Um estudo do Global Slavery Index da Walk Free revela que todos os anos os países do G20, onde se inclui a UE, importam coletivamente mais de 150 mil milhões de euros de têxteis e vestuário potencialmente produzidos por mão de obra escrava. Países asiáticos, mas também Argentina e Brasil são referenciados.
[©Trafficking in Persons Office USA]
A 5.ª edição do Global Slavery Index refere que os produtos comprados nestes países estão muitas vezes ligados a formas contemporâneas de escravatura. De acordo com os números revelados, há 50 milhões de pessoas que vivem em condições de escravatura, sendo que 28 milhões dessas foram «enganadas, coagidas ou forçadas a situações de exploração». A situação tem vindo a agravar-se, segundo a Walk Free, devido à degradação do contexto sociopolítico, causada não só pela pandemia, mas também devido a conflitos armados, problemas ambientais, ataques à democracia em vários país e retrocesso nos direitos das mulheres.
«A escravatura moderna permeia todos os aspetos da nossa sociedade. Está entrelaçada nas nossas roupas, liga os nossos aparelhos eletrónicos e tempera a nossa comida. No fundo, a escravatura moderna é uma manifestação das extremas desigualdades», sublinha Grace Forrest, cofundadora da Walk Free, na introdução do estudo.
Trabalho forçado na ITV
O estudo refere que, com a ascensão da fast fashion, os países do G20 estão atualmente a importar anualmente 148 mil milhões de dólares de vestuário e 13 mil milhões de dólares em têxteis que potencialmente podem ser produzidos com recurso a mão de obra escrava.
O problema começa nas matérias-primas, seja na colheita do algodão em países como Benim, Burkina Faso, China, Cazaquistão, Paquistão, Tajiquistão, Turquemenistão e Uzbequistão, ou na produção de fibras artificiais como a viscose. O relatório exemplifica que a produção de casulos de bichos da seda «tem estado associada a trabalho forçado no Uzbequistão, enquanto em Myanmar, as crianças têm experienciado trabalho forçado em plantações de borracha».
O processamento destas matérias-primas está igualmente repleto de exemplos de trabalho forçado, garante o estudo. «Os riscos de trabalho forçado e infantil segue das matérias-primas para a produção de têxteis, em particular em países da região da Ásia-Pacífico. O trabalho forçado está documentado em grandes países exportadores como a China, onde os Uigures e outros grupos muçulmanos e falantes de turco têm sido forçados a trabalhar na produção de têxteis. No Sul da Índia, recrutadores oferecem a raparigas e jovens mulheres oportunidades de emprego em fiações, onde recebem apenas no fim do contrato. Esta prática, conhecida como um esquema Sumangali (mulheres casadas), obriga as raparigas e mulheres – muitas delas migrantes ou de castas inferiores – a trabalhar até ao final do contrato ou então a arriscarem perder o valor que acumularam», explica.
O mesmo acontece nas confeções, também sobretudo com mulheres, que ganham salários muito mais baixos do que os homens. «No Camboja, as raparigas e mulheres são quase 80% da força de trabalho da indústria de vestuário. Contudo, ganham menos 13% do que os trabalhadores homens. Da mesma forma, na Croácia, as mulheres representam 89% dos trabalhadores da indústria do vestuário, apesar de receberem um salário líquido significativamente inferior. No sector de vestuário em rápido crescimento da Etiópia, os trabalhadores recebem os salários mais baixos em comparação com outros países exportadores de vestuário, em parte devido à ausência de um salário mínimo para os trabalhadores do sector privado. Há trabalhadores na Etiópia a ganharem 0,12 dólares por hora, para além de terem deduções salariais como punição, abusos verbais e horas extra forçadas», aponta o Global Slavery Index.
Numa avaliação final, o estudo aponta os países onde há mais risco dos produtos serem produzidos com mão de obra forçada, que no caso dos fios e linhas são a China e a Índia, no caso dos têxteis são a China e a Coreia do Norte e no vestuário a lista inclui Argentina, Brasil, China, Índia, Malásia, Tailândia, Vietname e Bangladesh.
Recomendações para os governos
Para tentar contrariar estes números, o relatório da Walk Free deixa cinco recomendações aos governos, a começar pelo reforço da legislação para que haja transparência na cadeia de aprovisionamento, nomeadamente o dever de diligência por parte das marcas, incluindo aqui a identificação dos riscos da cadeia de aprovisionamento e o assumir de passos adequados para responder aos mesmos.
Uma segunda recomendação passa por fazer inspeções laborais regulares para identificar práticas de exploração dos trabalhadores, assim como proteger o direito de associação e as negociações coletivas.
Assegurar que o salário mínimo nacional corresponde ao valor necessário para uma vida condigna é a terceira recomendação, seguida pelo apoio aos países produtores para responderem às questões de escravatura, ao mesmo tempo que impedem a importação de produtos feitos com mão de obra forçada.
A última recomendação é criar formas de reparação para os trabalhadores explorados.
https://portugaltextil.com/escravatura-produz-milhoes-em-texteis-e-...
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