Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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ESGtex reúne grandes players do mercado para falar de sustentabilidade na moda

Muito se tem falado sobre a sustentabilidade na moda, críticas ao greenwashing, muito marketing e pouca prática. Mas o que realmente as grandes empresas do setor vêm realizando e avançando em suas metas? Quais os desafios e o que ainda precisa ser feito? Essas foram as discussões apresentadas durante o Moda & ESG, que aconteceu no último dia 27 de novembro, em São Paulo.

O evento comandado por Américo Guelere, contou com quatro painéis reunindo grandes players do mercado como C&A, Renner, Azzas 2154, Emphasis e Capricórnio Têxtil. 

A circularidade na produção, redução de emissões, uso de matérias-primas sustentáveis e políticas públicas foram alguns dos temas debatidos.

“Não havia até então, um fórum de discussão que fosse totalmente dedicado ao tema da agenda ESG na indústria da moda, sendo os temas correlatos abordados de forma secundária, nos painéis de conteúdos que ocorrem de forma paralela às principais feiras do setor no Brasil”, comenta Américo que desde a infância se interessou pelo assunto e foi se especializando ao longo de sua vida profissional como engenheiro, professor, consultor de empresas e empreendedor, com experiência na sustentabilidade corporativa e economia circular.

O compromisso da ESGTex é promover um futuro melhor para a indústria brasileira, onde práticas sustentáveis sejam a norma e não a exceção. O objetivo é ajudar as empresas e profissionais a adotar uma abordagem mais responsável e inovadora.

O primeiro painel abordou a Gestão da agenda ESG na indústria da moda com Cyntia Kasai, Gerente Senior ESG, PR e Comunicação da C&A, Eduardo Ferlauto, Gerente Geral de Sustentabilidade e Diretor Executivo do Instituto Lojas Renner e Suelen Joner, head de Sustentabilidade no Grupo Azzas 2154. Cada um apresentou as práticas sustentáveis pelas quais as empresas trabalham.

Segundo Cyntia da C&A, há muitos desafios por parte da cadeia de moda em geral e dos consumidores, porém, com persistência, muito estudo e tentativas de dar certo, eles seguem rumo às metas para 2030, que são:

Ser líder na utilização de matérias-primas mais sustentáveis – com foco em viscose e poliéster, sempre com um custo acessível, chegando no mesmo valor de um produto convencional. E olha, que legal: 100% do jeans do magazine já é produzido com algodão mais sustentável.

Inovar e conectar princípios de circularidade no negócio e no produto. A meta é trabalhar com 50% de produtos que tenham princípios da circularidade. Outra ação super importante destacada pela profissional é o Movimento ReCiclo com urnas espalhadas pelas lojas onde as pessoas podem depositar roupas usadas, que não querem mais. Já foram coletadas mais de 60 mil peças que vão para reúso, reciclagem e upcycling e uma parte vai para o Instituto C&A Em relação ao jeans, ele é desmontado, desfibrado, produzido um novo fio e um novo tecido. Segundo Cyntia, demorou três anos para os consumidores entenderem a função das urnas. A empresa trabalhou bastante na comunicação. Isso prova que a sustentabilidade dá certo, mas é preciso ser resiliente e superar os desafios.

Buscar a eliminação da poluição plástica: modificaram as embalagens e conseguiram retirar 82 toneladas. A meta é reduzir em 50% o plástico de uso único. O maior desafio é o saquinho transparente que envolve a roupa dentro da embalagem do e-commerce. Segundo Cyntia, eles sempre realizam pesquisas pois a percepção do cliente na ponta é fundamental.

Promover a equidade na liderança – inserir mais mulheres na alta liderança, continuar incentivando novos talentos, voluntariado e o Fashion Futures, programa de reconhecimento do Instituto C&A que premia as pessoas que fizeram a diferença com impacto positivo na moda.

Promover a diversidade na liderança – maior inclusão de negros e indígenas para altos cargos.

Um dos grandes desafios abordados pela profissional foi como dar escala para todo o processo de matéria-prima mais sustentável e circularidade para que o consumidor possa perceber, pois, esse fator não é decisão de compra. Segundo Cyntia, é preciso gerar um “inconsciente intangível”.

“A C&A tem um propósito que é promover uma moda com impacto positivo. A gente acredita que a moda é um lugar de expressão, de liberdade, onde cada um a utiliza para poder expressar o melhor de si. E ela vem com muita qualidade, versatilidade, estilo, mas também com muita sustentabilidade. Temos um propósito muito grande de, cada vez mais, promover essa moda com impacto positivo e isso passa pela nossa estratégia, por compromissos públicos até 2030, com temas definidos para seguir na mudança da cadeia. A C&A entende que é o elo mais forte dentro dessa rede de fornecimento e ao propormos novas réguas, novas abordagens e requisitos, realmente conseguimos promover toda a mudança, desde a matéria-prima, passando pelo processo produtivo e até colocando esse produto nas lojas e dando sequência ao ciclo de vida dessa peça. Temos um olhar amplo, mas também sentimos uma responsabilidade muito grande de provocar essa mudança, sempre mantendo a transparência e a ética. Nosso grande desafio para o futuro é conseguir fazer com que o cliente perceba o valor. Hoje, ele pesa se o produto que está adquirindo vale o preço cobrado pela questão de moda e qualidade, mas, ele ainda não conseguiu inserir o elemento da sustentabilidade nesse fator de escolha. Nosso desafio é conseguir conscientizar, trazer mais informação, para que ele também tenha sustentabilidade como um item de escolha no momento da sua compra”, afirma Cyntia.

Da esquerda para a direita: Eduardo Ferlauto, Gerente Geral de Sustentabilidade da Renner; Cyntia Kasai, Gerente Sênior ESG da C&A Brasil; Américo Guelere, Fundador da ESGtex; Suelen Joner, Head de Sustentabilidade da Azzas 2154

Cyntia conta que a C&A tem princípios fortes para gerar a circularidade e, por isso não produzem a mais para realizar um outlet, por exemplo. Eles vêm adaptando toda a área de desenvolvimento de produto e coleção com velocidade. “Fazemos a captura de tendências de produto, produzimos uma pequena quantidade, colocamos nas lojas e testamos. Se deu aceitação, a gente escala, não deu aceitação, é uma quantidade que dentro de um momento de liquidação, a gente consegue zerar esse estoque. Então, todo esse relacionamento com a cadeia, toda a questão de aumentar a velocidade de produção e conexão dos nossos produtos, está fazendo com que tenhamos esse movimento para reduzir o excedente que não está vendendo”, diz Cyntia.

As peças que realmente sobram ou que tem avarias, são doadas para o Instituto C&A que destina aos bazares para realizar pequenos ajustes e uma venda social. As peças que estão boas são vendidas, de alguma forma, dentro das liquidações que acontecem ao decorrer do ano, fazendo com que o estoque tenha um ciclo de vida bem curto.

E como unir a cadeia? A C&A tem mais de 25 anos de trabalho e de engajamento com a cadeia e com uma história muito bonita com fornecedores que cresceram ao longo do tempo e o magazine ajudou nesse crescimento e profissionalização. “É um trabalho em conjunto e a longo prazo. Aceitamos somente os parceiros que estejam engajados nesse propósito”, comenta Cyntia.

Para Cyntia, ter novos players no mercado é positivo, porque propicia sair da zona de conforto, repensar seus processos e até verificar o que estão fazendo de interessante para evoluir. Os resultados financeiros que a C&A vem apresentando nos últimos trimestres confirmam que a empresa está no caminho certo, com uma aceitação e uma conscientização de valor percebido do produto muito alto, por parte dos clientes.

E qual o maior desafio para se produzir um jeans sustentável? Segundo Cyntia, é o engajamento com a cadeia, unindo a matéria-prima, passando pelo design e o processo de lavagem e tingimento que são mais impactantes com uso intensivo de água e químicos e o uso de energia. Então, a C&A olha com cuidado para esses processos produtivos e eles vêm conseguindo ter uma evolução bem satisfatória.

Avançando na jornada da sustentabilidade, Eduardo da Renner destacou os pilares da companhia, que desde 2016 divulga os ciclos estratégicos de moda responsável: a cada 10 produtos vendidos, 8 são mais sustentáveis, 97,7% das roupas são de algodão certificado, 94,7% de viscose sustentável proveniente da madeira. Além disso, a empresa apoia o desenvolvimento e a qualificação dos fornecedores para a melhoria de desempenho e temas ESG. Dentro da Rede Responsável, 100% dos fornecedores da cadeia de jeans são certificados na metodologia Pegada Hídrica, 51% dos produtos na cadeia do jeans são classificados como baixo consumo de água, 37% do programa são abastecidos por energia renovável de baixo impacto, 36,% enviam 100% de seus resíduos têxteis para reciclagem. Uma das metas até 2030 é comprar de fornecedores A+, com alta performance ambiental.

Suelen da Azzas apresentou as marcas do grupo e os projetos de sustentabilidade e disse que infelizmente no Brasil, não há um centro de desenvolvimento para testar as melhorias em processos mais sustentáveis. Segundo a profissional deve haver soluções coletivas, não somente individualizadas de cada empresa. “O distanciamento da cadeia acaba fazendo com que cada etapa se desconecte, precisamos superar essa barreira numa construção coletiva, estar mais próxima de todo o elo da cadeia”, comentou Suelen que também concorda que o grande desafio é fazer perceber o valor da sustentabilidade no ponto de venda aprendendo a comunicar algo que gere valor agregado, algo para o dia a dia das pessoas.

Suelen Joner, Head de Sustentabilidade da Azzas 2154

Para Cyntia, faltam políticas que incentivem a sustentabilidade. No jeans conseguiram evoluir de modo mais rápido com o apoio de parceiros como a Cotton Move que recicla roupas e tecidos. Segundo os profissionais, o setor precisa se ajudar. Para Eduardo, é preciso repensar o processo de design, do ponto de vista estratégico, para aproximar o desenvolvimento da peça a processos mais sustentáveis. Outra questão levantada pelo gerente da Renner é sobre a moda autoral do Brasil, sem seguir tendências que, só fazem sentido em outros países. “É um trabalho de conscientização do nosso design começando com coleções cápsulas, utilizando matérias-primas mais sustentáveis“, disse Eduardo.

No painel sobre Fibras, Fios e Circularidade, estiveram presentes, Wanderley Kawabe, sócio da MMY e Gabryella Mendonça, Supervisora de Sustentabilidade da Capricórnio que destacou a linha Eco Denim da têxtil que teve um aumento de 57% no faturamento em relação a 2022. A empresa investe também em soluções como uso de água da chuva no processo de tingimento e caldeiras de biomassa.

Wanderley comentou que seu sonho é ter alguém de estilo pensando sobre os tecidos com fios reciclados, não viver só de coleções cápsulas, ter todo ano, uma coleção de produtos sustentáveis.

No painel Gestão de Químicos, Marcelo Lobo, Executive Country Manager do ZDHC Brasil destacou a importância da transparência e controle de processos para minimizar impactos ambientais. Segundo ele, a integração de práticas sustentáveis na cadeia têxtil é essencial para a competitividade global.

O último painel abordou a Diversidade, Equidade e Inclusão com Dafne Panatieri, especialista em D&I e Impacto Social, da Azzas 2154 e Bruno Luz, gerente de sustentabilidade da Renner.

Dafne apresentou as estratégias de Diversidade e Inclusão do grupo – Cultura de Diversidade e Inclusão: promover uma cultura de atuação baseada no respeito, inclusão, equidade e valorização da diversidade, combatendo todas as formas de discriminação e preconceito dentro e fora do Grupo AZZAS 2154. Equidade de Oportunidades: garantir que todos tenham acesso às oportunidade de desenvolvimento e crescimento na companhia através da construção de políticas capazes de minimizar obstáculos, sejam eles decorrentes de questões individuais ou sociais, reconhecendo as desigualdades para promover a justiça social. Representatividade de todos os públicos: promover um ambiente de trabalho que seja representado pela diversidade da população, onde as diferenças de cultura, raça, gênero, idade, ideias, sejam acolhidas e respeitadas.

Dafne abordou as ações e produtos de algumas marcas do Grupo como a linha de roupas adaptada para pessoas com deficiência, produzida pela Reserva, a campanha do Dia dos Namorados também da Reserva, com casais diversos.

Bruno, da Renner abordou os compromissos para 2030 com metas como, 50% dos cargos de liderança ocupados por negros, 55% dos cargos de alta liderança ocupados por mulheres. A empresa mantém diversos programas que auxiliam os colaboradores como o contra a violência doméstica, com suporte e acompanhamento da vítima, aceleração de carreiras, empoderamento do grupo de afinidades raciais, entre outros.

Da esquerda para a direita: Renato Souza, Diretor de Sustentabilidade Corporativa da PwC; Dafne Panatieri, Líder de Diversidade e Inclusão da Azzas 2154; Américo Guelere, Fundador da ESGtex; Bruno Luz, Gerente de Sustentabilidade da Renner

Por fim, Américo nos conta, com exclusividade, sobre como as marcas brasileiras – as pequenas, médias e grandes – que estão avançando em relação a aplicação do ESG nas empresas.

“Em relação “S”, devido às leis trabalhistas e ao Programa da Associação Brasileira do Varejo Têxtil (ABVTEX), podemos dizer que vem avançando de forma sólida nos últimos anos, embora a quantidade de empresas com o Selo ABVTEX, por exemplo, seja ínfima perto da quantidade de empresas existentes no setor. No tocante ao “G”, as grandes empresas têm evoluído muito e rapidamente na estruturação de sua governança socioambiental, mas as micro e pequenas empresas passam longe da adoção de melhores práticas dessa natureza. E em relação ao “E”, pode-se dizer que as médias e grandes empresas atendem aos requisitos ambientais prescritos em leis, o que já é mais raro no universo das micro e pequenas. Em complemento, as leis ambientais brasileiras não contemplam, ainda, aspectos relacionados a, por exemplo, gestão de resíduos têxteis, responsabilidade estendida do produtor e circularidade, o que faz com que as empresas não tenham estímulos concretos para avançar com sua agenda junto a esses temas. Esses estímulos tão pouco têm origem nos consumidores, que não vê nos atributos ambientais um estímulo ao consumo. Nesse contexto, podemos dizer que a adoção da agenda ESG pela indústria da moda nacional avança lentamente, pois não conta com os estímulos das leis e dos consumidores”, finaliza Américo.

Fonte: Vanessa de Castro | Foto: Divulgação

Por: Equipe Guia JeansWear

https://guiajeanswear.com.br/noticias/esgtex-reune-grandes-players-...

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