Todo bom super-heroi que se preze tem que ter algum super-poder inimaginável e incrível, algo que o aproxime do Divino, bem como algum paradoxo existencial, algo que o aproxime do Humano. Trazendo para o campo da Moda Ética, talvez um dos super-herois mais instigantes seja o Doutor Manhattan, da série Watchman, justamente por ser representado como um homem nu.
Criação do incensado mestre da contracultura, Alan Moore, o Dr. Manhattan veio ao mundo das Histórias em Quadrinhos em 1985/1986 – e durou apenas 12 edições, publicadas pelo DC Comics. Dentre todas as facetas interessantes deste personagem, uma nos tange o coração fashion: quanto mais Ciência, quanto mais conhecimento ele ia adquirindo, menos roupas ele passa a vestir. Até que ele fica nu – mas cheio de clarividência e potência intelectual. Aliás, nota de rodapé: foi o primeiro personagem de HQs a ficar nu nos cinemas para as massas (desconsiderando, claro, toda a indústria pornô que coloca os atores vestidos de personagens de HQs).
Todavia o personagem remete, na verdade e precisamente, ao Projeto Manhattan, em que os Estados Unidos desenvolveram bombas atômicas para a Segunda Guerra Mundial. O Dr. Manhattan, cujo nome verdadeiro é Jon Osterman, havia sido trancado em câmaras de teste de física nuclear, nas quais ele fica totalmente desconfigurado. Porém, ao invés de morrer, ele ganha super poderes fantásticos, de força sobre-humana e possibilidade de mudar seu próprio DNA à capacidade de se colocar como uma terceira pessoa e entender toda a verdade da vida em uma perspectiva atemporal (tipo, o supra-sumo da clarividência, telecinese, onisciência). Tudo muito legal. Mas a vida não está fácil para ninguém: o preço que ele paga pelos poderes quase de criação divina o deixa cada vez mais distante do mundo dos homens, isto é, ele vai ficando alienado dos assuntos do cotidiano, incapaz de se relacionar com as pessoas, inclusive com a mulher que ama, Laurie (Silk Spectre).
O “mito” em si do personagem é bastante interessante e nos lembra aquela história do “rei está nu e só os inteligentes conseguem ver suas roupas”. Pergunta: o que será que essas histórias estão querendo nos dizer?
Talvez com tecnologia e imaginação, as roupas sejam desnecessárias. Talvez a proposta do naturismo (as pessoas que andam peladas numa boa) pudesse ser mais introjetada na nossa sociedade, sem tantos tabus do nudismo entre gêneros e idades. Talvez só uma realidade quase apocalíptica (como a do personagem, em alusão aos experimentos da Guerra) nos faça mudar de percepção, nos amplie a consciência sobre o que realmente é necessário. Oras, e o que seria necessário? Conhecimento, claro – e não mais produtos sobre o corpo. Se a nossa percepção mudasse, andaríamos nus com muita sabedoria e respeito. Por enquanto e no entanto, a ignorância nos rege como humanos, muito bem-vestidos, cada vez mais abarrotados de roupas, alienados no consumismo.
Bom, e já que chegamos até aqui, há de ser compartilhada a capa interna do Pulse, álbum extraordinário do Pink Floyd, em que um homem nu e azul paira no ar. A contracultura é mesmo muito bonita. Saudemos os nossos avatares!
http://modaetica.com.br/dr-manhattan-quanto-mais-ciencia-menos-roupas/
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