Para chegar às conclusões presentes no relatório, um grupo de investigadores da Changing Markets Foundation visitou 10 produtores de viscose na China, Índia e Indonésia, e encontrou danos ambientais graves, incluindo a poluição da água por resíduos não tratados e a poluição do ar. De acordo com o relatório, as unidades de produção integram a cadeia de aprovisionamento de marcas como H&M, grupo Inditex (proprietário da Zara), Marks & Spencer e Tesco.
A maioria das marcas contactadas pelo jornal The Guardian reconheceu que os impactos da produção de viscose são um dos problemas da indústria da moda e admitiu estar a explorar vias alternativas para uma produção mais responsável.
Ambiente e saúde
A viscose, também chamada seda artificial, é uma fibra não natural, regenerada, produzida a partir de pasta de papel purificada (celulose). «Embora a viscose seja feita de árvores de crescimento rápido e regenerativas», ressalva Renee Cuoco, diretora do Centre for Sustainable Fashion do London College of Fashion, «a sustentabilidade das fontes de madeira é muito variável».
Por outro lado, o dissulfeto de carbono, altamente volátil e inflamável, é central para o processo e o relatório refere evidências de que a exposição ao dissulfeto de carbono tem vindo a deteriorar a saúde dos trabalhadores das fábricas. A toxina tem sido associada a doenças cardíacas e de pele, entre outras. Outros produtos químicos tóxicos utilizados na produção de viscose incluem o hidróxido de sódio (soda cáustica) e o ácido sulfúrico.
Na China, a Changing Markets Foundation visitou seis fábricas e os seus investigadores encontraram evidências de poluição da água e do ar e graves impactos na saúde das comunidades locais. O relatório revela ainda que a produção de viscose contribuiu para a poluição do maior lago de água doce da China, Poyang, afetando a vida aquática.
Uma das unidades visitadas na província oriental de Shandong foi a Shandong CHTC Helon Company, que a Changing Markets Foundation constatou fornecer marcas como H&M, Inditex e Marks & Spencer.
O relatório concluiu que as áreas residenciais próximas da fábrica estão poluídas com níveis de dissulfeto de carbono três vezes superiores ao limite permitido.
A Shandong CHTC Helon Company terá já enfrentado críticas no passado devido a emissões excessivas de poluentes atmosféricos, tendo sido sinalizada pelo Institute of Public and Environmental Affairs, a ONG fundada pelo ambientalista chinês Ma Jun.
Natasha Hurley, diretora de campanha da Changing Markets, culpou a ênfase dada pela moda rápida ao volume e a célere mudança nas linhas de produtos. «Claramente, os produtores de viscose têm uma grande responsabilidade aqui, mas o que ficou cada vez mais claro é que os retalhistas estão a colocar uma enorme pressão sobre os produtores, pedindo-lhes para cortar custos, para agilizar prazos de entrega – a pressão das próprias marcas está a criar uma situação insustentável quer na vertente social, quer ambiental», afirma Hurley.
Marcas preocupadas
Em resposta ao relatório, Ida Ståhlnacke, da H&M, assegurou ao The Guardian que estava profundamente preocupada com as evidências e que iria «acompanhar os produtores de viscose nos quais a empresa se aprovisiona».
Um porta-voz da M&S reconheceu que a empresa estava preocupada com o relatório e que tem a redução da utilização de produtos químicos na produção de viscose na sua agenda. «Já encorajámos os fornecedores a produzirem de forma mais responsável ou mais sustentável, incentivando-os com uma acreditação da M&S se o fizerem. Mas sabemos que ainda há muito mais para fazer», sublinhou.
Um porta-voz do grupo Inditex adiantou estar já a trabalhar com os fornecedores em prol de melhorarias nas condições e na garantia de que estes aderem a práticas sustentáveis.
Ainda assim, para Natasha Hurley, as marcas não estão a fazer o suficiente. «O que percebemos com a nossa investigação é que a transparência não é necessariamente acompanhada de uma produção mais sustentável», explica.
O relatório da Changing Markets Foundation exigiu, por isso, que o dissulfeto de carbono seja completamente erradicado do processo de produção da viscose e que toda a produção de viscose ocorra num sistema de ciclo fechado.