Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Grupos Têxteis Buscam Saídas para Recuperação das Atividades

Raphael Gunther/Valor / Raphael Gunther/Valor

Sgrott, administrador judicial da Buettner, Renaux e Schlösser: "essas empresas pararam de evoluir tanto quanto deveriam desde os anos 90 em maquinário"

A agonia da Fábrica de Tecidos Carlos Renaux, fundada em 1892, foi a mais forte dos últimos anos, porque resultou em autofalência em julho de 2013, apesar de uma tentativa anterior de retomar as atividades por um processo de recuperação judicial. As outras três empresas têxteis tradicionais na região - Teka, Buettner e Schlösser - estão com a recuperação ainda em tramitação na justiça, sem decisão final e irrecorrível, de forma que não começaram a cumprir todos os seus compromissos (em alguns casos, nenhum compromisso) com credores.

Diferentes credores descontentes com aspectos dos planos ingressaram na justiça com recursos de agravo de instrumento. Enquanto esses recursos não são analisados e não é tomada uma decisão judicial final, há uma extensão do tempo comumente esperado de cumprimento da recuperação judicial, de cerca de dois anos, para um período indeterminado. Isso ocorre porque também nesses planos de recuperação foi proposto que os pagamentos a credores seriam realizados de fato somente após decisão do tribunal de justiça, em última instância.

Enquanto a questão jurídica se arrasta, a produção física e o faturamento aumentam em algumas empresas - embora nenhuma tenha retomado volumes similares aos de antes da crise - e há já algum desenho do que deve ocorrer com imóveis que elas detêm e que devem ser vendidos para realizar pagamentos a credores.

O Valor visitou há alguns dias os municípios de Brusque e Blumenau e apurou que há quatro empresas interessadas no prédio (com valor estimado em R$ 30 milhões) da Carlos Renaux, em Brusque, sendo duas delas do setor têxtil. Na cidade cogita-se que as instalações da também fabricante de tecidos Schlösser, na Avenida Getúlio Vargas, um dos grandes ramais do centro da pequena Brusque, podem ser compradas por empreendedores do setor imobiliário, possivelmente para construção de um shopping center. Estima-se um valor de R$ 80 milhões. A Teka tem planos de venda da sua fábrica em Blumenau a um fundo, e dele pretende locar as instalações. Estima-se valor de venda de R$ 70 milhões.

Outro destino quase já traçado é que parte do maquinário de Renaux e Schlösser, de tão antigo, poderá virar sucata. Há equipamentos com impressionantes 50 anos de idade.

Na Buettner e na Teka, entre as principais mudanças durante o processo de recuperação está a produção para terceiros em suas instalações, recebendo pela prestação de serviços. Dessa forma, o cliente é quem arca com o capital de giro inicial da operação e não as próprias fabricantes, o que dá alívio ao caixa. Desde o início do processo de recuperação, essas duas empresas não pararam de operar, mas, por enquanto, estão ainda longe do que eram. A Teka produz atualmente menos da metade do que fabricava: cerca de 600 toneladas/mês ante 1,5 mil toneladas antes da crise. Já a Buettner produz aproximadamente 60% do que era: 400 toneladas/mês, sendo 300 próprias e 100 de terceiros.

Atualmente, a Teka faz produção para cerca de 10 empresas, segundo informações do seu presidente, Marcello Stewers. Entre as empresas para quem a Buettner terceiriza, segundo o presidente João Henrique Marchewsky, estão a Lepper, de Joinville, e a Schlösser.

Apesar de ações adotadas para reverter o quadro ruim das grandes empresas têxteis, alguns problemas alegados à época da recuperação ainda não foram equacionados. Embora o preço exorbitante do algodão de 2010 e 2011 tenha ficado para trás e o câmbio hoje (mais desvalorizado) esteja exibindo um patamar melhor para as que efetuam exportação, grandes questões não se resolveram, como a perda de competitividade do setor não só no mercado interno como no exterior, com o avanço da concorrência asiática.

Além disso, dentro das fábricas, um dos problemas históricos foi a falta de investimento em inovação. E hoje dificilmente elas possuem recursos para esse tipo de investimento, segundo Gilson Sgrott, administrador judicial de Buettner, Renaux e Schlösser. "Uma coisa que a gente não pode desprezar é que tanto a Schlösser quanto a Buettner e a Renaux, da década de 90 em diante, pararam de evoluir tanto quanto deveriam na questão de maquinário. Então, há muita máquina velha, muita sucata", afirma Sgrott. "Elas têm máquinas para 'bater o tecido' que fazem de 400 a 600 batidas por minuto. E hoje já tem máquina que faz 800 a 1,2 mil. Então, o que acontece: maquinários pesados, com motores grandes e uma conta de energia elétrica também grande", exemplifica.

Sgrott cita outras particularidades como o longo "lead time" em fábricas verticalizadas como as delas, que fazem desde a fiação do algodão até o acabamento dos produtos. "Um dos grandes problemas de Renaux, Schlösser e Buettner é que elas pegam o algodão, fazem o fio, o tecido ou toalha e o acabamento final. A linha de produção é muito grande", diz. "Se, por exemplo, eu compro uma tonelada de algodão por R$ 100 mil, esse algodão vira toalha lá no final daqui um mês. Aí vou vender a tolha em 30, 60 e 90 dias. Levo então quatro meses para receber aqueles R$ 100 mil que gastei no início. Se, por exemplo, eu tenho só fiação, em uma semana se dá a linha de produção, e em 30 dias se recebe o dinheiro inicialmente colocado", compara.

É cedo para saber se esse "reinício" das empresas indica de fato uma "correção de rota" ou apenas uma sobrevida. Elas ainda alegam que o custo do dinheiro continua sendo um dos principais problemas para avançar, como afirma Marchewsky. "A necessidade de capital de giro é muito grande e para quem está em recuperação esse crédito fica pior. As taxas em vez de 1% ao mês são de 2,5% ou 3%."

O administrador judicial da Teka, Anderson Socreppa, foi procurado, mas não retornou os pedidos de entrevis


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Outro destino quase já traçado é que parte do maquinário de Renaux e Schlösser, de tão antigo, poderá virar sucata. Há equipamentos com impressionantes 50 anos de idade.

  Grandes questões não se resolveram, como a perda de competitividade do setor não só no mercado interno como no exterior, com o avanço da concorrência asiática.

Além disso, dentro das fábricas, um dos problemas históricos foi a falta de investimento em inovação.

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