Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Há muito que o impacto negativo da produção de vestuário deixou de ser segredo para os consumidores que, cada vez mais informados, estão a interiorizar o custo de uma peça para o planeta. O novo estudo do UBS centra-se neste pressuposto e antecipa o futuro da indústria da moda se as vendas de fast fashion baixarem.

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A crescente consciencialização do impacto do sector da moda no meio ambiente, e até mesmo dos danos provocados nas pessoas, deu o mote para o novo relatório do UBS, que tenta entender como esta evolução irá afetar o universo da fast fashion na indústria.

Os analistas do UBS investigaram as perspetivas para o sector da moda descartável e o que um declínio significativo no volume de vendas poderia significar para uma indústria avaliada em 2,5 biliões de dólares (2,07 biliões de euros) em 2017 e que movimenta 3% do PIB mundial.

O estudo do banco de investimento conclui que a moda precisa de uma revisão circular completa em vez de tentativas contidas de optar por alternativas mais sustentáveis. Desde a H&M e Zara à Asos e Gap, as retalhistas estão a acelerar o lançamento de produtos reciclados, a trocar o algodão convencional pelo orgânico e a reduzir o uso de produtos químicos nos tratamentos aplicados aos tecidos.


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Apesar de muitas retalhistas disponibilizarem um serviço de recolha dos artigos que os consumidores já não querem com o objetivo de impulsionar a reciclagem e a reutilização de têxteis, os analistas consideram que falta ainda reduzir claramente as coleções, uma medida que diminuirá de forma significativa o seu impacto ambiental. Produzir vestuário com componentes sustentáveis «é, em grande parte, insignificante em comparação com a quantidade total de peças produzidas e descartas», aponta o relatório, citado pelo Sourcing Journal.

De acordo com o UBS, este será um aspeto ao qual os atores de uma indústria de moda altamente fragmentada terão dificuldade em se adaptar e em implementar soluções que possam responder a este desafio que, se bem-sucedido, levaria a um «declínio de 10% a 30% nas vendas unitárias de vestuário de grande volume e baixo preço nos próximos cinco a 10 anos».

Adaptação possível

Ao não acompanhar a evolução do consumidor, as empresas podem enfrentar críticas por falta de responsabilidade ambiental e social. Uma pesquisa do UBS junto de uma amostra de três mil consumidores, elaborada em março de 2020, mostrou que 55% dos compradores conhecem pessoas que citam razões ambientais e ecológicas como fatores para mudarem o seu comportamento de compra, 9% reduziriam as compras de vestuário se soubessem do impacto ambiental negativo do sector, nomeadamente as emissões de carbono, produtos químicos tóxicos e consumo de água e 18% iriam procurar marcas produzidas de forma sustentável. Não obstante, uma maioria (58%) afirmou desconhecer os efeitos da fast fashion nos ecossistemas e como contribui mais para as mudanças climáticas do que a aviação e os transportes marítimos juntos, avança o UBS. Ou consume até 150 litros de água por quilo no tingimento, com 20% da poluição da água por parte da indústria a ser atribuível ao enobrecimento de têxteis.


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A pandemia fez com que o projeto abrangesse também o bem-estar dos trabalhadores, com marcas como a Boohoo envolvidas em polémicas de exploração em fábricas de vestuário em Leicester, no Reino Unido.

O UBS concluiu que as retalhistas teriam um melhor desempenho com menos pedidos dos clientes do que com a redução da quantidade de compras por cliente. Na prática, uma queda de 20% a 30% no volume de vendas de fast fashion afetaria 3% do lucro operacional médio multicanal por cada queda de 1% nas vendas, indica o banco de investimento, acrescentando que as retalhistas devem compensar a queda nas vendas com cortes nos custos e com o encerramento de lojas, tendo em conta que aumentar os preços é uma «opção improvável» num sector altamente competitivo.

Efeitos no globo

Analisando a indústria de fast fashion na Europa, o relatório descreve a H&M como «favoravelmente exposta», graças aos esforços na área da sustentabilidade com a criação de coleções conscientes. O grupo Inditex, por sua vez, «poderá melhorar a perceção do consumidor relativamente às condições de produção de vestuário e às emissões». O documento destaca ainda que as marcas premium e os preços mais altos da Zalando reduzem a exposição da retalhista à fast fashion, enquanto o posicionamento da Primark no segmento mais baixo não augura um futuro risonho para a insígnia da Associated British Foods, levantando «mais questões sobre como é possível vender artigos tão baratos». Já a Asos apresenta «maior risco», uma vez que tem várias marcas low-cost e se apoia excessivamente no conceito de roupa para sair.


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Nos EUA, a fast fashion é responsável por 20% das receitas dos grandes armazéns, 35% do retalho especializado e 25% do retalho de desconto. As estimativas do UBS apontam para que o sector possa ver a taxa de crescimento anual composta do lucro operacional baixar entre 0,2% e 1,6% se o volume de fast fashion registar uma diminuição de 20% a 30%.

Esta previsão presume que as retalhistas «recuperem 50% dos volumes perdidos de fast fashion noutras categorias de vestuário, incluindo vendas mais altas de marcas que se preocupam com a responsabilidade ambiental, social e corporativa, embora o crescimento fique abaixo da nossa previsão de 2% na indústria», referem os analistas.

O estudo considera que as marcas focadas na responsabilidade ambiental, social e corporativa vão superar as restantes, dado a ênfase crescente dos consumidores na sustentabilidade. Nomes como a Nike e a Deckers, com pouca ou nenhuma exposição à fast fashion, deverão destacar-se.

Contudo, os grandes armazéns como a Macy’s e a Nordstrom provavelmente vão ter dificuldades num cenário de redução de volume de vendas. «Este canal, na nossa opinião, irá perder quota para outros canais com uma melhor proposta de valor, incluindo retalhistas online, de descontos ou especializados e marcas com lojas físicas ou sites próprios», admitem os analistas.

No Japão, a Fast Retailing, empresa detentora da Uniqlo, «diferencia-se das retalhistas de fast fashion ao oferecer vestuário casual básico com um apelo tipicamente mais universal com base na qualidade e funcionalidade do produto», esclarecem os analistas, salientando uma queda anual de 3% no consumo de vestuário no país de 2015 a 2019. A crescente consciencialização do consumidor para a sustentabilidade pode aumentar o declínio para 20% em quatro anos, 22% em cinco anos e possivelmente até 30% em sete anos, antecipa o UBS.

O banco de investimento destaca ainda que as marcas de fashion estão a abandonar a China, com a saída da Topshop e da NewLook em 2018, a que se seguiu a Forever 21 em 2019 e a Old Navy, a Esprit e a Superdry no ano passado. O sector de sportswear da China tem uma exposição limitada a produtos de fast fashion e a queda das vendas nesta área pode ter um efeito de crescimento noutras categorias, como o athleisure, o que deverá beneficiar marcas como a Anta e a Li Ning.

Onde ficam os produtores?

A diminuição da fast fashion terá consequências inevitáveis para os produtores. As confeções de Taiwan, da China, do Vietname e da Indonésia focadas no mercado médio-alto poderão receber mais encomendas se conseguirem chegar às principais empresas de moda com foco na sustentabilidade, menciona o UBS, que realça a posição desfavorável das fábricas de Myanmar e na região de Bengala, focadas na produção para o mercado de massas.

Para os produtores de pequena e média dimensão, o declínio da fast fashion pode ser sinónimo de consolidação da indústria.




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  O banco de investimento destaca ainda que as marcas de fashion estão a abandonar a China, com a saída da Topshop e da NewLook em 2018, a que se seguiu a Forever 21 em 2019 e a Old Navy, a Esprit e a Superdry no ano passado.

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