A avaliação metrológica é essencial para proteger o trabalhador de queimaduras e evitar que produtos sem certificação sejam comercializados.
Sendo um direito previsto em lei, os EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) são acessórios fundamentais para a segurança física do trabalhador e precisam ser submetidos à testes rigorosos, que comprovem a sua funcionalidade. Entre eles está o ensaio de flamabilidade, ou de fogo repentino, realizado de maneira exclusiva, na América Latina, pelo Instituto SENAI de Tecnologia Têxtil e de Confecção (IST), do SENAI CETIQT, desde 2016, o único laboratório certificado pelo INMETRO.
O ensaio é feito em uniformes utilizados por trabalhadores das plataformas de gás, petróleo, química e petroquímica. O objetivo dele é avaliar a capacidade de proteção que o tecido, usado para compor essas peças, oferece ao profissional durante o expediente, quando ele é exposto ao fogo repentino, que são chamas intensas e de rápida duração.
Compostos por macacão, calça e camisa, os uniformes antichamas são equipamentos de proteção individual essenciais, que possibilitam a saída do trabalhador de espaços que estejam com foco de incêndio. Dessa forma, a partir da utilização adequada e da realização da devida análise técnica nesses materiais, a chance de prevenção contra queimaduras torna-se maior.

Para diminuir o risco de ocorrência de acidentes e evitar que produtos adulterados cheguem até os trabalhadores na indústria, é indispensável que o ensaio de flamabilidade seja realizado em vestimentas antichamas antes de sua comercialização. Por meio desse teste, é possível verificar se as normas de segurança exigidas pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) estão sendo respeitadas. Caso o resultado seja positivo, o MTE fica responsável por emitir o Certificado de Aprovação (CA), documento que corrobora que o equipamento foi aprovado nos testes necessários.
De acordo com a especialista em segurança do trabalho e presidente da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA) do SENAI CETIQT, Daniela Guerra, a adulteração de equipamentos de proteção individual é capaz de provocar efeitos negativos aos trabalhadores:
“EPIs falsificados podem não oferecer a proteção necessária contra os riscos específicos do ambiente de trabalho, como proteção contra produtos químicos, fogo, quedas, ruídos, entre outros. Isso expõe os trabalhadores a perigos reais e aumenta o risco de lesões e acidentes.”, afirmou Daniela.
Mas afinal, você sabe como é feito o ensaio de flamabilidade?
Preparação e execução do ensaio de flamabilidade
Durante o ensaio de flamabilidade, um manequim, que possui 134 sensores, é vestido com uma cueca box e uma camiseta, ambas totalmente produzidas com algodão, para que não derretam em contato com o calor.
Essa etapa é feita para simular as roupas utilizadas pelo trabalhador da indústria no dia a dia. Por cima dessas peças, é colocada a vestimenta que será submetida ao teste, ou seja, o uniforme que irá proteger o corpo inteiro do profissional.
Após essa preparação, o teste é realizado. São doze queimadores ao redor do manequim, que fica exposto à chama durante três segundos. Em seguida, o técnico responsável pelo ensaio avalia alguns aspectos no uniforme testado. Há também um software conectado ao manequim, destinado à avaliação do equipamento, que fornece o resultado do grau de queimadura, indicando qual parte do manequim sofreu mais lesões de segundo e terceiro grau.
O programa também calcula a queimadura de primeiro grau, porém a considera como uma lesão causada por exposição ao sol.
A importância da avaliação técnica

Além dos recursos tecnológicos, como câmeras que gravam toda a ação para uma captura detalhada, a expertise do profissional responsável pelo ensaio e pela operação do equipamento é mais um fator importante relacionado ao procedimento. O técnico, ao entrar na cabine, avalia as condições em que a vestimenta se encontra após sofrer os danos provocados pelas chamas.
Entre os itens analisados no uniforme, o técnico verifica visualmente alguns elementos, como: o aparecimento de furos, que permitam a passagem do fogo; a funcionalidade dos botões e zíperes, que facilitam a sua retirada; o derretimento das linhas usadas para a costura do uniforme, que provoque a abertura total do material, resultando em queimaduras na pele; e se a vestimenta continua queimando mesmo após o desligamento dos queimadores.
Características adequadas do uniforme de proteção contra chamas
Segundo a engenheira química Alessandra Santos, consultora técnica responsável pelo laboratório e por executar o ensaio de flamabilidade no Instituto SENAI de Tecnologia (IST) do SENAI CETIQT, o uniforme antichamas deve apresentar algumas características essenciais para a devida proteção do trabalhador:
“Uma vestimenta de fogo precisa estar toda fechada, com fechamentos no punho, e a barra da calça não pode estar nem muito curta, nem muito comprida. Ela também não pode estar muito agarrada ao corpo, pois além de interferir na mobilidade do profissional, aquela barreira de ar entre o corpo e a peça atua como um isolante térmico”, explicou a engenheira química.

Complementando as particularidades do uniforme antichamas, o Coordenador de Serviços Metrológicos do SENAI CETIQT, Heverton Almeida, apresenta outros detalhes que precisam ser avaliados:
“As linhas usadas nas costuras e os acessórios, como os botões e zíperes, precisam ser específicos. Um botão de plástico colocado na vestimenta, por exemplo, pode inflamar. Então, todos os aviamentos, como são chamados os itens que compõem a vestimenta, também precisam ser examinados”, destacou o gestor.
Impacto no consumidor final – o trabalhador da indústria
Para permitir que o trabalhador de indústrias química, petrolífera, siderúrgica e de outras áreas, onde há a manipulação de substâncias inflamáveis, possa se proteger da rápida combustão e escapar de ambientes em que há a presença de fogo, é fundamental que ocorra a utilização adequada dos uniformes antichamas.
A presidente da CIPA do SENAI CETIQT, Daniela Guerra, também abordou a importância da utilização do material de proteção para a prevenção de consequências graves resultantes dos acidentes causados pelo fogo:
“Esses itens são cruciais, pois agem na proteção contra queimaduras, já que a vestimenta antichamas é projetada para resistir às altas temperaturas, evitando que o fogo entre em contato direto com a pele, reduzindo o risco de queimaduras graves em caso de incêndio. Além disso, o cumprimento de normas de segurança é uma questão legal, e o não cumprimento dessas normas pode resultar em penalidades para a empresa”, concluiu a especialista.
Desde a sua inauguração, em 2016, o Laboratório de Flamabilidade do SENAI CETIQT já foi responsável por realizar mais de mil ensaios de fogo em uniformes profissionais para confecções e empresas do setor têxtil.
Clique no vídeo abaixo e confira mais detalhes sobre o ensaio de fogo: