Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Estoques tornam mais difícil prever demanda real da China por petróleo! Este "desafio" ocorre também em outros setores como carne de porco, soja e algodão

Quando os preços do produto despencaram no ano passado - caindo mais de 50% num período de seis meses - a China correu para comprar. Com a queda no preço, ficou repentinamente mais fácil encher os tanques que o governo e as petrolíferas construíram para ampliar a segurança energética do país. A iniciativa impulsionou a demanda mundial, contribuindo para um crescimento de 9,5% nas importações chinesas de petróleo bruto em 2014: dezenas de milhões de barris extras vindos do Oriente Médio, Rússia e outros lugares.

Essas compras tornaram a tarefa de avaliar a verdadeira demanda chinesa mais complicada para petrolíferas, negociadores de petróleo e governos. As importações confundiram as percepções que eles tinham da necessidade real de petróleo nas refinarias chinesas e de como o ritmo das compras pode mudar.

Esse desafio não ocorre só com o petróleo, mas também numa série de setores em que a China está se tornando um participante cada vez mais importante - o governo chinês mantém estoques de commodities que vão de carne de porco a soja e algodão. Pode ser difícil, porém, obter dados confiáveis sobre a oferta e a demanda do país.

A China virou um enorme importador de petróleo, superando os Estados Unidos em alguns critérios. Descobrir o quanto ela deve comprar é essencial para a previsão dos preços, especialmente porque a queda abrupta dos preços se originou das preocupações com a demanda.

"Eles estão construindo uma quantidade impressionante de tanques de armazenamento que precisam ser preenchidos", diz Thomas Pugh, economista da área de commodities da Capital Economics. Quando a China vai comprar o volume necessário de petróleo ainda é bem incerto.

A economia chinesa está desacelerando, o que reduz o ritmo do crescimento da demanda por petróleo. Indicadores sugerem que o aumento seria ainda menor caso os tanques de armazenamento não estivessem sendo preenchidos.

A falta de dados confiáveis sobre as reservas é "uma enorme caixa preta para os mercados globais de petróleo", diz Keisuke Sadamori, diretor de mercados de energia e segurança da Agência Internacional de Energia.

A agência determina que seus membros, a maioria países desenvolvidos, mantenham reservas de petróleo equivalentes a 90 dias de consumo para serem capazes de lidar com possíveis rupturas no abastecimento. Apesar de a China não fazer parte da entidade, ela estabeleceu um programa semelhante e há anos vem procurando encher seus tanques de armazenamento, tomando bastante cuidado para evitar que isso provoque uma alta dos preços.

Esse esforço ganhou impulso no segundo semestre do ano passado. Em outubro, a China National United Oil Corp., trading que é uma subsidiária da estatal China National Petroleum Corp., maior produtora de petróleo e gás do país, encheu o número recorde de 47 navios petroleiros, o equivalente a mais de 23,5 milhões de barris, como parte de uma grande compra no mercado à vista de Cingapura, dizem operadores do mercado de petróleo de lá. Desde então, a China não voltou a comprar o produto de forma tão agressiva.

As dúvidas sobre a demanda por petróleo na China ocorrem após um período de mais de dez anos em que o país viu sua dependência do petróleo importado saltar à medida que a produção doméstica parava de crescer. Em resposta, os investimentos em novos projetos dispararam no mundo todo.

A produção mundial de petróleo subiu mais de 15% desde 2000, segundo a Administração de Informação sobre Energia dos EUA (EIA, na sigla em inglês), apesar de o consumo total no mercado americano ter caído no mesmo período.

Com o apoio do governo da China, as grandes petrolíferas estatais correram para garantir suprimentos de petróleo de outros países, estabelecendo laços estreitos com produtores como a Arábia Saudita e montando redes de oleodutos na Ásia Central. Para os produtores, a demanda chinesa se tornou ainda mais essencial depois que os EUA substituíram suas importações pelo petróleo e gás produzidos internamente nas formações de xisto.

Em janeiro, um navio-tanque com petróleo do Oriente Médio se tornou o primeiro a atracar em um novo porto chinês a sudoeste de Myanmar. A instalação da China National Petroleum é a porta de entrada para um oleoduto que em breve enviará dezenas de milhões de barris de petróleo por ano para o Sudoeste da China, reduzindo o tempo que o produto leva para chegar ao mercado.

No mesmo mês, na distante província de Heilongjiang, no norte da China, o governo local afirmou que o campo de petróleo de Daqing, que representa cerca de 25% da produção doméstica, ia cortar sua produção em 11 milhões de barris por ano. Os custos altos do envelhecido campo superavam o do petróleo barato disponível no mercado.

Embora a China continue importando petróleo, o crescimento da demanda interna está recuando à medida que a economia desacelera. A demanda apresentou um crescimento anual de meio milhão de barris por dia entre 2003 a 2012. A AIE agora estima que esse ritmo vai cair pela metade até o fim da década.

Outro indicador, a demanda aparente por petróleo na China - o volume refinado localmente mais as importações líquidas de produtos de petróleo - mostra uma tendência semelhante. Depois de avançar por dez anos a uma taxa anual composta de 6%, a demanda aparente teve seu crescimento reduzido para 2% a 3% nos últimos dois anos e deve permanecer neste nível durante mais alguns, segundo a EIA e a Administração de Informação sobre Energia dos EUA.

O acúmulo de estoques como reserva estratégica continua imprevisível. Um programa de três etapas iniciado pelo governo na década passada tem a meta de construir mais de dez instalações de armazenagem até 2020. Numa revelação rara, a Agência Nacional de Estatísticas da China afirmou, em novembro, que as instalações construídas na primeira etapa podiam armazenar um volume equivalente a nove dias do consumo doméstico, sendo que a meta final é de 90 dias.

Simon Powell, analista da CLSA, estima que após o recente surto de compras o nível das reservas esteja em torno de 40 dias de consumo. O banco de investimento North Square Blue Oak estima que o país economizou bilhões de dólares ao comprar petróleo com os preços em queda.

Dado o lento crescimento da demanda, a já acirrada batalha dos países produtores pelo mercado chinês deve se intensificar. As exportações da Arábia Saudita para a China, por exemplo, despencaram 8% em 2014, pois a China importou mais petróleo da Rússia e outros mercados. Em resposta, o reino saudita vem oferecendo descontos aos clientes asiáticos, dizem analistas do setor.

Como a América do Norte também está comprando bem menos petróleo dos produtores da África Ocidental, a Nigéria e outros países da região vêm se voltando mais para a China, que em 2014 se tornou o maior importador de petróleo africano do mundo, segundo dados de comércio.

"Adoraria saber o que está acontecendo na China", diz Ian Taylor, diretor-presidente do Vitol Group, um dos maiores negociadores de petróleo do setor. "A atividade no [setor de] petróleo parece estar caindo de um modo muito notável lá."

(Fonte: Valor Econômico/Mark Magnier, Brian Spegele e Eric Yep | The Wall Street Journal, de Dalian e Pequim, na China, e Cingapura/colaboraram Chuin-Wei Yap, de Dalian, e Christian Berthelsen, de Nova York)

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