Ao mesmo tempo, o futuro das exportações no setor vai depender do que a China pretende fazer com o elevado estoque do produto que acumula há três anos, a diminuição do consumo per capita e a concorrência das fibras sintéticas, a exemplo do poliéster e o nylon.
O quadro de alertas da economia do algodão no Brasil e no mundo foi traçado ontem por uma das maiores autoridades do segmento no primeiro dia do 9º Congresso Brasileiro do Algodão – Terry Townsend, diretor executivo do Comitê Consultivo Internacional do Algodão (ICAC na sigla em inglês), entidade criada em 1937 que representa os interesses da cadeia produtiva do algodão em nível mundial.
“Os produtores de algodão do Brasil conseguiram reduzir os custos de produção, mas a produtividade está parada”, assinalou Townsend, ao apontar que, de acordo com levantamento do Banco Mundial, o País oferece um cenário bastante desfavorável a quem quer empreender. “Estamos numa situação desconfortável”, afirmou.
Preferência do consumidor
Em contrapartida, Terry Townsend apontou que são boas as expectativas para o consumo doméstico do algodão, como toalhas, inclusive com o registro de crescimento desse material nos Estados Unidos.
Para Townsend, a pior atitude que os integrantes da cadeia do algodão podem ter diante desse cenário, é fingir que os problemas não existem ou adotar uma "atitude fatalista" diante da crescente perda de competitividade do algodão. "O futuro do algodão será determinado pelas decisões que tomarmos como uma indústria", alertou o diretor executivo.
O diretor-executivo do ICAC apontou o surgimento de novas lideranças do algodão entre produtores e profissionais de mercados de países como o Brasil. Independentemente da nacionalidade desses novos líderes, Townsend reafirma sua certeza de que as pessoas mais responsáveis por liderar esse processo de ressurgência do algodão serão os agricultores.
A ameaça da China
O dirigente do ICAC afirmou que a China vem adotando uma política de aumento de estoques – 10 milhões de toneladas - que tem mantido o preço internacional do algodão em patamares elevados, apesar da queda internacional do consumo e da produção do produto. “Essa é uma política insustentável”, classificou, reclamando que isso gera instabilidade no setor, deixando os investidores sem saber definir como investir.
Presente na exposição, o sucessor de Townsend no ICAC, o brasileiro José Sette afirmou que não é possível ter uma bola cristal para saber os próximos passos dos chineses. Não se sabe, por exemplo, conforme mencionou, quanto a China vai comprar para aumentar seus estoques, que são suficientes para influenciar o preço internacional do produto.
Também participaram das discussões Gilson Pinesso, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) - órgão promotor do congresso -, Ivan José Bezerra de Menezes, da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), e Antônio Esteve, conselheiro da Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea).