Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Designer brasileira cria coleção inclusiva para pessoas com deficiência

Treze peças repletas de conforto, linguagem de moda e fáceis de vestir.

Eu gostaria de abrir a mente das pessoas para a moda inclusiva“, conta Denise Gonçalves de Sousa, designer que criou uma coleção de 13 peças ideais para pessoas com deficiência sem deixar de lado a linguagem da moda.

Formada na Belas Artes, ela se inspirou na trajetória de vida de seu irmão Ivan, que era cadeirante, para criar sua mais nova coleção. “Convivi 17 anos com ele e pude presenciar a dificuldade para vesti-lo. Foi então que comecei a me questionar e vi que a moda não olha para as pessoas com deficiência”, conta sobre o propósito de suas peças. “Fiz também uma estampa geométrica inspirada no estilo do meu irmão que usava camisas bem estampadas e coloridas, com estilo dos anos 1980”. Apesar de ainda não ter começado as vendas, ela já pode receber uma resposta positiva das modelos que participaram do editorial, e algumas mensagens de pessoas com deficiência que adoraram o projeto.

 

Ela contou à ELLE sobre seu processo produtivo e por que acredita que a inclusão de pessoas com deficiência deveria deixar de ser uma barreira na moda — principalmente nesse novo momento de quebra de estereótipos e preconceitos. Confira a entrevista:

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(Paula Lira/Divulgação)

Você pode descrever como criou sua coleção? 

Primeiramente eu criei um questionário online, e depois participei de um concurso de moda inclusiva, em que perguntei para as modelos as seguintes questões: quais eram as maiores dificuldades para se vestir, como se sentiriam ao saber que existe uma marca que se preocupa com elas, como se sentem em relação à moda, e o que facilitaria na hora de se vestir. Mesmo com as resposta obtidas eu ainda não havia ficado satisfeita, e então passei a abordar todas as pessoas com deficiência que eu encontrava nas ruas, nos transportes públicos, no shopping… Trabalhei diretamente com as modelos, e elas ajudaram e realizar os testes de funcionalidade e conforto em todas as provas de roupas.

“Todas as pessoas reclamavam dos mesmos fatores, ou seja, falta de funcionalidade, conforto e, principalmente, da ausência de inclusão por meio da mídia.”

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(Paula Lira/Divulgação)

Como você foi desenvolvendo as modelagens e estilos de cada peça?

Como eu tive um irmão que era cadeirante, eu presenciava as dificuldades (que não são poucas) de vesti-lo. Ele não se levantava, então era difícil tanto para ele como para quem estava cuidando. Em outras palavras, esse problema afeta a autoestima pelo simples fato da pessoa com deficiência às vezes não conseguir abotoar uma camisa sozinha ou vestir uma saia – e isso pensando apenas nas cadeirantes. Temos as amputadas, pessoas com doenças raras, como a osteogênese imperfeita, que geralmente tem como característica a baixa estatura. Ou seja, a pessoa quer entrar em uma loja e encontrar roupas que a sirvam e que facilitem ao máximo a hora de vestir, o que foi o meu mote para criar a coleção.

“Essa sensação de desencaixe dos padrões atinge todos nós e não apenas as pessoas com deficiência, mas, no caso delas, a sensação é maior por conta da falta de funcionalidade das roupas.”

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(Paula Lira/Divulgação)

A moda está discutindo padrões recentemente, mas de certa forma as pessoas que foram o foco de sua coleção parecem ainda não terem sido incluídas nessa conversa. Você sentiu isso na sua pesquisa? 

Sim, essa sensação de “desencaixe” vem através da mídia e do padrão de corpo que a moda impõe. Essa sensação atinge todos nós e não apenas as pessoas com deficiência, mas no caso delas a sensação é maior por causa da falta de funcionalidade das roupas. Elas não encontram corpos como os delas nas revistas nem nas mídia, além disso a roupa já não é prática e nem confortável, então o único sentimento que resta é o de desencaixe.

E quais foram as suas inspirações para tentar acabar com isso?  

A minha maior inspiração foi o meu irmão, tanto no tema moda inclusiva quanto no desenvolvimento do estilo da coleção. Usei o estilo colorido e geométrico das camisas que ele usava. Como a coleção foi pequena, composta por apenas sete looks, eu convidei três modelos com corpos e com deficiências diferentes, e assim os tamanhos e as peças foram desenvolvidas sob medida para satisfazer suas necessidades — mas elas podem ser usadas por qualquer pessoa. Por exemplo: uma saia longa que desenvolvi para a Letícia Guilherme, que tem osteogênese imperfeita e mede 1,30 de altura, possui três barras pelo fato de que ela possui dificuldade em encontrar uma saia longa que a sirva. Com o modelo que eu criei, ela consegue retirar as barras e adaptar à sua altura. Uma pessoa mais alta que ela consegue usar a saia colocando as barras. Esses foram os pequenos detalhes que eu pensei para conseguir atender todas as pessoas.

“A moda inclusiva não é algo para segmentar, mas sim para agregar.”

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(Paula Lira/Divulgação)

 

Como podemos acabar com as desculpas que a moda ainda usa para não incluir pessoas com deficiência?

Pensando apenas na questão de vestimenta e não de marketing, eu acredito que existe uma parte da moda que realmente não teve a sensibilidade de olhar para essa questão da funcionalidade nas roupas. Alguns não se importam e outros não enxergam o tamanho da necessidade, mas a maioria tem medo de não encontrar público e de não vender. Na verdade isso tudo é por falta de conhecimento, pois a moda inclusiva não é algo para segmentar, mas sim para agregar. Mas olhando para a parte do marketing, eu realmente não entendo o porquê que as pessoas com deficiência não estão nas propagandas, nos editoriais e/ou nas capas de revistas.

Por que você achou importante que todas as roupas pudessem ser usadas por todas as pessoas?

Porque moda inclusiva é isso! Nenhuma pessoa com deficiência vai deixar a sensação de desencaixe usando roupas segmentadas apenas para elas e isso ocorre também com outros grupos excluídos.

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