Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Andrea Alves

A atriz e cantora Marlene Dietrich em 1920 Marlene Dietrich causou espanto e admiração por vestir um terno em 1920 / REPRODUÇÃO

Quando, na década de 1920, Marlene Dietrich apareceu vestindo um terno, não foi todo mundo que gostou não. Alguns conservadores viram como algo ruim aquelas cenas e fotos em que ela aparece toda elegante e segura em trajes masculinos. Frisson e detalhes da história à parte, o fato é que é natural que um corpo de um gênero use uma vestimenta designada, comumente, a outro gênero. Atualmente, tem até roupa sem gênero definido. O conceito tem nome e é, como é da natureza da moda, um reflexo dos tempos. Genderless. É disso que estamos falando.

“O conceito genderless, que não tem nada de homossexual na sua essência, é um termo usado para designar um vestuário que pode ser usado por ambos os sexos. Busca desagregar a ideia de roupa de homem ou roupa de mulher, permitindo que as pessoas se vistam de acordo com a sua personalidade e livres de estereótipos.” Quem explica é a consultora e pesquisadora de moda, Giuliana Castelo Branco, com formação e especialização em marketing de moda e mais de 20 anos de experiência.

Para ela, o termo trata de inclusão em todos os aspectos, sendo um dos passos mais importantes dados pela moda. “Os consumidores estão cada vez mais focados em questões relacionadas à igualdade de gênero. A ideia do unissex está em alta. Esse termo foi criado nos anos 1960 e está ganhando cada vez mais destaque ao redor do mundo.”

Não é uma novidade, é sabido. Grandes nomes do passado fizeram bonito e cravaram na história mais do que simples peças do vestuário ao darem forma à atitude e à liberdade. “Coco Chanel foi pioneira no uso de suéteres e tweed, tecidos até então considerados masculinos. E temos o Le Smoking, Yves de Saint Laurent”, relembra Giuliana.

Coco Chanel, com seu suéter, e Le Smoking, de Yves Saint Laurent: pioneirismos da moda unissex / REPRODUÇÃO

Expressão dos tempos

Mais que gênios criativos, os estilistas estavam abertos a captar os sinais de sua época. O registro do tempo, da sociedade e da história característico da moda tem um nome. “Zeitgeist é um termo alemão que significa espírito da época, espírito do tempo ou sinal dos tempos”, conta a pesquisadora. “Ele exprime o que somos diante do contexto que vivemos em alguns momentos de nossa vida, definindo as mentalidades emergentes que impactam cultura, consumo, estilos e gostos de um determinado período.”

Basta olhar, ela ensina, os anos 1950 do pós-guerra, os anos 1960 da era espacial, os anos 1970 de paz e amor, os anos 80 e o capitalismo, e perceber como a moda esteve presente nos diferentes contextos. “Se analisarmos os acontecimentos mundiais e a sociedade, nós temos um parâmetro para ter ideia de como vamos nos comportar depois de crises inéditas, como, por exemplo, a pandemia do coronavírus, ou uma troca de presidente ou até mesmo um ato de violência, como o que deu origem ao Black Lives Matter. Esses acontecimentos geram mudanças em comportamento de consumo e interferem na forma de se vestir.”

Transgressão para o conforto de ser livre

Calça jeans e camiseta branca, look democrático, são usados por homens e mulheres, mas também isso não define o que é a moda agênero. Genderless é a construção de uma “roupa para pessoas e não para um homem ou para uma mulher, independentemente de ser um vestido, uma saia, um terno ou uma gravata. É quando você está confortável sendo você sem se preocupar com os olhares e julgamentos dos outros”.

O conceito é transgressor ao defender que as pessoas vistam o que para elas é confortável, o que não é sinônimo de falta de personalidade ou estilo. É também desafiador, tanto no conceito quanto na prática, porque a construção de peças agender deve criar novas possibilidades ou modelagens que se adaptem a corpos diferentes, pensando no que pode ser usado por homens e mulheres, com atenção, indica a consultora, “especialmente a ombros, cavas, cintura e comprimento”.

Lojas de departamento e lojas de luxo estão apostando no conceito genderless — a Gucci foi a primeira no mercado de luxo a seguir por essa trilha. Além disso, o conceito vai ganhando adeptos entre os famosos, e uma referência da atualidade que Giuliana gosta de citar é o ator e dançarino Jaden Smith, filho do ator Will Smith. “Ele representa a nova geração que assimilou os códigos da verdadeira liberdade. Livre para manifestos e para questões sobre gênero.”

O ator e dançarino Jaden Smith é um conhecido adepto da moda sem gênero / REPRODUÇÃO

Definições para o que não precisa ser definido

Há um pensamento primordial para a discussão da moda genderless, como destaca a pesquisadora. Gênero é uma construção cultural, social, mas muitos pensamentos estão relacionados ao que a sociedade espera do homem e da mulher. Por isso algumas vestimentas são tradicionalmente associadas a homens, como sapatos, ternos, gravatas, ou a mulheres, como saias, vestidos, saltos.

Com a quebra de expectativas e associações, a moda genderless é, como afirma Giuliana, um aspecto que permeia a sociedade atual com pautas sobre feminismo e masculinidade. E o que ela diz é um respiro e uma inspiração em momentos em que a evolução parece sofrer resistências e desmerecimentos. “O feminismo é pautado por novos debates sobre a relação homem e mulher e suas funções na sociedade. E a masculinidade traz à tona a necessidade de que é preciso desenvolver o perfil de um novo homem, um homem em desconstrução.”

Ela deixa uma reflexão. “O espírito do tempo sempre quer nos dizer algo. Fala de onde viemos, onde estamos e onde pretendemos chegar.”

A consultora e pesquisadora de moda Giuliana Castelo Branco / ARQUIVO PESSOAL

Confira a continuação desta reportagem

Na segunda parte desta reportagem, contamos a história de um casal que criou sua própria marca que atende a esse conceito de moda sem gênero com estilo, graça e conforto. Confira aqui: Genderless — moda sem gênero na prática.

 

https://portalmandala.com.br/2021/02/19/genderless-moda-sem-genero/

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