Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Por Eduardo Vilas Bôas Professor de Moda do Senac SP

Embora pareça estranho, o feio na moda existe sim. A discussão sobre o que é o feio se coloca junto à discussão do que seja o belo pois, em tese, a ausência da beleza torna-se a feiura. 

Se entendemos, entre outras coisas, que o juízo de belo passa pela análise racional e emocional, qualquer avaliação técnica pode apontar a falta dos princípios da Estética Grega (simetria, proporção, equilíbrio e ordem), porém, os parâmetros emocionais que medem a beleza são mais subjetivos, já que envolvem o belo ser apreciável e proveitoso, além de estar associado ao que é bom e moralmente aceitável.

Assim, é claro que cada indivíduo pode formar seu próprio juízo de gosto, determinando o que é belo para si próprio. Como afirmara o filósofo alemão Immanuel Kant (1724 - 1804), no juízo estético (gosto) verifica-se o acordo, a harmonia ou a síntese entre a sensibilidade e a inteligência, o particular e o geral. Para Kant, “todos os juízos de gosto são juízos singulares”. 

Georg Hegel (1770 – 1831), importante filósofo alemão, precursor da Filosofia Continental e do Marxismo, disse que a arte, o gosto e a noção do que é belo muda de acordo com o tempo. Portanto, a produção de uma obra ou a definição de algo como belo depende mais da cultura de uma determinada época do que de um conceito pré-estabelecido. Assim, o que é considerado feio em certo período pode ser belo em outro e vice-versa. Já percebeu como pode haver espaço para o feio na moda?

Assim, entendemos porque para culturas mais abertas a percepção do belo é mais abrangente, já que há muito mais referencial estético a ser ponderado. Culturas muito fechadas tendem a enxergar beleza em poucas coisas e, geralmente, coisas fundamentalmente sagradas.

Um conceito famoso de feio diz que ele é aquilo que não conhecemos, é o outro ou o inimigo! Oras, a globalização permitiu que conheçamos cada vez mais o desconhecido. Documentários, revistas, sites, viagens, redes sociais... a todo momento estamos expostos a estéticas nunca antes imaginadas. O novo torna-se velho e conhecido cada vez mais rápido. 

Umberto Eco, em “História da Feiura”, observa que a arte parece ter caminhado, da Grécia até hoje, do belo para o feio. Porque, se o belo ideal, ligado ao bem e à verdade, era a síntese do que se buscava em arte na Grécia antiga, hoje, o que se busca é, entre muitas coisas, o feio.         

Como já dito anteriormente no texto “Moda e Subjetividade”, o espírito do tempo (Zeitgeist) compõe e é composto pela moda. Em cada época, cada cultura desenha e redesenha seus parâmetros estéticos de acordo com os seus anseios. Nesse sentido, a pele é uma subjetividade que ganhou o lugar privilegiado de estar ao mesmo tempo no corpo e no mundo. A pele/corpo materializa aquilo que chamamos de indivíduo. 

Logo, como afirma Cristiane Mesquita em “Moda Contemporânea: quatro ou cinco conexões possíveis”, a mudança na aparência gera aparência de mudança, haja vista que a subjetividade contemporânea é composta por fluxos, os quais são tão intensos que a capacidade de mudar a si próprio, pela inserção de piercings, tatuagens, acessórios, roupas, cores e cortes de cabelos, é tida como um estado ideal. E a moda, efêmera por natureza, é terreno fértil para estes movimentos.

Com um referencial estético tão amplo, revisitar os princípios clássicos de beleza já não tem causado tanta novidade e furor. O feio na moda, logo, passou de vilão para filho dileto. 

Por Eduardo Vilas Bôas
Professor de Moda do Senac SP

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