Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Giambattista Valli: “Não me interessam as modas, proponho designs suspensos no tempo”

Poucos minutos depois do seu primeiro desfile nupcial, Giambattista Valli recebe-nos numa das salas superiores do histórico edifício barcelonês Llotja del Mar, um imponente espaço construído na época medieval que outrora albergou o Banco Público da Catalunha e onde estudaram artistas da estatura de Picasso ou Dalí. Nele, o designer romano sente-se à vontade, habituado à opulência dos salões de Versalhes ou aos designs únicos da alta costura. Assim, tira os seus óculos escuros pretos, dos quais é inseparável, para refletir abertamente sobre o setor.

 
Para o lançamento da sua coleção nupcial, à qual o criativo prefere referir-se como “Love Collection”, Giambattista Valli desembarcou na Barcelona Bridal Fashion Week, no dia 18 de abril, para apresentar um desfile único diante de mais de 450 convidados, entre os quais se destacaram a it-girl Olivia Palermo, a atriz Hiba Abouk ou a aristocrata Lara Cosima Henckel. Composta por 30 modelos, a proposta contou com 10 vestidos de cada uma das duas primeiras coleções da linha, e protagonizou a Barcelona Bridal Night, assim como já haviam feito marcas de renome como Elie Saab, Viktor&Rolf e Marchesa.



O designer Giambattista Valli no final do seu desfile em Barcelona - BBFW


A FashionNetwork.com entrevista o designer e fundador da sua marca homónima, propriedade da Artemis, o braço de investimentos de François-Henri Pinault, sobre a sua presença em Barcelona, a alta costura, o processo criativo ou as chaves das suas coleções nupciais, por enquanto disponíveis apenas sob demanda e que, nos próximos meses, chegarão aos Estados Unidos sob o formato “trunk shows”.
 
FashionNetwork.com: Esta participação na Barcelona Bridal Fashion Week representa a apresentação do seu primeiro desfile nupcial. Qual foi a inspiração para esta coleção?

Giambattista Valli: A coleção fala de um momento que não é realmente um instante de moda, mas sim um momento suspenso de forma atemporal. É uma proposta que não fala de hoje, de amanhã ou de ontem. Nesta coleção, cada desenho tem um nome próprio porque reflete as diferentes atitudes e valores das “meninas Valli”. Isso permite-me conversar com elas, pois as suas diversas personalidades exigem formas de diferenciação. Não quero impor nada às minhas mulheres ou às minhas pessoas. Concebo cada vestido como personalidades para as minhas amigas e os batizo-os como elas. Algumas são muito mais sexy, outras muito mais românticas. Algumas são frágeis, outras são muito mais austeras. Alguns vestidos são mais leves e outros mais pesados. Tento refletir diferentes tipos de personalidades.
 
FNW: Como surgiu o projeto de lançar uma propostas nupcial completa?
 
G.V.: Não o vejo exatamente como uma linha nupcial, encaro-o sim como uma resposta a algo que muitas pessoas me pediam. Tenho muita sorte de poder desenhar para os casamentos mais incríveis e ter as mulheres mais incríveis a virem até mim e pedirem-me para fazer projetos com elas. Usar um vestido de noiva Giambattista Valli quase se tornou uma declaração de intenções. Não queria manter o vestido de noiva como um espaço elitista apenas da alta costura. Queria poder partilhá-lo com um grupo mais amplo de amigos, do ponto de vista geográfico. Entendo isto como uma forma de retranscrever o meu ADN de excelência de uma forma muito mais acessível. É preciso manter essa aura extraordinária.

Por isso preferi batizar este projeto de “Love Collection”, é algo bonito, um momento de amor. Pode-se usar estes vestidos para casar ou sair para uma festa. Acontece um fenómeno curioso com estes designs. Às vezes as celebridades pedem-nos peças da “Love Collection” para usarem na passadeira vermelha; então não posso considerá-la como uma linha nupcial apenas como tal. Acho que, acima de tudo, são vestidos que trazem um aspeto sonhador a momentos específicos.



A marca celebrou o seu primeiro desfile nupcial em Barcelona - BBFW


FNW: Quem é o público-alvo destes designs?

G.V.: Muito amplo. Haverá pessoas que gostam e outras que não. Procuro ser fiel às minhas pessoas, mas permanecendo aberto a novos públicos e novas gerações. Tenho consciência de que o meu estilo é uma ideia à parte e sempre fui fiel a ele. Faz parte da minha identidade e, além disso, dá bons resultados.
 
Alguém se aproximou de mim e disse cautelosamente: “Que bom, finalmente alguém que não tem vergonha de fazer designs para noiva.” Se há pessoas com vergonha de fazer designs de noiva, isso é problema delas e não meu. Pessoalmente, não gosto da palavra “bridal” e por isso batizei a proposta de “Love Collection”, resumindo melhor a minha ideia de vestidos extraordinários tanto para a passadeira vermelha, como para casamentos. Essa é a chave para o sucesso do projeto. Os casamentos são momentos preciosos, por isso é ótimo fazer parte deles. O meu sonho sempre foi criar uma casa de alta costura, uma ideia gigantesca quando ainda era muito pequeno. E esse sonho está a tornar-se realidade aos poucos, pelo que é muito bom poder partilhá-lo com outras pessoas. Não julgo o que os outros fazem, mas a minha filosofia de vida implica que nada me faz mais feliz do que fazer alguém feliz. Portanto, se posso participar na felicidade de uma pessoa num momento tremendamente importante da sua vida, isso é extraordinário. Isso significa que fiz o meu trabalho.
 
FNW: Por que existem esses preconceitos tão negativos em relação à moda nupcial, quando o vestido de noiva costumam ser o culminar dos desfiles de alta costura?
 
G.V.: Não faço ideia. Talvez seja porque algumas marcas se focam muito nas tendências, o que eu não faço. Não me interessam as modas, proponho designs suspensos no tempo. Adoro a atemporalidade e as propostas duradouras que podem permanecer muito tempo no armário, roupas que trazem boas memórias, das quais não nos queremos desfazer. Parece-me a antítese do comunismo, por isso é a minha forma de fazer também a minha própria declaração de intenções.

FNW: A moda nupcial deveria abrir-se de uma forma mais inclusiva?
 
G.V.: O meu trabalho consiste em criar roupas que as pessoas possam interpretar da melhor maneira possível. Não tenho limites. Aliás, na primeira coleção fiz um fato de renda. Acho que as coisas são flexíveis e podem ser adaptadas. Quer usar um design Valli? É totalmente bem-vindo. É uma grande família, uma grande comunidade. Quanto maior melhor.



Os designs foram fiéis ao ADN "couture" da marca - BBFW


FNW: Como é o processo criativo dos designs de noiva e como se diferenciam do pronto-a-vestir e da alta costura?
 
G.V.: A “Love Collection” e a alta costura têm semelhanças. Concebo cada vestido como se fosse uma coleção. Cada vestido tem uma personalidade, um conceito e imagino-os de forma independente, como se fossem bolhas separadas. Por outro lado, as coleções de pronto-a-vestir são guarda-roupas completos. Concebo-os como se fossem uma música com notas diferentes, enquanto na alta costura cada vestido é uma música diferente.
 
A moda nupcial é um processo de escuta. Sentamo-nos e ouvimos. Às vezes as pessoas chegam com uma ideia muito clara do que querem, enquanto outras chegam com imagens muito vagas do que querem, por isso não sabem exatamente o que querem ou não querem. Então é preciso segurar a sua mão e propor algo inesperado para as surpreender.
 
FNW: Como surgiu a oportunidade de desfilar em Barcelona e que avaliação faz do evento?

G.V: Acho que a Barcelona Bridal Fashion Week conseguiu posicionar-se como um evento internacional de referência. Na Europa, é o evento nupcial mais importante. E, no mundo, está no top. Vejo isso na reação dos agentes comerciais, o que é alucinante. A colaboração surgiu de uma forma muito orgânica e natural, a BBFW propôs-me a ideia e achei muito interessante, uma oportunidade para ambos. Então disse, “vamos lá!”.
 
Também é verdade que gosto de fazer bem as coisas, escolher tudo com cuidado, de uma forma muito perfecionista num universo de excelência. Então, a minha única condição para participar era fazer bem as coisas. E acho que o resultado esteve à altura.

 


FNW: De que forma é importante para a marca organizar desfiles fora de calendário ou noutras capitais?
 
G.V: Na moda nupcial, sou uma das poucas marcas que faz alta costura. Muita gente fala em “costura”, mas poucos falam em alta costura. São coisas tremendamente diferentes. A alta costura nasceu em Paris e é bonito manter a apresentação das coleções por lá. Acho que é até necessário proteger o apelo da “alta costura”. Agora, considero que também é importante ter uma componente itinerante, como fizemos quando viemos a Barcelona ou através dos nossos “trunk shows”. É uma forma de levar a história cultural da alta costura, na qual está o meu ADN, a outros lugares.
 
FNW: Do ponto de vista empresarial, que peso têm os designs nupciais no negócio da empresa?
 
G.V.: Neste momento, é uma peça que está a começar a sua própria história, pois anteriormente tínhamos feito apenas duas coleções de 10 vestidos cada. Com esta terceira coleção, o negócio começa realmente a levantar voo, com um nicho de mercado próprio. Obviamente, tenho mercados prioritários no foco da minha estratégia, mas para já não existem mercados que se destaquem particularmente.

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