Repleto de pequenas empresas, setor tenta unir forças para aparar arestas como falta de inovação e globalização
A definição de moda como identidade cultural, artística e comportamental de um país é ampla. No Brasil, ainda mais. Pelo tamanho e importância, o setor é uma potente locomotiva da economia nacional que estima faturar algo em torno de R$ 135,7 bilhões em 2012. São aproximadamente 30 mil empresas formais, boa parte delas de pequeno porte, apenas na cadeia têxtil e de confecção.
Apesar dos números, o mercado da moda no Brasil encara um desafio proporcional ao seu tamanho. Por meio do amadurecimento da gestão, tenta aparar arestas que ficaram abertas por falta de investimentos em inovação e em uma cultura voltada para atender o mercado externo.
A busca por avanços de toda a cadeia produtiva do setor de moda beneficia diretamente as pequenas empresas. Se estiverem estruturadas para atender uma demanda maior, há oportunidades na indústria têxtil, com o desenvolvimento de tecidos mais sofisticados e modernos; na confecção para grandes players do varejo, que podem internacionalizar suas marcas, e até no fornecimento de artesanato para compor coleções de grandes grifes.
Pensando nisso, a meta estipulada pela Associação Brasileira da Indústria Têxtil (ABIT) é promover o quanto antes uma integração maior da cadeia produtiva e, dessa maneira, competir de igual para igual com o mercado estrangeiro, principalmente o asiático.
“Os impactos de eventos econômicos de escala mundial afetam o setor, que precisa entender as novas demandas e exigências de mercado como oportunidades a serem exploradas, principalmente no design de moda praia, fitness e lingerie”, analisa Rafael Cerrone Netto, diretor-executivo da ABIT.
Além da integração proposta pela indústria, há mais ações para beneficiar os empreendedores. “Estamos fazendo uma parceria com o Sebrae, dentro da São Paulo Fashion Week (SPFW), com uma incubadora. A ideia é disseminar conhecimentos de gestão e tentar mostrar aos jovens estilistas e empresários da cadeia o quanto um não funciona sem o outro”, explica Graça Cabral, do Grupo Luminosidade, responsável pela organização da semana de moda.
Ronaldo Fraga, dono da marca que leva o seu nome, endossa essas previsões. “O setor não se fortalece tropeçando. A moda não tem características únicas. Não é só glamour e também não pode ser vista só como negócio. O desafio é trabalhar usando nossos recursos, no nosso contexto, mas com um olhar global, pensando que no Japão, França, Inglaterra e em tantos outros países há marcas fazendo isso e aumentando a concorrência.”
Em Belo Horizonte, onde fica a loja e a fábrica para a produção das coleções, Ronaldo busca alternativas para unir inspiração e administração. “Não é difícil provocar o desejo no consumidor, difícil é transportar material do Pará para compor a coleção que você está fazendo. A logística e os custos do Brasil não ajudam”, afirma. O estilista, assim, menciona um exemplo prático sobre como pequenos empresários do setor acabam prejudicados. “Brinco que nós temos fartura da falta. Falta tudo!”
Embora existam dificuldades, Fraga está otimista. “O Brasil é capaz de chegar a produção em série. Nós temos a mola da criatividade, que dará esse impulso.”
Alguns aspectos, como inovação e sustentabilidade, são essenciais para a moda brasileira voltar a seduzir o mundo. E foi justamente com o foco ajustado para essas exigências mundiais atuais que nasceu, ainda em 1988, O Casulo Feliz. A empresa investiu na produção manual de seda a partir da reciclagem de casulos descartados pela indústria. Uma inovação e tanto!
Além disso, o negócio instalou-se em uma região carente da cidade de Maringá, no Paraná. Lá, foi possível inserir a comunidade pobre e desempregada no mercado de trabalho. “O consumidor de hoje questiona o impacto ambiental e social da roupa que ele usa e não se atentar para isso é ignorar o mercado”, afirma Glicínia Setenareski, responsável pelo design da marca.
Mas em quase 25 anos de atuação, O Casulo Feliz esbarrou em dificuldades. Começou como pequena empresa, cresceu, mas sofreu os impactos das crises econômicas dos últimos anos. Por isso, o negócio precisou adotar nova estratégia: apostou na diversificação das linhas de produtos e criou padrão para exportar.
Está dando certo. Hoje, o material produzido virou linha de decoração e já esteve presente em coleções de renomados estilistas como Alexandre Herchcovitch e a inglesa Viviane Westwood. “Nossa seda tem tanta qualidade quanto a fabricada na Ásia, mas é um processo recente dar uma identidade nacional para ela”, conclui Glicínia.
Andar fora da curva na qual boa parte do mercado está também é importante no comércio, e um bom exemplo é a grife masculina Reserva. A criação da marca foi motivada por um detalhe, conta Rony Meisler, um dos sócios. “Na academia que eu frequentava via as pessoas sempre com bermudas iguais e da mesma marca. Foi quando percebi que ou elas eram malucas ou não havia peças diferentes.”
Sem experiência no segmento, Rony e os amigos investiram em um conceito descontraído, com ambientação jovem para as roupas. Atualmente, a marca já conta com 24 lojas próprias. “Roupa para mim não é arte e sim um produto. A arte eu vejo na comunicação que ela traz”, afirma Rony.
Fonte:|http://pme.estadao.com.br/noticias/noticias,empresas-do-segmento-de...
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