A exposição ‘The Vulgar: Fashion Redefined’, na Barbican Art Gallery, em Londres, e discute a ideia de mau gosto ao reunir looks polêmicos de grandes nomes da moda.
ESCRITO POR
CAROLINA VASONEFácil definir o que se tomava como cafona no passado. Mas como afirmar que uma coleção recente de uma grife de high fashion de Paris é brega - ainda que isso seja apenas um ponto de vista? Para driblar a saia justa, a escolha dos itens atuais foi feita entre marcas e designers que já brincam com os códigos relacionados ao mau gosto e ao bom gosto. Hussein Chalayan e suas unhas postiças coloridas aplicadas em vestidos do inverno de 2014, Gareth Pugh e seus bordados de moedas no verão de 2016 e Miu Miu com suas casacas eduardianas de jeans no inverno de 2016 são exemplos de grifes que não têm medo de ir além dos limites da elegância.
Entre elas, há ainda aquela que não só atravessa a fronteira como também transforma o feio de um minuto atrás na moda do momento, a Prada, mãe do "ugly pretty". "Miuccia Prada é muito ambivalente em relação à elegância conservadora e as declarações dela sobre a feiúra são famosas", diz Judith. A designer já disse, por exemplo, que seu grande objetivo na moda é "ir contra os clichês de beleza e sensualidade". "A exposição é parte dessa conversa: tem a ver com negar a ideia de combinar peças perfeitamente, algo que a Prada tem tentado banir", completa a curadora.
O CAFONA NOS TRÓPICOS
No Brasil, estilistas como Ronaldo Fraga também questionam os conceitos limitadores do brega e do chic. "A liberdade de expressão na moda sempre beira o vulgar porque contesta um padrão vigente, e que é um padrão da elite", acredita. É como se, em vários momentos, quem é considerado vulgar fosse um visionário da moda que está por vir. "Quando Nara Leão apareceu, nos anos 1960, com aquele corte Vidal Sassoon e uma saia curtíssima, que ainda ninguém usava no Rio de Janeiro, foi considerada vulgar." O contexto é essencial, segundo o designer, para definir o que é vulgar ou não.
"Você pode dizer que a calça gang, com 3 cm de zíper, é vulgar. Mas ela era a cara do funk e do Rio de Janeiro naquele momento. Com isso, o conceito de vulgaridade perde a dimensão." Embora em sua própria moda Ronaldo Fraga admita fugir da modelagem "duas vezes menor do que o tamanho da pessoa", ele acredita que isso é parte de um preconceito dele.
O estilista prefere brincar com outros aspectos do gosto questionável, como o mix de estampas, as referências regionais brasileiras e o volume das roupas. "Sempre tive uma predileção por questionar essas noções de bom gosto. No início, quando criava essas histórias, elas só eram aprovadas estações à frente, depois de alguma marca internacional aparecer com a mesma proposta", diz. "Hoje já tenho uma clientela que quer isso e me cobra. O que dá vitalidade à moda é justamente quando ela provoca esta dúvida: será que eu teria coragem de usar?"
Tudo é permitido e nada é cafona, portanto? Aí é que vem a ironia. "A moda já nasce vulgar porque é quase sempre uma imitação pobre de um objeto superior. Ela sempre faz alusão a uma ideia original, seja com base em sua própria inovação, seja usando como referência uma obra de arte preciosa, por meio de citações", diz Judith. A francesa madame Grès, talvez a mais elegante das estilistas, por exemplo, fazia alusão às esculturas gregas em seus vestidos brancos drapeados. "Já Yves Saint Laurent é ainda mais claro com seu vestido Mondrian. Uma referência na época em que foi lançado", diz a curadora. Pelo sim e pelo não, é bom pensar duas vezes da próxima vez que pensar em encher a boca para proferir um sonoro "cafona".
http://mdemulher.abril.com.br/moda/elle/essa-exposicao-em-londres-d...
Tags:
Bem-vindo a
Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI
© 2024 Criado por Textile Industry. Ativado por