Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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A prática corrente dos retalhistas da high street irem “beber inspiração” às criações dos grandes designers e marcas de moda para elaborarem as suas próprias coleções – numa prática legal mas condenada por muitos – faz com que a Semana de Moda de Paris seja um dos eventos mais esperados da estação. 
 

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High street à espera de Paris

Veja na passerelle durante a próxima semana, procure nas lojas dentro de um mês. Com o início dos desfiles de pronto-a-vestir em Paris, as equipas de designers da high street vão dar o pontapé de saída para a primavera-verão 2015.

Graças aos seus esforços, versões muito semelhantes das propostas dos designers vão estar nas lojas em poucas semanas – e a uma pequena parte do preço. Alguns chamam “beber inspiração”. Para outros é copiar ou roubar o trabalho dos designers. Quase toda a gente concorda que é perverso e que há muito pouco que os principais talentos da indústria possam fazer sobre isso.

Nove dias de desfiles de pronto-a-vestir começaram ontem em Paris, com coleções de quase 100 marcas para a primavera-verão 2015. Mas antes mesmo das manequins começarem a tirar os saltos altos depois de pisarem a passerelle, os designers de grandes retalhistas estarão a analisar as fotografias publicadas na Internet e a lucrar com os visuais mais trendy.

Em algumas empresas, os especialistas em modelagem e costureiras estarão em stand-by, prontos a «criar algo literalmente em 24 horas», segundo Jane Banyai, da organização profissional de designers britânicos ACID. 

Nos anos 50, cópias da revista Paris Match com imagens dos desfiles de moda surgiam com riscos pretos por cima para evitar que as criações fossem copiadas. Os desfiles de moda eram então exclusivos, onde apenas alguns convidados privilegiados tinham a sorte de ver as tendências para a estação seguinte.

Hoje, os designers têm muito menos controlo e as imagens dos desfiles podem correr o mundo em segundos com apenas alguns cliques num smartphone. «É muito fácil que as coisas sejam reproduzidas. Uma fotografia pode estar na Ásia em segundos e pode estar em produção em minutos», refere Banyai.

Com tantas roupas de imitação em circulação, as revistas de moda gostam de mostrar aos seus leitores as peças caras de designer e as versões da high street com etiquetas de preço mais modestas.

Kal Raustiala, um professor de direito na UCLA e coautor do livro “The Knockoff Economy”, afirma que a prática está tão disseminada que a maior parte dos designers se sente impotente para lhe pôr cobro. «As cópias baratas estão em todo o lado. São praticamente uma parte aceite da realidade deste mundo», aponta.

Raustiala revela que ficou interessado no tema depois de um amigo que trabalhava em moda lhe ter falado de uma viagem de «compras de comparação» que tinha feito em Londres. «Creio que há diferentes frases usadas, mas o que ele estava a fazer era dar uma volta a Londres a ver as roupas, tirar fotografias e trazer coisas para copiar», explica. «Fiquei surpreendido por descobrir que era legal e que era uma prática comum», afirma, acrescentando que acredita que é a legalidade, mais do que a Internet, a responsável por «acelerar e alimentar» a moda de imitação.

Michael Chan, um advogado de propriedade intelectual de Nova Iorque, normalmente aconselha os clientes a não irem para tribunal. «Se for uma questão de “tenho um padrão estampado leopardo particular” e alguém faz um ligeiramente diferente – bem, o ciclo é demasiado rápido para fazer alguma coisa», aponta. «Não aconselho os clientes a prosseguir. Eles podem fazê-lo, mas provavelmente estão apenas a gastar recursos do seu negócio», refere. «A não ser que tenha alguma razão específica para fazer isso, é melhor deixar passar», acrescenta.

Mas às vezes os designers processam legalmente. A Yves Saint Laurent processou a Ralph Lauren por ter copiado um vestido-smoking da sua coleção de alta-costura 1992/1993 e ganhou.

Mais recentemente, em 2007, a loja britânica Topshop teve de deitar fora mais de 1.000 minivestidos amarelos tipo jardineira depois de perder um processo de direitos de autor levantado pela casa de moda Chloé.

O dono da Topshop, Philip Green, refutou na altura que o vestido fosse uma cópia. Mas afirmou que a empresa concordou pagar 12 mil libras (cerca de 15.100 euros) em compensação, mais os custos legais, para evitar uma guerra legal e «continuarmos com o resto da nossa vida».

Banyai acredita que a maior parte das marcas estão demasiado ocupadas com a próxima estação para se preocupar com quem os copiou na estação passada, mas é uma questão mais preocupante para os designers mais pequenos.

«Há uma verdadeira dicotomia entre os pequenos players e os grandes players. Para os pequenos, se alguém vender uma gama particular pode significar o pão na mesa. Para os grandes, eles têm outras três coleções nesse ano para se preocuparem e, por isso, não parecem muito perturbados com isso. Veem como um elogio», afirma.

Todos reconhecem, contudo, que a cópia está longe de ser um problema novo. «Pode recuar-se até à Grande Depressão e há relatos de como em 24 horas os vestidos estão a ser copiados», acrescenta Raustiala. «Nos anos 30 simplesmente roubavam um esquisso do rapaz das artes», conclui.

http://www.portugaltextil.com/tabid/63/xmmid/407/xmid/43763/xmview/...

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