O desaquecimento dos mercados europeu e norte-americano reduziu as exportações da China que se voltou para mercados emergentes, como o Brasil
Setor têxtil, um dos maiores empregadores da indústria cearense, hoje já importa cerca de 100 contêineres de produtos da China (EDMAR SOARES )
A chegada maciça dos importados chineses ao mercado brasileiro e o Custo Brasil mudaram a estratégia de muitas indústrias nacionais. No caso do Ceará, empresas exportadoras se viram impossibilitadas de competir em pé de igualdade no mercado externo e, por isso, se voltaram para o mercado interno sem, contudo, fechar as portas para os compradores internacionais.
No Distrito Industrial de Maracanaú, que reúne aproximadamente 88 indústrias sendo que 30 são exportadoras, algumas empresas estão deixando de produzir ou reduziram a produção para importar e distribuir produtos chineses.
“Essas empresas deixaram de exportar também por causa da depreciação do câmbio e do aquecimento do mercado interno”, explica Edílson Teixeira Júnior, presidente da Associação das Empresas do Distrito Industrial (Aedi).
Edílson Teixeira diz que a exportação de produtos manufaturados sofreu um desaquecimento. Concomitantemente, os mercados europeu e norte-americano também passaram a comprar menos da potência asiática. Por isso, a China se voltou para os mercados emergentes, como o Brasil. “Isso prejudicou, inicialmente, nosso setor têxtil (toda a cadeia). O setor metalmecânico veio sentir o impacto logo em seguida, juntamente com o segmento cerâmico que começaram a perder competitividade”, diz.
Para não perder o mercado interno, a solução encontrada, segundo Teixeira, foi reduzir a produção e importar parte das mercadorias. “O setor têxtil, hoje, traz algo em torno de 100 contêineres da China”, afirma.
Triangulação
O segmento calçadista é outro prejudicado com a entrada dos chineses. Mesmo com a criação da taxa antidumping contra o calçado chinês, criada em 2009 pelo Governo Federal, ajudou a reduzir a importação em 22% em 2010 mas elevou a entrada do produto vindo de outros países asiáticos, como Malásia, Vietnã, Indonésia e até de Hong Kong e Taiwan, regiões que quase não possuem fábricas do produto. A Abicalçados suspeita de triangulação, ou seja, o sapato fabricado na China chega ao Brasil com o certificado de origem de outro país e se livra do imposto.
Outro setor no Ceará, o moveleiro, também vem perdendo exportações nos últimos anos.
O presidente do Sindicato da Indústria Moveleira do Ceará (Sindmoveis), Geraldo Bastos Osterno Júnior, lembra que as exportações brasileiras caíram de US$ 1,15 bilhão (2007) para US$ 882 milhões em 2010. No Ceará, a queda passou de US$ 6,33 milhões (2007) para US$ 1,76 milhão (2010). Osterno explica que isso aconteceu por causa do câmbio e da concorrência com os chineses. “Os americanos e europeus, nossos principais clientes, continuam comprando praticamente a mesma quantidade, apesar do mercado não estar crescendo como antes da crise. O problema é que estão comprando dos chineses”, afirma.
E não dá para competir em termos de preço. “Se vendo a US$ 140 os chineses vendem a US$ 100 ou menos. Uma cadeira vendida a US$ 17 nós no Brasil não conseguimos produzir nesse valor, pois não dá nem para comprar a matéria-prima”, diz.
A saída, segundo ele, seria a desvalorização do real, mas a baixa atual Osterno não acredita que se sustente. Aposta em ações do Governo Federal como a desoneração da folha de pagamento (que representa 15% do faturamento total) e a concessão de bônus de 3% a cada unidade exportada. “Mas ainda não é o fim das exportações de móveis”, diz.
O quê
ENTENDA A NOTÍCIA
Empresas cearenses estão deixando de buscar o mercado internacional e se voltando para o interno, antes que a China ocupe esse espaço. Muitas estão, inclusive, importando produtos chineses para garantir o abastecimento
Fonte:|
http://www.opovo.com.br/app/opovo/economia/2011/09/24/noticiaeconom...