Do tear à vitrine: Mulheres indígenas unem ancestralidade e inovação no Acre

Mulher indígena artesã da etnia Huni Kuin (Divulgação/Jakob Stolz)
Mulher indígena artesã da etnia Huni Kuin (Divulgação/Jakob Stolz)

ACRE – Os Huni Kuin são a etnia indígena com maior população no Estado do Acre, com aldeias distribuídas ao longo de importantes rios da região como Tarauacá, Jordão, Breu, Muru, Envira, Humaitá e Purus. Em hãtxa Kuin, idioma originário, o nome significa “gente verdadeira” — uma identidade profundamente enraizada em práticas tradicionais, coletividade e transmissão de saberes.

É com intuito de fortalecer essa continuidade cultural que será realizado, até o dia 31 de maio, o “Projeto Casa de Cultura Artes e Saberes Ancestrais”, em territórios indígenas dessa região. A iniciativa é idealizada pelo Instituto Ainbu Dayá e o Coletivo Casa, em parceria com a Rede Igapó, e com patrocínio do Grupo Energisa, por meio da Lei Rouanet.

Artesanato feito pelas mãos das mulheres Huni Kuin (Divulgação/Jakob Stolz)

Na aldeia Novo Natal, no Alto Rio Jordão, no Acre, serão realizadas as oficinas com 44 mestras-artesãs Huni Kuin e suas aprendizes. Ao todo, cerca de 150 mulheres serão beneficiadas em encontros que fortalecem o protagonismo feminino indígena por meio da integração entre técnicas ancestrais e práticas contemporâneas de moda, gestão e empreendedorismo.

O projeto é uma iniciativa de fortalecimento do protagonismo feminino indígena e da troca intergeracional de saberes. Hoje nós estamos aqui, mas daqui a 5, 10 anos, serão elas, as futuras gerações, que ao participar das atividades, descobrirão as funções que querem aprender e trabalhar. A gente está fazendo isso para elas. Somos o primeiro grupo de mulheres indígenas da região a criar uma associação em conjunto, que leva o nome de todas nós porque foi criada a partir de um pensamento coletivo“, explica Rita Huni Kuin, uma das fundadoras do Instituto Ainbu Dayá.

Cerimônia em território indígena na região (Divulgação/Jakob Stolz)
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Programação

Serão 61 horas de atividades aliadas a oficinas de modelagem, corte e costura, pintura têxtil, gestão e desenho de grafismos e plantas que colorem o algodão. Além disso, três mulheres indígenas receberão formação em registro audiovisual, o que vai permitir que elas próprias documentem o encontro sob a perspectiva da comunidade.

Esse é o primeiro projeto que apoiamos por meio da Lei Rouanet em nível nacional com um dos maiores grupos indígenas da Amazônia Ocidental. Trata-se de uma iniciativa que une inclusão, valorização da cultura tradicional e troca de saberes. Nosso objetivo é contribuir para o fortalecimento da autonomia dessas mulheres, para que ampliem suas formas de expressão e criação, conectando seus conhecimentos ancestrais a novas possibilidades. Além disso, incentivamos a produção cultural e a preservação da memória das nossas áreas de concessões, impulsionando a economia criativa”, explica a coordenadora de investimento social do Grupo Energisa, Delânia Cavalcante.

Mulheres indígenas Huni Kuin (Divulgação/Jakob Stolz)

As 44 mestras-artesãs estão sendo cadastradas por meio do Instituto Ainbu Dayá e receberão uma bolsa de incentivo pela participação no encontro — um investimento significativo voltado diretamente para elas. A metodologia das atividades respeita o ensino circular, em que mestras e aprendizes compartilham saberes de forma colaborativa.

Essas mulheres já sustentam suas famílias por meio da arte que produzem. A proposta não é uma capacitação inicial, mas a oferta de novas ferramentas, que ampliam suas possibilidades e fortalecem ainda mais a autonomia e a preservação ativa da cultura Huni Kuin. Entre as mestras-artesãs que estarão presentes está a cacique da aldeia Novo Natal, Ozelia Sales Kaxinawá, 63 anos, referência e conhecedora dos saberes tradicionais do seu povo.

Mulheres indígenas Huni Kuin (Divulgação/Jakob Stolz)

As atividades refletem práticas cotidianas e tradicionais desses indígenas. Logo nas primeiras horas da manhã, as participantes iniciam a fiação manual do algodão nativo — descaroçando, limpando, batendo, abrindo a fibra e fiando à mão. Ao longo do dia, também são colhidas palhas na floresta para a confecção dos txitxã, cestos tradicionais usados para armazenar o algodão. À noite, os encontros seguem com rodas de cantos, histórias e partilhas de saberes, criando um espaço coletivo de escuta, memória e fortalecimento cultural.

A segunda etapa do projeto, ainda em captação, prevê uma exposição e um desfile com as peças criadas — um momento de celebração, visibilidade e conexão com novos públicos. É uma oportunidade também para ampliar os canais de comercialização e valorização desse trabalho. A ideia é que, com o tempo, o projeto se torne autossustentável”, explica o coletivo Casa.

Sobre Instituto Ainbu Dayá

O Instituto Ainbu Dayá nasce da força ancestral e do sonho coletivo das mulheres Huni Kuin dos territórios do Rio Jordão, no Acre. Seu propósito é promover o fortalecimento cultural, a garantia de direitos e a geração de renda para as comunidades. Com raízes na terra e no saber tradicional, o Instituto atua como um elo entre as práticas ancestrais e os novos caminhos possíveis, valorizando a arte, a memória e os modos de vida do povo Huni Kuin. Por meio de parcerias e encontros, constrói-se um futuro onde fiar, tecer e costurar os mundos é também cuidar da floresta, das mulheres e das próximas gerações.

De mãos dadas, mulheres indígenas participam de cerimônia (Divulgação/Jakob Stolz)
Igapó – Projetos Incentivados da Amazônia

A Igapó existe para impactar radicalmente o investimento social incentivado na Amazônia Legal. Já mobilizamos R$25 milhões em recursos de incentivos fiscais para uma das regiões mais ricas e diversas do Brasil – e que menos recebe patrocínio de leis de incentivo. Conectamos grandes investidores a projetos sociais, culturais e educacionais que valorizam a riqueza cultural, natural e ancestral da região, impulsionando a economia criativa local.

Energisa

A Energisa é uma empresa que pensa no futuro desde 1905, pois inovação e empreendedorismo sempre estiveram em seu DNA. São 120 anos realizando histórias e evoluindo relações. Fundada na Zona da Mata mineira, a Energisa é hoje um dos maiores grupos privados com capital nacional do setor elétrico brasileiro. É u, ecossistema de produtos e serviços que conecta pessoas e empresas às melhores soluções de energia e potencializa o futuro do País.

(*) Com informações da assessoria

Por: Cenarium*

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