Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Uma exposição em Nova York reabilita o maior costureiro da América, gênio perfeccionista e temperamental

GÊNIO ONÍRICO, PERSONALIDADE INDOMÁVEL Acima, os vestidos de baile de Charles James, em foto de 1948. Abaixo, uma foto dele em 1952. James impunha sacrifícios estéticos às clientes e as oprimia com seu temperamento áspero – mas todas elas voltavam (Foto: The Metropolitan Museum/ Cecil Beaton/Condé Nast Archive e Metropolitan Museum /Michael A. Vaccaro/LOOK Magazine Photograph Collection, Library of Congress)
GÊNIO ONÍRICO, PERSONALIDADE INDOMÁVEL
Acima, os vestidos de baile de Charles James, em foto de 1948. Abaixo, uma foto dele em 1952. James impunha sacrifícios estéticos às clientes e as oprimia com seu temperamento áspero – mas todas elas voltavam (Foto: The Metropolitan Museum/ Cecil Beaton/Condé Nast Archive)
Charles James (Foto: Metropolitan Museum /Michael A. Vaccaro/LOOK Magazine Photograph Collection, Library of Congress)

No ano passado, o punk e suas roupas rasgadas, furadas, cheias de tachas e correntes dominaram as galerias do Costume Institute, a ala dedicada à moda no Metropolitan Museum de Nova York. A exposição foi um reflexo dos anni horribiles na economia do Hemisfério Norte, vergada pela crise financeira de 2008. Neste ano, o Metropolitan, um dos maiores centros de referência de história do figurino do mundo, optou por resgatar o glamour perdido, sinal de que os humores do mercado fashion refletem a lenta recuperação financeira. Nada melhor, portanto, do que homenagear o maior de todos os costureiros americanos, Charles James, para traduzir a mudança.

Maior, não. James foi o único estilista americano a se dedicar exclusivamente à alta-costura, à arte de fazer – caríssimos – modelos sob medida para madames sem limites no orçamento. Durante os anos 1940 e 1950 do pós-guerra, ele também foi o único a rivalizar com seus concorrentes europeus na conquista da abastada clientela do high society nova-iorquino. O espanhol Cristóbal Balenciaga apontou-o como “o maior costureiro do mundo”. Christian Dior definiu sua obra como “poesia”. Em 1946, um ano antes de Dior mostrar ao mundo seu “New Look”, que revolucionou a silhueta feminina, James já apresentara o tailleur acinturado com saia rodada lotada de panos.

Charles James: beyond fashion abre as portas ao público do próximo dia 8 até 10 de agosto. Uma lista de seletos convidados do mundo da moda e de Hollywood poderá conferir dois dias antes a exposição, na gala promovida pela editora de moda da revista Vogue americana, Anna Wintour. Ela batiza a nova e recém-reformada ala do museu – uma homenagem do Met àquela que mais arrecadou fundos para ele nos últimos 20 anos.

Nascido na Inglaterra, filho de um militar e de uma socialite de Chicago, James começou a carreira desenhando e vendendo chapéus sob pseudônimo, para não macular a imagem do pai, extremamente conservador. Logo se pôs a criar roupas em Paris e Londres. Deu-se conta de que não conseguiria brilhar ante a concorrência europeia. Abriu seu negócio em Nova York, e o sucesso foi retumbante. Vestiu socialites como Babe Paley, Millicent Rogers, Austine Hearst, a senhora Cornelius Vanderbilt Whitney e Doris Duke. Até concorrentes, como Chanel e Elsa Schiaparelli, usaram suas roupas, atraí­das pelo sucesso de um dos gênios de seu tempo.

Gênio indomável, é bom frisar. James podia demorar anos para finalizar a manga de um vestido ou mandar embora uma candidata a cliente por considerá-la cafona demais. “Você não sabe andar”, disse cruamente à amiga de uma condessa que ele não considerava à altura de um vestido. As mulheres sempre lhe perdoavam os ataques de estrelismo. Seus vestidos de baile eram minuciosas obras arquitetônicas, batizadas com temas da natureza: cisne, trevo de quatro folhas, diamante, borboleta. Peças de alfaiataria combinavam-se a drapeados levíssimos, e as formas ganhavam contornos inusitados, como bainhas coladas, bordados espiralados e capas-laçarote. Ao percorrer a exposição, percebe-se é que a verdadeira revolução de James aconteceu no interior de suas roupas: os arames e barbatanas eram dispostos matematicamente, para sustentar suas invenções. Às vezes, para total desconforto de quem as usaria. “Não me preocupo com conforto, mas com a imagem. Dou às mulheres o corpo que elas jamais teriam naturalmente. A alta-costura lhes devolve uma idade que o tempo lhes roubou, e isso tem um preço”, dizia James.

Um preço altíssimo, com que ele mesmo não conseguia arcar. Seu narcisismo criativo era proporcional à incapacidade de gerir seu negócio. James fechava empresas assim que elas faliam e abria outras, com diferentes razões sociais. Para sanear suas dívidas, casou-se aos 46 anos com uma multimilionária americana, que lhe deu dois filhos. Nem ela aguentou a sangria financeira. “Ele preferia trabalhar e retrabalhar um belo vestido encomendado para uma grande festa a vê-lo aparecendo na festa”, afirmou a lendária editora de moda Diana Vreeland. Não raro, sua obsessão por aperfeiçoar suas criações superava o preço cobrado às clientes – a conta simplesmente não fechava.

O sucesso de James não sobreviveu à avalanche jovem dos anos 1960, em que praticidade e conforto substituíram o glamour. Num mundo que trocou os vestidos de baile pelo jeans, não havia mais espaço para seus devaneios oníricos. Ele não teve a sorte de achar um sócio capitalista que transformasse seu nome em marca. Quando encontrava um candidato, a relação terminava nos tribunais. Brigando com meio mundo, processado e perseguido por credores, James fechou seu ateliê e se enclausurou num hotel em Nova York. Lá, vez por outra, dava “master classes” durante as madrugadas, para jovens interessados em aprender suas técnicas. Morreu em 1978, de pneumonia, esquecido e magoado por não ter sido mencionado numa grande exposição, no mesmo Metropolitan, sobre o guarda-roupa de suas famosas clientes. Consciente de sua genialidade, James pedia a elas que doa­ssem seus vestidos a museus para que eles fossem preservados. Graças a essas doações, boa parte deles chegou incólume à exposição do Metropolitan.

http://epoca.globo.com/vida/noticia/2014/05/em-busca-do-bglamour-pe...

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