Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

 Na moda. No novíssimo VillageMall, na Barra da Tijuca, a futura loja da americana Michael Kors já exibe painel da grife, que deve chegar ao shopping até março Foto: Guito Moreto

Na moda. No novíssimo VillageMall, na Barra da Tijuca, a futura loja da americana Michael Kors já exibe painel da grife, que deve chegar ao shopping até março Guito Moreto


RIO - Às vésperas do último Natal, um empresário entrou na joalheria americana Tiffany & Co., no VillageMall, na Barra da Tijuca, decidido a comprar um presente para a mulher. Ele se encantou por um espetacular colar em platina e diamantes. Não teve dúvidas. Levou a peça, pela qual desembolsou R$ 200 mil. No mesmo corredor do shopping, outra cliente, que também procurava presentes natalinos, preferiu a loja inglesa Burberry, onde escolheu quatro bolsas e alguns acessórios, que totalizaram R$ 30 mil. Ao fechar a conta, confidenciou aos vendedores que daria as bolsas (em torno de R$ 6 mil cada) para empregadas da família... Por ter aberto as portas no Village há apenas pouco mais de uma semana, a grife italiana Gucci, claro, não experimentou o movimento consumista de fim de ano. Mas nada a reclamar. Logo nos primeiros dias de funcionamento, uma cliente, indecisa entre tantas peças belas, resolveu se presentear com as preferidas. Pelo mimo pagou R$ 100 mil. Saiu da loja feliz da vida.

O Rio, que acaba de alcançar status de principal destino turístico concedido pelo jornal "The New York Times", assiste agora à corrida das prestigiadas grifes internacionais em busca de endereços na cidade. Marcas, como Prada, Versace, Carolina Herrera, Gucci, Miu Miu, Cartier, Empório Armani e Red Valentino, começam a chegar de olho numa pequena, mas poderosa parcela de consumidores — representa 7,8% dos domicílios cariocas — que, em 2012, torrou R$ 32 bilhões em compras e despesas pessoais. Trata-se da discreta classe "AAA", apelidada pelos mais gaiatos de "classe gargalhada". Em âmbito nacional, a classe A1 (faixa da população com renda familiar acima de R$ 14,5 mil) foi a que mais cresceu, proporcionalmente, nos últimos seis anos: 46,1%, seguida pela classe A2 (renda acima de R$ 9.750), com 40.9%, segundo o Instituto de Pesquisa Aplicada (Ipea).

O interesse dessas grifes, que num passado recente escolhiam apenas São Paulo como destino no Brasil, acirrou também uma outra disputa: a dos shoppings cariocas para abrigá-las. O Shopping Leblon já conquistou um número considerável das tops e o novíssimo VillageMall (inaugurado no dia 4 de dezembro), arrebatou a maioria delas. O São Conrado Fashion Mall, correndo atrás do prejuízo, trouxe a loja da Ferrari (a única da América Latina) e, em breve, a suiça Rolex. Lá funcionam ainda duas lojas da italiana Missoni.

A chegada dessas marcas demonstra um novo perfil de mercado. Se no passado, comprar um artigo de luxo no Brasil significava pagar até três vezes mais caro do que valor desse mesmo item no exterior, agora a diferença de preço oscila entre 15% a 30% a mais nas filiais brasileiras. Além disso, as compras podem ser parceladas em até dez vezes. Outra curiosidade é que as marcas nacionais de alto luxo cobram preços semelhantes. Segundo especialistas, esse conjunto de fatores beneficiou as grifes internacionais.

Uma consumidora AAA carioca, moradora de São Conrado e casada com um abastado empresário, batia perna na última terça-feira no Village para ver as novidades. Na inauguração da Gucci, este mês, ela saiu da loja com uma bolsa nova, pela qual pagou cerca de R$ 7 mil. Agora, ela anda encantada por uma estola de cashmere e pelo de raposa, que custa R$ 3.050

_ Eu nem precisava de uma bolsa nova, mas comprei para prestigiar a loja. Estou adorando a chegada de todas essas marcas ao Rio. Comprar no exterior não é a mesma coisa. É muito bom ter lojas desse nível perto de casa _ diz a cliente, que prefere não ter o nome publicado.

A filial carioca da Gucci não tem mesmo do que se queixar. No segundo dia de funcionamento, o estoque já precisou ser renovado. As peças ícones _ como bolsa com alça de bambu, de R$ 4,8 mil _ são sucesso total de venda, atesta a equipe. Entre os itens do desejo está ainda um lenço de seda criado especialmente para a princesa Grace Kelly. Na etiqueta: R$ 1.580.

Na francesa Louis Vuitton, os dias também são prósperos no Village. Dias atrás, uma mochila em couro, de R$ 27 mil, peça de uma edição limitada e a única da loja, foi disputada por um consumidor carioca (um ator da TV Globo) e outro que mora na África, que tentava fazer a compra por telefone. O primeiro venceu a disputa. A propósito, exemplares de um modelo de bolsa das mais caras da loja, em pele de píton, já deixaram a loja, mesmo pelo preço de R$ 26 mil.

Luciana Marsicano, diretora geral da Tiffany & Co. no Brasil, conta que a joalheria, fundada há 175 anos, já conhecia o potencial da clientela carioca pelo volume de compras feitas nas lojas da marca no exterior e na filial de São Paulo. Quando consolidou a decisão de vir para o Rio, a Tiffany enviou comunicados aos clientes do Rio. A inauguração da loja, em dezembro, contou com a presença do presidente mundial da marca, um sinal de prestígio para a filial. Especialmente para o novo endereço, a marca trouxe uma coleção com mais de 50 joias em diamantes amarelos, uma alusão ao sol carioca. Luciana não fala em valores, mas garante que a loja é um sucesso de vendas.

_ Temos maturidade para identificar os polos potenciais para a expansão da marca. O Rio era um destino desejado, por seu PIB e potencial de consumidores da classe A. Mas nos faltava um projeto de luxo para nos instalarmos. Encontramos isso no VillageMall _ conta a executiva.

Igualmente satisfeita está Patricia Bagattini, que representa a marca Red Valentino no Brasil. O entusiasmo pela cidade é tanto que a grife _ assim coma Burberry e Kate Spade _ decidiu abrir lojas simultaneamente no Shopping Leblon (em novembro) e no Village (dezembro). As vendas têm sido igualmente elevadas.

_ Não que sejam direcionadas a públicos diferentes, mas é que, geograficamente, são locais distantes entre si. Percebemos que os consumidores cariocas preferem fazer compras perto de casa. Não gostam de percorrer longas distâncias_ explica ela.

Patrícia confessa que um fato surpreendeu a marca. A expectativa era que as clientes cariocas preferissem as peças mais descontraídas da Red Valentino, segundo ela, "refinadas, mas de uso também diurno". No entanto, as 'roupas coquetel" têm sido as mais procuradas. E o desejo por ter um figurino da grife criou uma cena curiosa dia desses na filial do Leblon. Uuma consumidora, acompanhada pelo marido, ganhou de presente dele um look o completo _ vestido, bolsa, sapato e tiara _ que somou em torno de R$ 5 mil. A moça não pensou duas vezes. Saiu da Red Valentino vestida com as peças novas.

Por email ao GLOBO, Stefano Cantino, diretor de comunicação e relações externas do grupo Prada, que inclui a marca Miu Miu, é só elogios para o mercado brasileiro de alto luxo.

_ Abrir no Brasil é uma estratégia do grupo Prada. O país é realmente um mercado com forte potencial, não apenas por causa do crescente interesse pelos produtos de luxo, por parte das classes mais altas, mas também pelo elevado número de turistas que o Brasil atrai às suas principais cidades todos os anos _ diz ele, adiantando que a loja carioca da Miu Miu abrirá as portas no próximo dia 31.

Considerada uma grife novaiorquina "descolada", a Kate Spade também não poderia deixar de abrir filiais no Rio, segundo Elsa Rizo, diretora da marca no Brasil:

_ Abrir uma loja na cidade foi um passo natural no processo de expansão da marca no país. Desde o início sabíamos que o nosso segundo mercado seria o Rio; não só pelo seu nítido crescimento e potencial como também por representar o Brasil com tanto charme e glamour despretensioso.

Com o Rio recém-descoberto pelo circuito de moda luxo, uma moradora do Leblon, consumidora do grupo AAA, acha que as novas marcas combinam mais com a Zona Sul do que com a Barra.

_ Ainda não conheci o VillageMall, mas acho que essas grifes devem estar no coração da Zona Sul. Não se trata apenas de uma questão de potencial econômico, mas de estilo de vida também _ diz a moça.

Já a moradora da Barra Hosana Pereira, diretora de relações institucionais de um grande escritório de advocacia e integrante na nata da sociedade do bairro, não concorda nem um pouquinho.

_ É na Barra que está o dinheiro, as grandes empresas e os novos empreendimentos. O bairro cresce economicamente. Portanto, um shopping voltado para as marcas de luxo só poderia estar aqui _ diz ela que foi à inauguração do Village acompanhada por um casal de amigos, que comprou dois relógios Gucci, por um total de R$ 12 mil. _ Eu não fiz compras ainda.

Fofocas de bastidores dão conta de que, para conquistar as grifes renomadas, os dois shoppings competem acirradamente. O Village estaria oferecendo vantagens irrecusáveis aos conglomerados de luxo, como isenção de aluguel por até dois anos, além de arcar com o custo da vinda de seus estoques de mercadorias para o Rio. O Shopping Leblon garante que não faz negociações diferenciadas com as marcas estrangeiras. Por sua vez, o Village não desmente nem confirma. Diz apenas que as negociações com as lojas são individuais.

Com o foco no público AAA, o shopping da Barra reúne 105 lojas, nacionais e internacionais, como ainda Ermenegildo Zegna, Michael Kors (abrirá em março), Cartier, Tory Burch, Lacoste e Sephora. O superintendente do Village, Gabriel Palumbo, diz que a proposta é oferecer à clientela um mix das melhores grifes nacionais e internacionais, gastronomia e lazer. Também não revela valores, mas garante que nestes quase dois meses de funcionamento, as vendas superaram as metas iniciais em quase 30%. Mimos não faltam para agradar a clientela, como distribuição de água mineral nos dias de alto verão. No cinema, equipado com poltronas semelhantes à primeira classe de um avião, o espectador tem à disposição um cardápio de pequenas refeições, que podem ser servidas nas salas de exibição. Em breve, o shopping criará uma sala Vip e um programa de fidelidade, no qual os consumidores ganharão vantagens, como ingressos para o teatro do Village, que será inaugurado em breve.

Instalado na área mais nobre da Zona Sul, o Shopping Leblon, inaugurado há seis anos, prepara-se para receber até março as marcas Versace (primeira loja da América Latina), Omega e Burberry. Sandro Fernandes, superintendente do shopping, diz que cerca de 70% da clientela é moradora do Leblon, Ipanema e Lagoa. Vivem tão pertinho que 80% dos consumidores do complexo de lojas chegam a pé. Numa pesquisa recente, acrescenta ele, ficou constatado que 92% dos clientes pertencem às classes A e B.

_ Esse conjunto de fatores é um atrativo para as grifes. Não oferecemos quaisquer vantagens para que os grupos estrangeiros se instalem aqui. Mesmo assim, temos uma lista gigantesca de grifes estrangeiras e nacionais à espera de lojas. Uma das marcas consideradas top 10 no mundo, na falta de uma loja espaçosa, já nos contatou para dizer que aceita dividir suas coleções, masculina e feminina, em duas lojas menores _ orgulha-se Sandro.

Ainda segundo o superintendente, outra pesquisa própria provou recentemente o potencial de consumo da clientela: no Natal, o shopping ofereceu um charmoso brinde aos consumidores que apresentassem três notas de compra que somassem R$ 1,6 mil. O volume de notas apresentadas mostrou também que o valor médio de cada uma era de R$ 2,8 mil.

_ Fizemos a promoção imaginando um valor médio de R$ 533 por nota. O consumo médio ficou muito acima disso _ diz ele.

Presidente do Ipea, o economista Marcelo Neri reúne números que mostram essa ascensão da classe A1 no país, nos últimos seis anos. Ela cresceu, proporcionalmente, 46,1%, superando a tão citada classe C, com 34,3%.

_ Da mesma forma que hoje se fala tanto da nova classe média, em breve estaremos falando e fazendo estudos sobre a nova classe A _ afirma.

Especializada em realizar, anualmente, pesquisas sobre potencial de consumo da população brasileira, que norteiam grande investidores e empresas internacionais interessadas em se instalar no Brasil, a IPC Marketing Editora tem dados demográficos atualizados que mostram o perfil das classe A1 e A2 no município do Rio de Janeiro, em 2012.

Na cidade de 6.391.651 habitantes, o grupo A1 representa 1% dos domicílios (20.711) e a A2, 6,8% (146.769 domicílios ). Em despesas pessoais e compras, a poderosa classe A1 carioca consumiu R$ 5.389 bilhões. Isso significa 4% dos gastos de todas as classes (A até E). Já a classe A2 torrou R$ 26.088 bilhões, representando 19% dos gastos de todas as classes juntas no Rio, que consumiram, em 2012 quase R$ 136 bilhões.

_ Dessa forma, o Rio de Janeiro é o segundo maior mercado brasileiro, atrás apenas de São Paulo e a frente de Brasilia e Belo Horizonte _ explica Marcos Pazzini, diretor da IPC Marketing Editora.

Idealizadora e coordenadora do curso de gestão de negócios no setor da moda da Fundação Getúlio Vargas, Paula Acioli, destaca que, além do momento econômico propício, como Olimpíadas, Copa do Mundo, o pré-sal e o aumento do volume de investimentos, o Rio passa por um fenômeno de consumo:

_ O Rio vive uma década de ouro. Portanto, é natural o renascimento do mercado de alto luxo, com a chegada de tantos investimentos. Aliado a tudo isso está o fato de que, agora, é mais vantajoso comprar os itens das marcas estrangeira aqui mesmo, porque lá fora não há parcelamento, por exemplo. O pagamento é à vista e ainda há o IOF do cartão de crédito. A diferença de preços também não é mais absurda. Os valores cobrados pelas marcas nacionais estão próximos aos das grifes internacionais, o que é outro estímulo. E, por fim, o consumidor sabe que não são itens de coleções antigas ou as peças de refugo que chegam ao Rio. São as coleções atuais.

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