Destaques da 35ª Casa de Criadores

[Romildo de Paula Leite]

A Casa de Criadores, que acontece em São Paulo, é um evento de moda que tem como objetivo principal lançar novos estilistas brasileiros. Em sua 35ª edição, realizada na Praça do Patriarca, novas marcas apresentaram as coleções para o verão 2015, em três dias de evento. Abaixo, os destaques desta temporada.

Com uma modelagem interessante, que sai do lugar comum, a Ap401 Lucas Barros mostra uma coleção, que transita entre o minimalismo e o lady like, inspirada no tema "praia artificial". A geometria está presente em muitos looks, assim como a feminilidade e sensualidade. As estampas saltam aos olhos, mas é a modelagem que é a grande estrela da passarela. Pregas diferenciadas criam volumes inusitados, que transformam completamente vestidos e blusas. Assim como outros estilistas, o material (couro vegetal e tecido lonado) é a base para a criação. Dividindo sua coleção em 4 blocos distintos, Lucas confirma, mais uma vez, o porque é um dos novos nomes para ficar de olho na moda brasileira.

O minimalismo pode ser traduzido de muitas formas. E a linguagem que Igor Dadona escolheu para traduzi-lo em sua nova coleção é impecável. A marca masculina tem uma imagem atual, que não se prende ao óbvio para criar peças fortes com um trabalho muito bem executado em alfaiataria. Formas geométricas e assimetria ditam o rumo do desfile, que propõe peças inovadoras e um styling nem um pouco convencional. Em alguns looks, estampas aparecem ao lado de bordados com pedrarias, mas em sua maioria, é a textura do tecido que chama a atenção. A silhueta ganha modernidade com a assimetria e sobreposições de peças. Destaque para o macacão em sarja resinada, que traz detalhes interessantes, como uma lapela de blazer e metade de uma saia plissada. Também preciso falar da trilha sonora que, pessoalmente, me cativou em seus primeiros acordes. Para acompanhar os 12 looks, Björk gritava nas caixas de som.

Em um mundo onde as marcas estão investindo em coleções mais comerciais, assistir um desfile conceitual é se fazer lembrar de como a moda pode ser incrível, sonhadora e, porque não, arte. Fugindo de temas, gêneros, medidas e aviamentos, Rober Dognani deixou a matéria-prima falar mais alto em seu verão 2015. Ao contrário de sua última coleção, onde o preto, o prata e o cinza pintaram roupas amplas, a passarela foi toda tingida por looks monocromáticos, com cores que surgiram através de experimentações de pigmentos em tons primários, conseguindo, assim, novas nuances de rosa, verde, lilás e cinza. Além da construção dos vestidos em si, que não contém costura alguma, o desafio de criar algo novo deixou o designer livre para criar novas silhuetas, onde a gaze de algodão com látex vulcanizado ganha vida própria e toma formas inesperadas.

A jovem dupla criativa da Nosotros trouxe as vanguardas artísticas cubanas para as passarelas de verão 2015. Enaltecendo a sensualidade latino americana, Nathan Sousa e Roberto Hideo, criam formas fluidas, com sobreposições de saias e muitos recortes e decotes que revelam a pele. Sem estampas ou texturas, a sarja acetinada, o crepe de seda e a musseline destacam a modelagem das peças, que aparecem em cores puras e iluminadas, fazendo um contraponto com o minimalismo tão visto na temporada.

O tema safári pode até soar clichê, mas Arnaldo Ventura conseguiu fazer uma leitura dele que comprova que tudo que já foi trabalhado ainda pode ser explorado de modos diferentes. Unindo safári com militarismo, o designer mostra uma coleção usável, mas com muita informação de moda. A silhueta mais estruturada e, as vezes, justa ganha leveza com a transparência discreta e a fluidez da seda. Os bolsos estão presentes em praticamente todos os looks e ganham um ar utilitário com a forma de pequenas mochilas com zíperes. Além do caramelo, cor típica do tema escolhido, Ventura ainda investe em um dourado discreto e no roxo-uva, que ilumina e alegra toda a coleção. Os acessórios também merecem destaque. Principalmente os óculos (parceria com a Óticas Ventura) e os colares.

O sportwear dominou mesmo a moda mundial. A referência aos uniformes usados por atletas aparece sem dar tréguas em diversas marcas e temporadas de modas. E Danilo Costa bebeu desta fonte para sua nova coleção. Mas, para sair do clichê, criou um interessante mix com o tropicalismo nacional. Máxi camisetas apareceram estampadas com uma linda padronagem floral; a ala masculina ganha detalhes comuns à moda feminina, o que confere um novo olhar para a criação do estilista. As texturas, como o paetê, a delicada transparência e o uso de tecidos mais estruturados, criam silhuetas amplas interessantes. A moda masculina de Costa chama mais a atenção do que a feminina, surgindo moderna e com sobreposições de peças em um styling impecável. As estampas também merecem grande destaque, tanto a floral com fundo escuro e cores chamativas, quanto as localizadas, com elementos marinhos.

Modelos dançando funk carioca dominaram a passarela de Fernando Cozendey, que trouxe o Brasil como inspiração. A sensualidade está sempre presente nas coleções do estilista, que recria o beachwear de uma maneira nada óbvia, e desta vez não foi diferente. Recortes exagerados deixavam a pele à mostra, babados criavam movimento para as peças superjustas. O rococó se juntou ao funk e Cozendey conseguiu misturar muito bem estas duas referências com estampas e detalhes dos dois mundos distintos. Azul e branco pintaram todos os looks feitos com lycra texturizada, que representavam o jeans, um dos tecidos mais utilizados pelos brasileiros. Fechando o desfile, o próprio estilista aparece vestindo uma "bandeira" com dizeres como "comprometimento, respeito e saúde" em um protesto particular, que foi aplaudido de pé por quase todos que assistiam a apresentação.

Os textos foram, originalmente, publicados no blog Carolina Nazatto.
Fotos: Marcelo Soubhia/FOTOSITE

http://www.brasilpost.com.br/carol-nazatto/destaques-da-35-casa-de-...