Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

O Brasil é uma referência mundial em sustentabilidade quando se fala de algodão.

Recentemente, a série CNN Freedom Project divulgou dados assustadores sobre a indústria têxtil da seda na índia: responsável por movimentar US$ 16 bilhões (R$ 77,9 bilhões), o equivalente a 6% do mercado global, essa indústria utiliza uma prática denominada “trabalho por dívida”, uma forma moderna de trabalho escravo.

 — Foto: Globo Rural — Foto: Globo Rural

Na condição de endividamento, o indivíduo (geralmente mulher) trabalha para pagar uma dívida que nunca acaba através de jornadas de trabalho extensas em locais com estrutura precária. Isso tudo para bancar um mercado luxuoso de consumo, que na maior parte do tempo, ignora a origem do produto.

Apesar de parecer apenas um caso externo e isolado, a associação ao trabalho escravo na indústria têxtil é, infelizmente, uma realidade contemporânea no Brasil. Grandes marcas de roupa no país foram flagradas nos últimos anos ao serem coniventes com práticas de trabalho escravo em pequenas oficinas terceirizadas, geralmente com funcionários imigrantes.

Para monitorar essas relações trabalhistas na moda, a ONG Repórter Brasil criou um aplicativo chamado “Moda Livre”, que monitora denúncias de escravidão na cadeia têxtil e estabelece um score das empresas do setor que atuam para evitar o crime na sua rede de fornecimento.


Se já não fosse o bastante, a indústria da moda também é percebida pelo viés de outro grande vilão: o de geração de resíduos e seu respectivo impacto no meio ambiente. Estima-se que o Brasil descarte mais de 4 bilhões de toneladas têxteis por ano, o que corresponde a aproximadamente 5% do total de resíduos produzidos no país.

Porém, além da quantidade de resíduos descartados, a principal preocupação relacionada à destinação de roupas diz respeito ao tipo de tecidos descartados, os quais são, em grande parte, provenientes do petróleo.

Mais de 60% dos tecidos comercializados no mercado atualmente são produzidos a partir de fibras sintéticas, que são mais baratas, porém mais poluidoras. Tecidos sintéticos, como o popular poliéster, podem demorar mais de 50 anos para se decompor na natureza, e por conta disso, logo se tornam um grande problema nos aterros sanitários.

Fibras sintéticas na moda

Indo na contramão desse risco alarmante, nos últimos anos o uso de fibras sintéticas praticamente dobrou e ultrapassou o uso de fibras naturais. Ainda assim, as fibras naturais (que são biodegradáveis) representadas principalmente pelo algodão, continuam prevalecendo como a principal estratégia de sustentabilidade para a conservação do meio ambiente.

Nesse cenário global de grandes ameaças geradas pela indústria têxtil, a moda consciente representa uma luz frente à crescente demanda e dinâmica indústria fashion. Na prática, a moda consciente se traduz na preferência por produtos socialmente corretos e ambientalmente responsáveis. Consequentemente, vestir sustentabilidade significa principalmente ser conhecedor da origem do produto, desde sua matéria-prima até os fornecedores da sua cadeia de produção.

Uma vez que a cadeia têxtil é uma das maiores geradoras do emprego no país, soluções sustentáveis não consistem em simplesmente em reduzir a oferta de vestuário através de práticas de reutilização como o “upcycling”, mas também, buscar alternativas de produtos que tenham origem confiável e que possam gerar menor impacto na natureza.

Ao analisar o potencial produtivo e econômico brasileiro, logo nos deparamos com um dado que vai de encontro à solução que necessitamos com urgência: Em 2023 o Brasil se tornou o terceiro maior produtor e o segundo maior exportador de algodão mundial.

Foram produzidas 3,23 milhões toneladas de pluma, um aumento de 26,5% em relação à safra anterior. A projeção da ABRAPA para a safra 23/24 é um crescimento de 8,4% na área plantada de algodão, que deve chegar a 1,81 milhões de hectares.

Algodão sustentável

Muito mais que uma potência produtiva, o Brasil é uma referência mundial em sustentabilidade quando se fala de algodão. Na safra 21/22 cerca de 42% do algodão sustentável do mundo foi produzido pelo Brasil. Cerca de 92% do algodão brasileiro é produzido em regime de sequeiro, ou seja, utilizando apenas água da chuva.

Além disso, 82% de todo algodão cultivado no Brasil possui a certificação Algodão Brasileiro Responsável (ABR), uma criteriosa certificação socioambiental composta por 183 itens de atendimento à legislação trabalhista e ambiental.

Em 2021 a ABRAPA através do movimento Sou de Algodão lançou o programa SouABR, iniciativa que rastreia toda a cadeia produtiva de uma peça de roupa e garante origem do algodão certificado, da semente até o guarda-roupa. Este programa oferece transparência no consumo de moda e estimula escolhas mais conscientes.

Através de um QR Code na peça de roupa, o consumidor pode ter a certeza de que o algodão presente naquela peça tem a certificação socioambiental Algodão Brasileiro Responsável (ABR), que entrega à indústria o comprometimento dos produtores com os três pilares da sustentabilidade: social, ambiental e econômico.

Finalmente, podemos afirmar que o Brasil está na vanguarda de sustentabilidade quando se trata de moda. Este ano, durante a 28ª edição da Conferência de Mudanças Climáticas (COP) da Organização das Nações Unidas, que ocorreu até 12 de dezembro em Dubai (EAU), o Brasil apresentará um case de sucesso do algodão brasileiro e como esta matéria-prima biodegradável pode contribuir para o desafio das mudanças climáticas.

Através de camisetas Almagrino, startup mato-grossense de vestuário e do campo (Agrifashiontech), o público teve oportunidade de entender como funciona o programa SouABR interagindo com o QR code impresso no produto, no qual é possível conferir toda a história da peça: fazendas, fiação, malharia e confecção.

Portanto, se você ainda não sabe de onde vem a sua roupa aqui vai uma dica de ouro para as próximas compras: dê preferência às roupas feitas com algodão brasileiro responsável (ABR) e que possuam rastreabilidade, porque assim, você valoriza produtos que adotam os mais altos padrões socioambientais do mercado e que apoia em todos os elos, a cadeia produtiva brasileira.

* Pedro Sávio é sócio-fundador da Almagrino

Obs: As ideias e opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva de seu autor e não representam, necessariamente, o posicionamento editorial da revista Globo Rural.

Por Pedro Sávio*

https://globorural.globo.com/opiniao/vozes-do-agro/noticia/2024/01/...

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