Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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História bíblica inspira reação de confecção de Santa Cruz do Sul

Pitt buscou estímulo na parábola dos sete anos de dificuldades e de igual período de prosperidade para dar novo ritmo aos seus negócios

História bíblica inspira reação de confecção de Santa Cruz do Sul Cesar Lopes/Especial
A sucessão na empresa começa a ser definida entre Luis Augusto e Jacob Braun (primeiros à esquerda) e Claudino e Eduardo Simon (à direita) Foto: Cesar Lopes / Especial
Vanessa Kannenberg, de Santa Cruz do Sul

vanessa.kannenberg@zerohora.com.br

Símbolo nada convencional para uma fábrica de roupas, uma vaca serviu de inspiração para a recuperação da Pitt, de Santa Cruz do Sul. Com base na história bíblica de José, o animal sorridente e encorpado passou a ser usado para motivar os vendedores a conquistar sete anos de vacas gordas depois de sete anos de dificuldades.

Desenhos de uma simpática vaquinha em cenários diferentes foram usados em campanhas de estímulo. Deu certo. Em 2014, a Pitt deve chegar ao sétimo ano consecutivo de crescimento — a previsão é de 12% em relação a 2013. Em uma das maiores e mais antigas fabricantes de jeans do país, os proprietários investem para não voltar a inverter a curva.

— A vaquinha foi um ótimo estímulo, mas vamos ter de aposentá-la no fim do ano e pensar numa nova proposta, porque não pretendemos voltar às vacas magras — brinca Claudino Simon, 70 anos.

Em janeiro de 1967, Simon foi um dos fundadores da empresa, então chamada de Jaclan, junto com dois sócios. Na época, o trio de bancários, que pretendia abrir um negócio para deixar como legado aos filhos, viu um nicho de mercado a ocupar na região com a falência da única camisaria da cidade. Além disso, tinham o know how literalmente dentro de casa.

— Minha mãe, Frieda, era costureira e passou a cuidar de toda parte de produto. A nós, restaram as contas, as vendas e o marketing, que era bem rudimentar naquele tempo — lembra o diretor-fundador Jacob Braun, 72 anos.

Com duas funcionárias e uma máquina de costura semi-industrial, a empresa começou fabricando apenas camisas em uma sala no centro do município. A produção de 30 peças por mês logo se multiplicou, exigindo aumento no número de funcionários. Em cinco anos, o quadro já era de 36 pessoas, fora os sócios-proprietários, que deixaram de lado o banco para se dedicar ao empreendimento.

Recursos próprios para salvar o negócio

Em 1975, no mesmo ano em que passou a se chamar Pitt — por sugestão de uma consultoria da Capital —, a empresa entrou no mercado de jeans. À época, a calça, que se tornaria essencial no guarda-roupa dos brasileiros, começava a se tornar a queridinha no país, mas havia poucas opções além dos modelos importados — e caros. Hoje, o jeans é o carro-chefe da Pitt e representa 70% do volume de vendas.

O fator que transformou a empresa quase caseira em uma indústria consolidada veio em 1982, com a transferência da fábrica para as margens da BR-471. Arriscado, o investimento no terreno e na construção de 3 mil metros quadrados de pavilhões, além de avançar em meio à instabilidade da economia nacional, exigiu financiamento e injeção de dinheiro do bolso dos proprietários, porque a empresa não tinha o valor em caixa.

— Quase foi um passo maior do que a perna, mas resolvemos arriscar, porque era isso ou jamais cresceríamos — observa Simon.

A partir daí, a Pitt passou a ter, em média, 8% de incremento anual. Em 2001, tropeçou no primeiro prejuízo da história, o ano 1 dos sete anos de vacas magras. A crise resultou, conta Braun, de vários fatores:

— A economia ia mal, havia muita concorrência, principalmente chinesa, e as vendas caíram. Nossa saída foi reduzir drasticamente os custos e investir em marketing.

Uma das estratégias foi apostar na popularidade de atores de televisão para popularizar a marca. Reynaldo Gianecchini, Rodrigo Santoro, Thiago Lacerda, Henri Castelli, Marcos Palmeiras, Malvino Salvador e outros passaram a aparecer em anúncios da Pitt. Algumas famosas, como Deborah Secco e Fernanda Paes Leme, foram contratadas também.

— Quem costuma comprar as roupas do marido e as próprias? Quem costuma encher as lojas e shoppings e portanto vai gostar de ver homens bonitos e querer ver o seu companheiro tão bem quanto? — explica Simon, que sabia bem a resposta.

Para espantar de vez a crise, a empresa se capitalizou em 2007. Para aumentar o aporte, os proprietários venderam parte do patrimônio pessoal.

— Só abre mão dos próprios bens quem realmente acredita no seu negócio. Nós acreditamos — resume Simon.

No basquete, marca com nome de campeão

É impossível falar no único time de basquete gaúcho que conquistou o campeonato brasileiro sem lembrar da Pitt. A marca patrocinou o Corinthians por apenas três anos, de 1992 a 1995, e por um valor considerado baixo, cerca de R$ 200 mil. Na época, o investimento era somente uma forma de ajudar o time, já que o basquete em Santa Cruz do Sul era um dos esportes mais fortes.

Outras empresas, principalmente fumageiras, reforçaram recursos para o clube, mas para evitar a associação de cigarro ao esporte, a Pitt deu nome à equipe. Em 2014, o título completa 20 anos e até hoje o time é lembrado por seu nome composto Pitt/Corinthians, tudo junto, quase como se fosse uma única palavra: "pitticorinthians".

— Ninguém imaginava que conseguiríamos o título. Patrocinar a equipe foi o investimento menos pensado e de melhor resultado que já fizemos — avalia o fundador Claudino Simon.

A nova aposta da Pitt são lojas exclusivas da marca. Já são três — uma em Santa Cruz do Sul, outra em Cachoeira do Sul e a mais recente, inaugurada há dois anos com investimento de R$ 1 milhão, em Porto Alegre.

— Ainda estamos experimentando o formato. Se der certo, a ideia é transformar em uma rede de franquia — esclarece Jacob Braun.

Quem está à frente da experimentação são os filhos dos dois fundadores, Luis Augusto Braun, gerente de produto e lojas próprias, e Eduardo Simon, gerente industrial e de marketing, ambos de 35 anos, que já estão sendo preparados para a sucessão, ainda sem data marcada.

Perfil

Fundação: 18 de janeiro de 1967

Localização: sede e fábrica em Santa Cruz do Sul

Unidades: mais de 30 confecções prestadoras de serviço nos três Estados do Sul

Descrição: empresa têxtil que produz 1,3 mil modelos de jeans, camisas, polos, jaquetas e malhas

Capacidade de produção: 6 mil peças por dia

Comercialização: três lojas exclusivas e mais de 3 mil pontos de venda no país

Número de funcionários: 900

Previsão de crescimento em 2014: 12%

Mercado: das 3 mil lojas multimarcas que vendem produtos Pitt, apenas 11% estão no Rio Grande do Sul

http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/economia/noticia/2014/01/historia...

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