Debate em reunião do comitê foi sobre sucessão em companhias familiares. No Brasil, só 30% das empresas chegam à segunda geração
Isabela Barros, Agência Indusnet Fiesp
A governança e a sucessão em empresas familiares foram os temas da reunião do Comitê da Cadeia Produtiva da Indústria Têxtil, Confecção e Vestuário (Comtextil) da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), na tarde desta terça-feira (17/5), em São Paulo. O debate foi conduzido pelo coordenador adjunto do Comtextil, Francisco Ferraroli. E teve a participação, entre outros nomes, do vice-presidente da Fiesp e coordenador do Comtextil, Elias Haddad.
“É importante se perguntar como as coisas vão continuar”, afirmou Ferraroli. “Cuidar da governança é a decisão mais estratégica de uma empresa, significa a perenidade do negócio”.
Segundo ele, o tempo passa, a empresa cresce, vínculos são criados e os empresários sonham em ver os filhos assumirem o negócio, o que nem sempre acontece. “Sem querer, pelas dificuldades, pelo que eles ouvem todos os dias, muitas vezes os nossos filhos não querem assumir o negócio”, disse. “Nunca vivemos uma situação tão difícil na indústria têxtil, mas esquecemos de dizer que esses problemas podem ser superados.”
Ferraroli lembrou que, apesar da crise no setor, o proprietário da fabricante e rede de varejo de roupas Zara, o espanhol Amancio Ortega, é o segundo homem mais rico do mundo no ranking da revista Forbes. Com uma fortuna de US$ 67 bilhões, ele fica atrás apenas de Bill Gates. “É uma questão de ter ideias, energia, acreditar que o que nós fazemos é importante”, disse. “Precisamos passar isso para as próximas gerações.”
Prova de que esse cuidado passa longe do cotidiano dos empresários, o coordenador adjunto do Comtextil explicou que os líderes gastam 80.000 horas de sua vida dedicados ao seu negócio e somente “seis horas à sucessão”. “Resolver problemas emocionais que cercam a sucessão é mais difícil do que dar soluções às questões comerciais e financeiras”, disse. “É duro decidir qual filho ou sobrinho será escolhido para assumir a empresa, mas não dá para empurrar essa decisão para debaixo do tapete.”
Nesse contexto, muitos líderes fazem questão de ser sucedidos por pessoas bem preparadas, “mas não dão espaço para essas pessoas crescerem”.
De acordo com Ferraroli, as empresas familiares são maioria em todo o mundo, respondendo por 99% das corporações na Itália, 96% nos Estados Unidos, 95% no Brasil e 70% em Portugal. “Mesmo assim, no Brasil, só 30% das empresas chegam à segunda geração, 15% à terceira e apenas 4% à quarta”, disse. “As empresas Matarazzo, por exemplo, não desapareceram por culpa de nenhuma crise”, afirmou. “O desafio é como passar as chaves do negócio para a geração seguinte.”
Entre esses desafios, está o fato de hoje os jovens estarem cheios de “ideias de alta tecnologia e sonhos de criar uma startup que vai ser vendida por R$ 1 bilhão para a Microsoft em cinco anos”. “Esses jovens esquecem que crescer a partir de uma empresa consolidada, tendo um ponto de partida, pode ser muito bom também”, afirmou.
Seja como for, chegada “a hora H”, junto com a “solidão do empresário, deve ficar a reflexão sobre se a empresa está pronta para a sucessão”. “Precisamos investir na formação de sucessores, acionistas e herdeiros”, afirmou. “A Fundação Dom Cabral, de Belo Horizonte, por exemplo, tem um programa com esse foco.”
Assim, devem ser discutidos assuntos como finanças corporativas, relações interpessoais e outros temas do gênero. “A ideia é que seja realizado um trabalho de formação”, afirmou. “A cada vez que algum de nós abrir espaço, outra pessoa vai ocupar. O mundo não para.”
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