próxima”, destaca.

“Temos todas as grandes marcas de luxo conosco, mas com uma exceção, a Dior, já que nunca conseguimos encontrar o espaço certo”, diz Betts, antes de acrescentar que algumas das marcas de melhor desempenho foram a Tiffany e Cartier.
 
“A transição da Tiffany para o ouro está claramente a funcionar. É uma marca enorme no Brasil e tem essas novas pulseiras lock. São muito bonitas e instantaneamente reconhecíveis”, observa Betts.
 
Em declarações no Voltaire, em Paris, ao relembrar a sua passagem pelo Iguatemi, Jereissati refletiu: “Quando comecei, há mais de 20 anos, este sector era uma promessa. Hoje está consolidado, crescendo e prosperando. Vocês apostaram no Brasil naquela época, e eu agradeço por isso. Cristina tem feito um ótimo trabalho há 15 anos. Ela sabe muito sobre negócios e estamos muito gratos por a ter na administração”.

Em resposta, Betts observou: “Quando entrei, tínhamos oito shoppings. Redobramos esse número. Tínhamos um punhado de lojas de luxo, agora temos mais de 140. E nosso EBITDA é 10 vezes maior. Assim, gostaria de agradecer ao Carlos, que me ensinou tudo sobre este negócio e instalou em mim a sua paixão pela nossa empresa e por este mundo. Estou aqui há 15 anos e como gosto de dizer ao Carlos, há casais que não ficam tanto tempo juntos!”
 

POR

Godfrey Deeny

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