Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Giovanna Nader: "Moda não é só sobre roupas e sim sobre pessoas"

Comunicadora, ativista ambiental e apresentadora do programa Se Essa Roupa Fosse Minha, do GNT, Giovanna reflete sobre o impacto da indústria têxtil no meio ambiente. "Temos um longo caminho a percorrer e é preciso um maior comprometimento das grandes marcas".

Giovanna Nader (Foto: Reprodução / Instagram)

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"Desde pequena, achava a moda um assunto extremamente atraente. Me lembro de folhear as revistas da minha mãe enquanto me imaginava vestindo todas aquelas produções, adorava brincar de trocar roupinhas das minhas incontáveis bonecas de papel e me divertia inventando looks com o que tinha no armário. Mas, apesar de amar a moda, eu também achava que aquilo não era para mim: não conseguia acompanhar (por falta de tempo e dinheiro) todas as atualizações e tendências que o mercado pedia, e me sentia excluída daquele grupo da faculdade que “andava na moda”. 

Logo depois de me formar [em administração], me mudei para Barcelona para fazer uma pós-graduação em branding e, coincidentemente (ou não), a tese de conclusão de curso de toda a turma foi sobre um grande conglomerado de moda espanhol. Sem me dar conta, lá estava eu entrando para o universo do qual nunca tinha me sentido parte.

Comecei pelo mercado das fast fashions, grandes cadeias varejistas que lançam novas coleções a cada semana a preços acessíveis. O meu papel ali era criar campanhas e ações atraentes para fazer com que as pessoas comprassem mais e mais. Ali estava a minha oportunidade de “andar na moda” pagando uma pechincha. Claro que, além de marketeira, me tornei ávida consumidora dessas marcas.

Com o tempo, no entanto, fui me dando conta de que a moda da qual eu agora fazia parte era excludente, opressora, descartável, e trabalhava para que pessoas se sentissem da mesma maneira como eu me sentia antes de entrar nesse mercado. Foi então que, em 2013, larguei tudo e criei um projeto de troca de roupa com minha amiga e hoje sócia Raquel Vitti Lino. O Gaveta era a oportunidade de as pessoas renovarem o guarda-roupa sem gastar nada, tirando o que não usavam mais e trocando por peças de outros participantes que conversassem mais com seu estilo atual. Nesse mesmo ano, aconteceu também a maior tragédia do mercado da moda: o edifício Rana Plaza, que abrigava a confecção de grandes marcas em Bangladesh, desabou, deixando mais de 1.500 funcionários mortos e 2.500 gravemente feridos – mulheres, na maioria. Nos escombros, foram encontradas etiquetas de cadeias gigantes de fast fashion.

Junto à catástrofe, outras verdades vieram à tona. O fato de o mercado de moda ser o segundo que mais escraviza pessoas ao redor do planeta, com trabalhadores fazendo jornadas exaustivas em condições insalubres e ganhando muito abaixo do que seria justo, chocou o mundo. Pesquisas revelaram que esse é um dos cinco mercados mais poluentes do mundo, representa de 8% a 10% das emissões de gases de efeito estufa, é o segundo setor que mais consome água e produz 20% das águas residuais (esgoto) do mundo. Sem contar os altos níveis de agrotóxicos e pesticidas utilizados nas plantações de fibras de tecido, a quantidade de poliéster e microplásticos liberados por nossas roupas na hora da lavagem e vários outros pontos que o espaço aqui me restringe listar.

Minha cabeça não parava. Como ficaria, então, a situação de quem ama a moda, como eu? Seria possível conciliar minha paixão e a construção de um mundo melhor? Passei os últimos dois anos às voltas com essa investigação, enquanto escrevia meu livro Com que Roupa? Guia Prático de Moda Sustentável (Companhia das Letras, 200 págs., R$ 64,90) e, depois de muito questionar, hoje afirmo que sim. O setor da moda tem se mostrado cada dia mais criativo para trocar modelos tradicionais de produção por fontes de energia limpa, com matéria-prima biodegradável, reaproveitamento de tecidos usados, comércio justo e valorização dos direitos humanos. Além disso, é uma ferramenta poderosa de autoexpressão, que nos ajuda a afirmar nossa personalidade e mostrar ao mundo quem somos.

Mas não me iludo. Sei que ainda temos um longo caminho a percorrer e é preciso um maior comprometimento das grandes marcas para esse quadro mudar. Por outro lado, vejo cada vez mais seus consumidores unidos para cobrar transparência, enaltecer pequenos produtores, usar a moda para fazer política. Esse é o caminho da minha aposta, afinal de contas, moda não é só sobre roupas e sim sobre pessoas – e cada vez mais nos juntamos a fim de fazer essa revolução acontecer. Te convido a fazer parte desse mundo também. Vem?".

Giovanna Nader (Foto: Reprodução / Instagram)

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Essa matéria faz parte da iniciativa #UmSóPlaneta, união de 19 marcas da Editora Globo, Edições Globo Condé Nast e CBN. Conheça o projeto aqui.

https://revistamarieclaire.globo.com/Um-So-Planeta/noticia/2021/09/...

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