Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI
Capixaba, designer de lavanderia e representante de empresas de tecidos e aviamentos, Orivan Baptista construiu sua trajetória com base na paixão pelo jeans e no compromisso com o fortalecimento da cadeia jeanswear nacional. À frente do Instituto Denim Brasil, ele busca promover inovação, conhecimento e sustentabilidade, começando pelo Espírito Santo e com planos de expansão para todo o país. Nesta entrevista, Orivan compartilha sua jornada, a criação do Instituto e os próximos passos desse movimento pelo denim brasileiro.
1. Orivan, para começarmos, como foi sua entrada no universo do denim? O que te levou a seguir esse caminho como designer de lavanderia e representante de empresas do setor?
Minha trajetória com o denim começou ainda na adolescência, em São Gabriel da Palha (ES), quando ajudava minha mãe, que era sacoleira, a escolher roupas para revenda. Ali, percebi minha sensibilidade para moda e o impacto que as escolhas certas tinham nas vendas. Aos 16 anos entrei numa fábrica têxtil, e logo depois fui para uma lavanderia industrial. Foi nesse ambiente que descobri minha vocação: me encantei com o beneficiamento, com o poder de transformar uma peça por meio da química, da estética e da cor. Desde então, mergulhei nesse universo, passei por diversos setores da indústria e hoje atuo como designer de lavanderia e representante comercial, conectando polos produtivos a grandes marcas.
2. Você fundou o Instituto do Denim com um olhar voltado para o Brasil. De onde surgiu a ideia de criar esse Instituto e qual foi o seu principal propósito ao iniciá-lo?
A ideia do Instituto surgiu da vivência com a indústria têxtil capixaba ao longo de 25 anos. Percebi que havia muito conhecimento sendo transmitido de forma oral e prática, sem registro ou apoio institucional. Isso me inquietou. Decidi então organizar esses saberes e criar um espaço que qualificasse profissionais, apoiasse fábricas, orientasse vocações produtivas e valorizasse nossa indústria como um todo. O Instituto Denim Brasil nasce com esse propósito: transformar conhecimento acumulado em ferramenta de crescimento e inclusão, conectando indústria, arte e educação com foco em sustentabilidade e impacto social.
3. O Instituto tem como base inicial o Espírito Santo. Como essa região influencia ou inspira seu trabalho e por que ela foi escolhida como ponto de partida?
Começar pelo Espírito Santo é natural, porque foi aqui que tudo começou para mim. É uma região rica em talento, com fábricas experientes e vocações produtivas incríveis, mas que ainda carece de visibilidade e organização estratégica. O Instituto nasce para mostrar que o interior capixaba pode ser referência em moda responsável e industrialização com propósito. Também temos um carinho especial por outras regiões como a Zona da Mata mineira, mas o ponto de partida precisava ser nosso território de origem, como forma de retribuir tudo o que ele me deu.
4. Quais são as primeiras ações previstas pelo Instituto do Denim no Espírito Santo? Pode nos contar sobre os projetos já em andamento ou em fase de estruturação?
Já iniciamos ações importantes como o projeto do Cobogó Denim, que transforma resíduos têxteis em elementos para construção civil. Também realizamos o Desfile Beleza Negra, que valorizou a cultura afro-brasileira e promoveu inclusão e representatividade. Estamos estruturando uma coleção com 50 looks em parceria com o polo de São Gabriel da Palha, com foco no café e na moda artesanal. Essa coleção servirá como showroom fixo e material educativo. Além disso, envolvemos artesãs locais e promovemos palestras técnicas e criativas em parceria com empresas e instituições como o IFES.
5. Além do foco regional, o Instituto também visa impactar o denim nacional. Quais são os próximos passos para levar essas ações a outras regiões do Brasil? Há estados ou polos já mapeados?
Sim, já mapeamos polos têxteis em Minas Gerais, Goiás, Paraná e Santa Catarina. A ideia é replicar o modelo de ação do Espírito Santo em outras regiões, respeitando suas características e potencialidades. Já estamos dialogando com marcas e indústrias de São Paulo, do Rio Grande do Sul e da Paraíba, com interesse em colaborar com o Instituto. Nossa atuação será em rede, conectando saberes e criando uma plataforma nacional de desenvolvimento e inovação no jeans.
6. Como você enxerga hoje o papel do Brasil no cenário mundial do denim? O que o país tem de mais forte e onde ainda há espaço para crescimento?
O Brasil tem uma das indústrias de denim mais criativas e completas do mundo, com fábricas que dominam todo o ciclo — da fiação ao acabamento. Nosso ponto forte é a capacidade de criar produtos com identidade, storytelling e diversidade. Mas ainda há muito espaço para crescimento na área da sustentabilidade, rastreabilidade e posicionamento global. Precisamos trabalhar a certificação, a qualificação da mão de obra e a comunicação do nosso valor agregado para o mercado externo.
7. Você atua também como representante de empresas de tecidos e aviamentos. Como essa vivência prática com a indústria contribui para a visão estratégica do Instituto?
Essa vivência me permite entender as dores e as soluções da indústria de forma muito real. Converso com lavanderias, confecções, tecelagens e marcas diariamente. Essa escuta ativa alimenta o Instituto com dados concretos, necessidades reais e oportunidades práticas. Ao mesmo tempo, consigo conectar pontas: o que falta em uma empresa, pode sobrar em outra. Isso amplia nossa visão estratégica e faz do Instituto um elo de transformação, não apenas de discurso.
8. O Instituto do Denim pretende também atuar na formação de profissionais? Haverá cursos, workshops ou outras iniciativas para capacitação técnica?
Sim, a formação está no centro da nossa atuação. Vamos oferecer oficinas, cursos técnicos, mentorias e atividades educativas desde o ensino fundamental, para despertar o interesse dos jovens pelo setor. Também queremos capacitar profissionais que já atuam na indústria, com foco em inovação, qualidade, lavanderia, modelagem e sustentabilidade. A ideia é tornar o conhecimento acessível, prático e alinhado às demandas reais do mercado.
9. Sabemos que a sustentabilidade tem sido cada vez mais exigida no setor. Como o Instituto pretende abordar ou incentivar práticas mais conscientes e responsáveis na cadeia do denim?
O Instituto já nasce com esse compromisso. Estamos trabalhando o reaproveitamento de resíduos, a redução de impactos no beneficiamento, e a valorização de materiais e processos sustentáveis. Atuamos também na conscientização das marcas e dos consumidores, mostrando que é possível fazer jeans com menos água, menos química e mais inclusão. Projetos como o Cobogó e o Beleza Negra são exemplos de como a sustentabilidade pode ser aplicada de forma criativa e com impacto social.
10. Para encerrar: qual é o seu grande sonho com o Instituto do Denim? O que você deseja que ele represente para o futuro da indústria jeanswear brasileira?
O grande sonho é ver o Instituto se tornar uma referência nacional e internacional em inovação, sustentabilidade e inclusão no denim. Quero que ele seja uma ponte entre o passado e o futuro da nossa indústria — um espaço onde o saber técnico se encontre com o saber popular, onde moda e responsabilidade caminhem juntas. Que ele inspire novos talentos, apoie pequenos produtores, transforme resíduos em oportunidades e leve o nosso jeans, com identidade brasileira para o mundo.
Fonte: Marlene Fernandes | Foto: Divulgação
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