Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Divulgação / DivulgaçãoModelos no desfile de Giorgio Armani: pantalona mais curta promete ser a calça símbolo do outono-inverno 2014

Algo está ruindo no reinado do gênero feminino. E a moda, afinada que é com as mudanças comportamentais, já detectou o fato e o traduziu em peças de roupa e acessórios. A temporada outono-inverno 2014/15, encerrada em Paris na semana passada, mostrou uma crise de identidade feminina que também pode ser notada em outras esferas da sociedade.

O Dia Internacional da Mulher, comemorado no último dia 8, motivou discursos inflamados sobre as conquistas femininas e as mudanças nos papéis sociais de cada gênero. Além disso, explicitou o que ainda é reivindicado por elas. Um exemplo: a campanha "Chega de Fiu Fiu".

Nascida nas redes sociais, a campanha congrega as mulheres para dar um basta às cantadas grosseiras recebidas em locais públicos. A adesão tem sido expressiva.

De acordo com uma enquete on-line, feita com quase 8 mil mulheres, 83% delas disseram se sentir desrespeitadas ao ouvir elogios de desconhecidos enquanto andam pelas ruas. O momento é, portanto, propício para endurecer contra esse comportamento típico do macho latino.

À esquerda, pantalona da Emporio Armani. Depois, modelos da Hermès, Valentino, Chanel e Ferragamo: formas amplas dão o tom da temporada. À direita, modelo da coleção de Valentino: saias também marcam presença

Por outro lado, em uma polêmica entrevista à revista "Veja", na semana passada, a escritora americana Camille Paglia comentou a maneira como as garotas americanas brancas de classe média alta - "que frequentaram as melhores universidades e terão os melhores empregos" - estão se vestindo. "Elas usam roupas sexy, mas seu corpo está morto, sua mente está morta. Elas nem entendem o que estão vestindo", disse Camille, que foi além: "O feminismo cometeu o engano de tentar reduzir a vida feminina às conquistas profissionais".

O resultado disso foi o surgimento de mulheres "tediosas" e sem "mística erótica". Mais estressadas e com jornadas duplas, as mulheres culpam os homens por sua infelicidade. Um erro, na opinião da escritora.

Mas a solução é endurecer e partir para o enfrentamento ou flexibilizar, para rever o papel social? Se a sociedade ainda não tem uma resposta, a moda tão pouco arrisca apontar um caminho. A recente temporada de prêt-à-porter mostrou coleções de pura androgenia chique, como a da Hermès, e de feminilidade sexy, como a da Versace. Houve ainda quem apostasse no estilo boa moça "açucarada", como a Miu Miu, de Miuccia Prada, e no romantismo atualizado, como Dries Van Noten. Impossível, portanto, arriscar uma única direção para a autoimagem feminina.

Com foco nos materiais sofisticados e no corte irretocável, a coleção desenhada por Christophe Lemaire para a Hermès prega que a verdadeira elegância vive nos detalhes de uma boa alfaiataria. Ou seja: vem do universo masculino.

No desfile, chamaram a atenção principalmente as peças largas, que não desenham as formas femininas e ainda acrescentam volume ao corpo. Um caminho parecido - com maior ou menor intensidade - foi trilhado por outras grifes, como Valentino, Salvatore Ferragamo, Fendi, Lanvin e também pelo estilista belga Dries Van Noten.

Mas o belga foi além. Mostrou uma das melhores coleções da semana de Paris, ao retratar uma feminilidade fresca e sem excessos. Dries Van Noten talvez seja o estilista que mais se aproximou de um novo conceito de feminilidade - que não precisa ser vulgar para marcar presença, pode ser feminino sem obviedades.

À esquerda, as saias da Emporio Armani e da Lanvin: elegância contida e pernas cobertas. Depois, modelos de Fendi, Lanvin, Hermès e Ferragamo: visual “black power” esteve presente em quase todas as coleções, de Paris a Milão

Van Noten foi um dos que militaram a favor das saias, mostrando que elas não precisam sumir do guarda-roupa. Afinal, nem só de calças vivem as mulheres poderosas dessa nova década do século XXI. Por isso, as saias, principalmente as médias e longas, foram destaque nas coleções da Lanvin, Emporio Armani, Valentino, Ferragamo, Fendi, além da própria Hermès.

Mas há quem diga que a temporada será dominada pelas calças estilo pantalona, mais curtas que o tradicional, conforme apontaram as coleções da Emporio e da Giorgio Armani, entre outras. Armani apostou forte na modelagem mais ampla e curta das calças, construindo uma silhueta que lembra a das mulheres executivas do fim dos anos 80. Esse visual inclui ternos com paletó soltinho (ombros acentuados) e a cintura levemente marcada - combinação preferida da "power woman". No que depender do sr. Armani, o visual andrógeno vai ganhar da aparência tipicamente "mulherzinha".

Mas se não houve consenso entre os estilistas, houve pelo menos algumas coincidências de ideias. Entre as grifes mais importantes, várias incluíram na coleção pelo menos um modelo inteiramente preto. Fosse na forma de vestido, macacão ou de conjuntos, o visual "black power" deu o seu recado. Uma prova de que mesmo disposta a rever o seu papel no mundo, a mulher não vai querer ceder um milímetro de seu território conquistado.


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Por Vanessa Barone | Para o Valor, de São Paulo

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