O ex-presidente Lula (PT) visitou a Unidade de Fios de Poliester da Petroquimica Suape-PE, em agosto de 2010. Paulo Roberto Costa ao fundo da imagem. Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem.
Em tempos de delação premiada, na operação Lava Jato, um funcionário da Petrobras em Pernambuco aproveitou as manifestações de rua do domingo 15 de março para fazer uma delação aparentemente espontânea.
Em plena Avenida Boa Viagem, vestido com uma camisa com a marca da estatal, um funcionário da Petrobras, de 66 anos, diz, em tom de denúncia, em um vídeo gravado no calor da hora, ter conhecimento de supostos desvios de dinheiro de construtoras fornecedoras da Petroquímica Suape, uma das subsidiárias da estatal de petróleo, para a campanha do então candidato ao governo do Humberto Costa, pelo PT, em 2006.
Nesta quarta-feira, procurado pelo blog, o senador Humberto Costa informou que requereu (na terça-feira 24) ao Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) que retirasse da Internet o vídeo, por meio de uma ação cautelar inominada com pedido de liminar, que corre na 19ª Vara Cível da Comarca da Capital. A assessoria informou que a ação foi protocolada no dia 19 de março passado.
O vídeo começou a circular em grupos de WhatsApp na capital pernambucana na segunda-feira 16 de março, logo após às manifestações, mas em nenhum deles havia qualquer menção ao nome e ao trabalho do funcionário na estatal.
VEJA o VÍDEO
Identificado e depois localizado pelo Blog de jamildo, o nome do senhor grisalho que aparece nas imagens demonstrando revolta com os destinos da estatal é Carlos Alberto Nogueira Ferreira. Ele trabalhou diretamente com o ex-diretor Paulo Roberto Costa, no Rio de janeiro, muito antes do agora famoso Paulo Roberto ter sido preso na Operação Lava Jato. Enviado para o Recife, Nogueira, como é mais conhecido, trabalhou como gerente financeiro da Petroquímica Suape, em Ipojuca, entre 2007 e 2013.
“Assinei um cheque de R$ 6 milhões nominativo a Schahin Construtora e outro cheque de R$ 8 milhões nominativo a Odebrecht. Esses R$ 14 milhões de reais em 2006 foram para a campanha do senhor Humberto Costa, candidato a governador de Pernambuco em 2006 e arrecadador financeiro do PT aqui. Quem recebeu o dinheiro em nome de Humberto Costa foi o senhor Mário Beltrão… Ele é o amigo de infância de Humberto Costa, arrecadador financeiro dele. É o ‘PC Farias’ do senador Humberto Costa”, descreve o homem, no vídeo.
“Eu assinei o cheque. Eu sou mandado. O meu diretor era o Paulo Roberto”, contextualiza, na mesma gravação.
Se foram efetivamente pagos, os recursos não foram contabilizados na prestação de contas da campanha do petista, naquela época, de acordo com os dados oficias do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
A Petroquímica Suape foi obra da Construtora Odebrecht.
Além da construção da Refinaria Abreu e Lima, em Ipojuca (PE), no Complexo Industrial Portuário de Suape, a cerca de 45 km ao sul do Recife, a Petrobras também começou a construir em Suape o chamado Complexo PQS, empreendimento composto pela Companhia Petroquímica de Pernambuco (PetroquímicaSuape) e pela Companhia Integrada Têxtil de Pernambuco (Citepe). O complexo industrial produz matéria-prima para produção de poliéster (PTA), polímeros, filamentos de poliéster e resina PET.
A meta ambiciosa do empreendimento era, quando em plena capacidade de operação, ser o mais importante polo integrado de poliéster da América Latina. O Complexo PQS iniciou sua produção de resina PET em agosto do ano passado.
Semana passada, o Blog de Jamildo procurou o funcionário na Petroquímica Suape. A companhia comunicou que ele havia sido desligado da empresa em 2013 e não sabia informar o seu paradeiro, nem mesmo se ele havia pedido aposentadoria. A estatal também se recusava a confirmar que era o ex-gerente financeiro no vídeo gravado na semana anterior.
A reportagem também entrou ainda em contato com a assessoria de imprensa da Petrobras. Depois de três dias de espera, a empresa afirmou que não iria se posicionar sobre as denúncias feitas pelo ex-gerente financeiro.
O funcionário está na ativa e dando expediente na área comercial da Petrobras em Suape.
Nessa segunda-feira (23), Nogueira foi procurado durante todo o dia para se manifestar sobre o caso. Três endereços foram percorridos, entre Recife e Jaboatão dos Guararapes, na Região Metropolitana. O filho do ex-gerente, que mora em um apartamento em Piedade, em Jaboatão, explicou que o pai preferia silenciar sobre o assunto, pelo menos por enquanto.
O rapaz contou que o vídeo havia sido gravado sem o consentimento do pai, embora os autores digam em alto e bom som que estão gravando. Ele acrescentou, entretanto, que o funcionário “não tinha medo” de aparecer ou denunciar “tudo o que sabe”, mas evitaria comentar o caso para evitar uma exposição ainda maior.
“Se ele quisesse falar, ele falava. Ele é funcionário desde 82. Ele é aposentado, mas tem o plano de previdência privada da Petrobras. O que ele fez foi um desabafo, que é o mesmo de todo mundo que trabalha por lá”, disse o filho de Nogueira.
Temendo pela segurança do pai, o rapaz, que é engenheiro civil, comentou que orientou o servidor a procurar os meios adequados para formalizar as denúncias e citou o caso da a ex-gerente executiva da área de Abastecimento da Petrobras Venina Velosa da Fonseca.
Após a circulação do vídeo na capital pernambucana, o ex-gerente da Petroquímica Suape passou a receber ligações “de gente do meio”, com tons de ameaça, conta o filho. “Mas ele soltou os cachorros e disse ‘não me ameacem não, porque se me ameaçar é pior”, relembra.
Nesta terça-feira (24), a reportagem do blog obteve o ramal do servidor, ligou diretamente para a sala do ex-gerente Carlos Alberto Nogueira e o localizou após o horário de almoço, na Petrobras em Suape.
“Fui filmado à revelia. Não tenho o que falar. Já está trazendo problemas na empresa. Em outra hora, se for o caso (eu falo)”, afirmou Carlos Alberto Nogueira, na tarde da última terça-feira.
Na foto, destaque para Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, durante visita às obras da Petroquímica Suape. Foto: Helia Scheppa/JC Imagem.
Bronca com a FUP
No vídeo, o motivo para o funcionário explodir foi o não pagamento de Participação nos Lucros e Resultados (PLR). Na empresa, servidores da ativa e aposentados recebem o benefício.
“A nossa participação nos lucros era paga metade em janeiro, mas não pagaram e não dão a mínima satisfação. Eu liguei outro dia para a FUP (Federação Única dos Petroleiros) e falei com um tal de Chicão (diretor). Eu esculhambei o cara. Se fosse governo de oposição, vocês estavam com carro de som, megafone na porta do edifício-sede, fazendo a maior algazarra. Cadê a minha PLR? Bando de safados e ladrões”, comenta, no áudio.
Humberto Costa e a Petroquímica Suape
Nesta quarta-feira, procurado pelo blog, o senador Humberto Costa informou por meio de sua assessoria de imprensa que foram adotadas as medidas legais cabíveis.
Na campanha estadual de 2006, Humberto Costa concorreu com Mendonça Filho (DEM) e Eduardo Campos (PSB), que acabou ganhando a disputa. Em comum com Humberto Costa, Eduardo Campos havia sido ministro de Lula.
No meio da campanha, um fato chamou a atenção da imprensa local. Na condição de ministro da Saúde, Humberto Costa anunciou a implantação da planta petroquímica, causando grande ciumeira com o candidato governista (Mendonça Filho), que havia participado das negociações para a atração do empreendimento, com a oferta de benefícios fiscais pelo governo do Estado (Ad/Diper).
Mário Beltrão é fornecedor da estatal em Pernambuco e dono da empresa Engeman. O empresário também foi procurado pela reportagem, mas não deu retorno às ligações.
Entusiasta da expansão da indústria petrolífera, Mário Beltrão, ainda no governo Miguel Arraes, defendia a importação de uma refinaria da Romênia, no Leste europeu. Depois, se engajou na campanha pela atração de uma refinaria da Venezuela. Nos meios políticos locais, é apontado como uma pessoa bastante próxima a Humberto Costa.
Beltrão também é citado no pedido de abertura de processo do Ministério Público Federal contra o senador pernambucano. Leia a íntegra ao fim da matéria.
Operação Lava Jato
Além da Refinaria Abreu e Lima, seria a Petroquímica Suape outro braço pernambucano da Lava Jato, exemplos de uso da estatal para financiamento de partidos políticos?
Na denúncia apresentada no dia 30 de março pelo procurador-geral da República Rodrigo Janot, oriunda da Operação Lava Jato, o senador Humberto Costa é acusado de corrupção passiva por supostas irregularidades referentes ao ano de 2010.
A serem verdadeiras as acusações perpetradas pelo delator local, o financiamento ilegal de campanhas para o PT poderia ter começado antes disso, em 2006?
Na foto destaque para Refinaria Abreu e Lima, na Petroquímica, alvo das denúncias do ex-gerente financeiro. Foto: Helia Scheppa/JC Imagem.
Suspeitas de Superfaturamento
No mercado local, o sindicalismo de Suape teria detectado problemas lá atrás. No final de 2011, o Sindtextil, que congrega parte dos operários da Petroquímica, denunciou o suposto desperdício de dinheiro público.
“A previsão de gastos inicial de todo o projeto era de R$ 4 bilhões, mas o investimento já estava na ordem de R$ 7 bilhões e nem chegamos à metade da obra paga com o dinheiro dos cofres do BNDES”, informou Jorge Mário, presidente do Sinditextil, à época.
Em setembro de 2014, foi a vez da Central Única dos Trabalhadores (CUT) local também denunciar que o Complexo Petroquímico de Suape de Ipojuca tinha uma previsão de gastos de R$ 4 bilhões. “No entanto, hoje, já passa dos R$ 8 bilhões”, alertava, reclamando que a empresa subsidiária da Petrobras pagava os menores salários do setor.
LEIA A ÍNTEGRA DO PEDIDO DE INVESTIGAÇÃO DE JANOT CONTRA HUMBERTO COSTA:
Eduardo da Fonte também intercedeu por projeto petroquímico
Em maio de 2013, além de Humberto Costa, outro pernambucano citado na operação Lava Lato demonstrou interesse público no projeto da Petroquímica, o deputado federal Eduardo da Fonte, uma das lideranças do PP no Congresso e também da base aliada do governo Dilma.
A Comissão de Minas e Energia da Câmara recebeu, no dia 22 de maio de 2013, a então presidente da Petrobras, Graça Foster. Durante a audiência pública, que teve o objetivo de discutir o desempenho da estatal, o presidente do colegiado, deputado federal Eduardo da Fonte (PP-PE), pediu a garantia da execução do novo polo têxtil da petroquímica de Suape, em Ipojuca.
“O polo têxtil vai representar mais de 300 mil empregos no estado de Pernambuco. Será o maior projeto social do nosso País”, destacou o progressista.
O empreendimento, liderado pela Petrobras, faz parte de projetos estratégicos da estatal e estava incluído no PAC – Programa de Aceleração do Crescimento do Governo Federal. “Quando estiver em plena capacidade de operação, o empreendimento irá estruturar o mais importante polo integrado de poliéster da América Latina, no Complexo Industrial Portuário de Suape”, defendeu o deputado do PP.
Tenho vergonha de ser conterrâneo deste "senador" Humberto Campos.
Cadê o processo de investigação contra esta desgraça da política Pernambucana,que não anda?
Por favor nas próximas candidaturas deste senhor,lembrem-se do seu negro passado.
Vamos todos nós,protestar contra este senhor nas diversas redes de relacionamentos.