Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Foi preciso um ano para que a Dior encontrasse substituto para o infame John Galliano, que ocupava o lugar de director criativo da marca desde 1997. Agora, muitos se questionam. Raf Simons? O nome até já circulava pelos corredores, mas será o belga de 44 anos, que nos últimos sete assumiu a direcção da minimalista Jil Sander, a pessoa ideal para substituir um dos mais extravagantes criadores de moda de sempre e liderar a histórica maison Dior?

A busca começou depois de, em Março do ano passado, Galliano ter sido despedido pela Dior por insultar duas clientes e afirmar o seu amor a Hitler num bar. O vídeo correu mundo e a casa nomeou Bill Gaytten, o braço-direito de Galliano, director criativo interino.

A lista de candidatos ao lugar incluía nomes sonantes como Marc Jacobs, da Louis Vuitton, Alber Elbaz, da Lanvin, Ricardo Tisci, da Givenchy, Sarah Burton, da Alexander McQueen, e até Haider Ackermann, o colombiano que Karl Lagerfeld chegou a cobiçar para a Chanel.

Em Fevereiro, porém, quando Raf Simons se despediu emocionado da Jil Sander, após o desfile na Semana de Moda de Milão, a teoria de que seria ele o sucessor de John Galliano adensou-se. A confirmação chegou na semana passada, culminando negociações que duravam há seis meses. Em comunicado, o grupo LVMH, detentor da Dior, considerou Raf Simons «um dos maiores talentos actuais para prosseguir o trabalho do seu fundador [Christian Dior, que criou a casa em 1946]». Já o belga afirmou estar «entusiasmado e honrado». Na primeira entrevista que deu após a nomeação, ao New York Times, referiu ainda: «Para mim, o impacto mais forte da Dior está nos seus primeiros dez anos. E agora em como ligar isso ao século XXI. Acho desafiante repensar a moda».

Raf Simons apresentará a sua primeira colecção à frente da Dior em Julho, na Semana de Alta Costura, em Paris, e terá, seguramente, o olhar do mundo da moda sobre si. Será o belga capaz de manter no topo a Christian Dior Couture (que inclui prêt-a-porter e Alta Costura de mulher) que, em 2011, apresentou lucros de mais de mil milhões de euros?

À frente do seu tempo

A verdade é que aquilo que John Galliano fez pela Dior – na altura em que o polémico designer entrou, a casa encontrava-se perto da falência –, Raf Simons fez pela alemã Jil Sander. Não é portanto de estranhar que, apesar de não parecer uma escolha óbvia, a expectativa para a primeira colecção do belga seja gigante. «Ele é extraordinariamente talentoso. Combina capacidade e visão com modernidade e um ponto de vista, o que é essencial para liderar uma marca de moda nestes dias», afirmou a editora da Vogue inglesa, Alexandra Shulman.

Filho único, o pai era militar e a mãe empregada de limpezas. Raf Simons cresceu na pequena localidade rural de Neerpelt, na Bélgica, onde o único acesso à cultura moderna acontecia na loja de discos. Era aí que Simons descobria o mundo, através dos álbuns de Kraftwerk e Joy Division. Ainda hoje a música é parte central da sua vida, sobretudo a electrónica. «No coração sou um club kid e não há um dia que passe sem ouvir o Plastikman aka DJ Richie Hawtin. Vi-o a primeira vez quando tinha 20 e tal anos, no I Love Techno, um dos maiores eventos do género na Bélgica, onde vão 60 a 70 mil jovens. Ele é um mestre: é o mais duro, o melhor e tecnologicamente é o mais inovador», disse recentemente à W Magazine.

Bom aluno, os professores quiseram convencê-lo a seguir uma área ‘mais convencional’ como Direito ou Medicina, mas Simons optou por estudar Design Industrial numa cidade vizinha dominada pela indústria automóvel. Terminado o curso começou a trabalhar como designer de mobiliário, mas ao descobrir os chamados ‘Seis de Antuérpia’ – nos quais se incluem Dries Van Noten, Ann Demeulemeester e Walter Van Beirendonck, e que simbolizavam uma forte vaga de design de moda dos anos 80 com origem na Bélgica – despertou para a moda. Até então era uma realidade que não lhe interessava.

Com a ajuda de Linda Loppa, à data directora da Academia de Moda de Antuérpia, conseguiu um estágio com Van Beirendonck e, em 1995, criou a primeira colecção em nome próprio. Não demorou muito para que fosse considerado um dos grandes inovadores da moda masculina.

A sua inspiração esteve sempre intrinsecamente ligada aos jovens belgas. Escolhia os modelos para os seus desfiles nas ruas de Antuérpia e alguns desfilaram para ele durante mais de uma década. E eram mais do que meros modelos: parte do processo criativo passou sempre por pedir opinião a estes homens. Fruto desta postura, as suas criações foram sempre carregadas de mensagens urbanas e referências culturais. A colecção ‘Sometimes You Have to Fight for Your Freedom’ foi mostrada em 2001, pouco antes dos ataques terroristas aos EUA, e vinha já carregada de mensagens anti-globalização e eco-terrorismo. De alguma forma, Raf Simons parece ter estado sempre um passo à frente.

Tímido e recatado, raras foram as entrevistas que deu. Nunca procurou a exposição, mas esta chegou em 2005, quando foi convidado para director criativo da Jil Sander, marca deixada à deriva pela sua própria fundadora e entretanto comprada pelo grupo da Prada.

Pela primeira vez a criar para mulher, Simons redescobriu a alma da marca, sobretudo a partir da sua terceira colecção, para o Outono/Inverno 2007/08, que os críticos consideraram um marco na moda contemporânea. A sua estética minimalista e o uso de cores vibrantes revelaram, uma vez mais, o seu fascínio pelo futuro. «Um desfile com influências literais não me faz pensar nem sonhar. Gosto de fantasiar sobre o que o futuro pode ser em termos de estética e psicologia. Claro que, para tal, preciso de partir do passado», explica.

Na Dior, Raf Simons não terá certamente problemas em encontrar um arquivo de obras passadas que o catapultem para esse sonho de futuro. Mas encontrará outros problemas. O designer que sempre disse não se sentir à vontade nos desfiles, rodeado de jornalistas, fotógrafos e figuras públicas, terá de se libertar da sua timidez e aprender a ser uma estrela. Afinal, é a Dior.

raquel.carrilho@sol.pt

Fonte:|http://sol.sapo.pt/inicio/Vida/Interior.aspx?content_id=47471

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