Em se tratando de comércio exterior, uma das vantagens para quem está no dia a dia da prospecção internacional é quando o câmbio está favorável ao exportador. É o que está acontecendo neste momento, quando dólar está mais valorizado em relação à nossa moeda. Essa flutuação do câmbio, contudo, não garante por si só o aumento das exportações brasileiras. Além da mobilização política junto ao governo para efetivar medidas que devolvam a competitividade, a Abit também está fomentando as empresas para promover inovação e sustentabilidade (e sustentabilidade considerando o crescimento economicamente viável, socialmente justo e ambientalmente correto), fortalecendo assim a imagem que a indústria da moda brasileira já tem no exterior. Sim, o Brasil é tido como um país que desenvolve moda ecologicamente correta.
Ter um diferencial como este, no entanto, também não garante uma concorrência mais justa. No concorrido e dinâmico mercado internacional da moda, defender o mercado doméstico da concorrência desleal é justo e deve ser feito na medida certa. Por essa razão, não se pode confundi-la com práticas protecionistas, absolutamente inadequadas no mundo globalizado. A Abit defende que, se a produção e o mercado são globais, os meios de produção também devem ser regidos por uma ética global. Esta posição equilibrada estará na agenda do setor têxtil e de confecção, assim como os temas trabalhistas e tributários, porém, a busca pela inovação tem sido um trabalho diário. Até porque, se uma empresa não é competitiva no mercado doméstico, não o será no comércio exterior. Muitas vezes, o que vemos são empresas que, ao se prepararem para o comércio internacional, adquirindo cultura exportadora, acabam por se tornarem ainda mais competitivas no mercado interno.
O setor vem se preparando há algum tempo para produzir, cada vez mais, produtos com valor agregado e DNA brasileiro. Tenho visitado os principais centros de inovação, design e tecnologia do mundo para fechar acordos de parceria. São centros de excelência no que há de mais moderno para a indústria da moda, porém, seus países (Espanha, Portugal, EUA, Japão) estão produzindo hoje na Ásia e nem sempre se utilizam do que é desenvolvido nesses lugares. Queremos trazer essas pesquisas e know how para o Brasil e, também, parte dessa produção mundial. Afinal, aqui existem 32 mil indústrias, das fibras até às confecções, dos engenheiros aos estilistas. Somos a última cadeia completa do Ocidente. Podemos dar esse importante passo.
Ademais, produzir na China já não é tão barato. Ressurge, ainda, o conceito de que, mesmo na sociedade globalizada, é importante fabricar perto do mercado consumidor. Neste aspecto, sempre é pertinente lembrar: temos no Brasil 200 milhões de habitantes, cuja renda cresceu razoavelmente nos últimos dez anos. O crescimento do varejo, nesse período, abriu espaço para os importados, numa concorrência desleal, mas o varejo precisará cada vez mais de produção perto do consumidor. Por isso, precisamos ser globalmente competitivos, fator fundamental para reconquistarmos nosso próprio mercado interno.
O cenário ainda é difícil. A retomada da produtividade será um dos principais desafios. Temos o RTCC (Regime Tributário Competitivo para Confecção) para defender em Brasília num ano de Copa e de eleição. Queremos convidar para vir à Abit todos os pré-candidatos à presidência e ao senado, individualmente, para discutir os principais problemas que afetam o setor. Além de câmbio, inovação, RTCC é preciso também fazer acordos preferenciais de comércio com os principais compradores globais, para finalmente aumentarmos as exportações.
A indústria têxtil está fazendo a sua parte e, ao mesmo tempo, segue engajada, ao lado de todos os setores produtivos, para melhorar o ambiente de negócios no País. Têm sido rotineiras medidas provisórias do governo alterando as regras do jogo e criando desconfortável insegurança jurídica. De outro lado, os incentivos pontuais e datados não geram otimismo nem prazo suficiente para o empresário poder planejar e investir.
A iniciativa privada, com foco na inovação, eficiência e produtividade, e o governo, com foco na realização de reformas estruturais e estabelecimento de regras claras para a economia, podem e devem promover os avanços capazes de resgatar a competitividade e um crescimento mais substantivo do PIB brasileiro!
*Rafael Cervone, 46, é o presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit).
Por: Rafael Cervone
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Eu sempre digo que exportar e muito bom, pois alem de nos tornar mais profissionais, porque la fora nao tem lugar pra amadores, tambem nos torna mais competitivos e respeitados aqui no brasil
A exportação é imperativa caso pretendamos manter a indústria de vestuário no Brasil.
O tema sustentabilidade é o principal a ser estudado, pois através do preço e da concorrência com o fast fashion não temos condições, pelas inúmeras razões conhecidas.
Nesse mercado onde a busca por produtos sustentáveis será crescente, temos chance de nos colocar se começarmos a nos preparar desde já.
É um mercado que necessita de pesquisa e entendimento que os dividendos não serão rápidos. Aqui será a participação estatal, no financiamento da formação dessa indústria.
A crescente conscientização sobre sustentabilidade inicia-se na ampla discussão do assunto nas instituições de ensino e órgãos governamentais.
Não adianta nos iludirmos que já estamos prontos e sabemos de tudo. Temos que ter a humildade de entender que temos que construir essa indústria, compreender de fato esse mercado, sem o aproveitamento político que muitas vezes retira o foco produtivo , nem a arrogância de pensar que basta fazer uns contatos aqui e acolá que estará tudo resolvido. Temos que ser humildes para entender que não temos uma indústria sustentável no setor têxtil, como foi definido conceitualmente no texto. Não podemos esquecer que exportamos apenas 0,5% do volume internacionalmente comercializado, e portanto, somos crianças no assunto devido a proteção da qual desfrutamos por longos anos e que nos fez acomodarmos, sentando sobre o quinto maior mercado consumidor de têxteis.
Por longos anos industrias se favoreceram de um mercado fechado e não se preocuparam com as aberturas proclamadas no GATT, OMC ou Acordos Multifibras, talvez imaginando que seria possível um acordo estatal para renovar proteção. Pois, bem o mercado está mandando a conta por esse erro estratégico que cometemos e a solução dentro do mercado agora globalizado em que nos inserimos não depende da vontade estatal brasileira, que também sobre pressões na manutenção do fechamento do mercado.
Portanto, ou levamos a sério essa discussão sem faze-la propriedade de algum órgão ou setor , na busca de uma política industrial como se tratou superficialmente no texto, com o envolvimento de todos elos produtivos e formadores de opinião da cadeia têxtil brasileira, numa discussão ampla para a formação de uma opinião nacional; ou vamos arrotar arrogância ao declarar que temos a solução e vamos novamente perder essa oportunidade, e depois chorar que fomos deixados de lado. O passado nos condena.
Sejamos humildes. Vamos discutir o assunto nacionalmente, com todos elos envolvidos na história.
Ficar convocando candidatos para colecionar promessas, e nos colocar apenas como vítimas e esperar que uma proteção estatal e um discurso lúdico sustentável irá resolver...o mundo mudou senhores.
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