Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Fashioncore - Aonde fica o limite para a romantização de estéticas?

Tendências e estéticas "Fashioncore" ganham novas perspectivas após o caso "Court Core" de Gwyneth Paltrow, entenda.

adult female person woman indoors male man suit people face

Gywneth Paltrow (Foto: Getty Images)

Viver com base em todas "Fashioncore" que surgem com frequência realmente é impossível, mas muito além do questionamento do consumismo que surgiu com essas tendências, estamos presenciando o despertar para outras problemáticas que a romantização de estilos podem conter.

Na moda, a palavra "Core" é usada para descrever um estilo específico ou uma subcultura que é central para a identidade de uma pessoa. As tendências com a denominação "Core" geralmente apresentam um conjunto de elementos estéticos e de estilo que definem o visual, criando uma sensação de coesão e identidade em torno do estilo.

Por exemplo, a tendência "Cottagecore" que é baseada em uma estética bucólica e campestre, com elementos como vestidos floridos, chapéus de palha, sapatos baixos, cestas de piquenique e padrões florais. A ideia é criar um visual que remete a uma vida mais simples e conectada com a natureza.

Assim, a palavra "Core" é usada para indicar o núcleo ou a essência de um estilo ou subcultura, representando um conjunto específico de elementos estéticos e de estilo que definem a identidade e a coesão do grupo.

Nos últimos meses o Tiktok, grande disseminador de estéticas "Core", recebeu uma enxurrada de publicações com relação a uma suposta nova vertente, o "Court Core". A trend não surgiu do nada, mas sim pela cobertura do caso do acidente de Ski de Gwyneth Paltrow, que inicialmente corria em segredo e acabou recebendo ampla cobertura da mídia devido ao envolvimento de uma celebridade e ao uso de roupas e acessórios caros pela atriz durante o julgamento.

A atriz, que estava sendo processada por um acidente com o instrutor, usou um conjunto de calça e blazer da marca italiana Valentino, com um valor estimado em cerca de US $ 5.000 (cinco mil dólares) na época. Além disso, ela também foi vista usando um relógio Cartier avaliado em cerca de US $ 15.000 (quinze mil dólares).

O uso dessas roupas e acessórios de luxo durante o julgamento, gerou curiosidade e reproduções como se fossem parte de um desfile nas mídias sociais, mas diante do público geral e mídia jornalística o uso dessas peças demonstrou uma má atitude de Paltrow, como insensível e inadequada diante do processo jurídico em questão.

Apesar do que se imagina, o distanciamento de Gwyneth Paltrow da realidade não aconteceu pelo alto valor de suas peças, que segue uma linha minimalista de alto luxo, mas sim pela alta valorização de uma estética completamente fora de uma atual conjuntura social, política e econômica em que o mundo está inserido. É estimado que o patrimônio líquido de Paltrow esteja por volta de 150 milhões de dólares, tornando a atriz e empresária parte de um grupo de elite que vive de sua imagem atrelada a grandes marcas de luxo.

O reflexo dessa romantização em um ambiente neutro como um tribunal, fizeram com que reflexões sobre o sistema de hipervalorização de estéticas fossem questionadas. Somente em 10 minutos de visualização das últimas "Cores" mais acessadas no Tiktok é possível perceber uma idealização do luxo que entra em conflito com a aversão de uma nova geração ao consumo de produtos de grandes empresas, criando uma subcultura de "dupes" (cópias e falsificações) em prol de uma manifestação contra a padronização.

O que mais uma vez banaliza o trabalho criativo em prol de uma ideologia ainda pouco estruturada, que deixa de lado temas como sustentabilidade, direitos trabalhistas e internacionais. Seria esse o momento de desacelerar? O fato é que a frenagem já devia ter sido acionada, mas como acontece com qualquer outra evolução o aceleramento é um processo tóxico de entendimento de mercado, infelizmente ainda usado para transformar uma cadeia de consumo.