Conheça o percurso dos tecidos do século XVII até os dias de hoje.
Século XVII: 1601 a 1700
Por volta de 1620, as rendas se tornaram uma obsessão na França, na Itália e na Espanha. Rendas bordadas com ouro e pérolas, feltros e musselines, seda moiré, chamalote e tafetá, veludo frisado, cetim e adamascados eram os tecidos em alta para confeccionar os vestidos chiques da época.
O tecido adamascado foi assim batizado em homenagem a Damasco, cidade da Síria onde os tecidos foram vistos pela primeira vez pelos cavaleiros das Cruzadas. De cor única, os tecidos destacam desenhos no cruzamento da trama com os fios do urdume, sob o efeito da luz. Durante centenas de anos, os chineses faziam tecidos de seda ornamentada, do Oriente para a Europa.
No século XVII, ainda sob a influência da cultura renascentista, os tecelões italianos consolidavam seus avanços, unindo o glamour com referências culturais da antigüidade clássica, com pinceladas humanistas e naturalistas. Antes dominada pela Itália, a nova época via a ascensão da França no domínio das clássicas sedas.
Nos Estados, a cultura do algodão se inicia na Virgínia, no início do século XVII. Nos anos 1700, já se expandia a Flórida, Geórgia, Louisiana, Carolina do Norte e Carolina do Sul.
Século XVIII: 1701 a 1800
Enquanto a Inglaterra dominava a linha masculina, a França inovava a feminina. Nesta época, fortalece-se a influência da cultura oriental, com laços, florais luxuosos, cores exóticas e quimonos importados na Companhia das Índias Orientais. A seda ganha mais brilho, ao lado de materiais luxuosos como veludos, brocados de ouro e prata e rendas.
No final do século XVII, as mulheres nobres usavam lenços de tafetá sobre os ombros, carregando ainda agasalhos finos feitos de peles de animais, considerados elegantes à época. Luxo e frivolidade marcaram a sociedade francesa da época, com um carnaval de vestidos “sinos” – com quase 150 centímetros de circunferência. Os tecidos clássicos e luxuosos dos séculos anteriores foram aperfeiçoados, adornados ainda mais com lantejoulas e rendas. Por outro lado, o estilo passou por uma reviravolta com a queda de Luís XVI e Maria Antonieta, com a Revolução Francesa. A simplicidade se tornou a palavra-chave para o espírito da época.
ROGERIO MONTENEGRO
A cashmere conquistou fama na Europa no final do século XVIII e início do XIX. O tecido dos vales da Caxemira graciosamente conquistaria a forma de xales perfeitos e elegantes vestidos, flertando com as tendências de texturas adamascadas, tafetás encorpados e toile-de-jouy.
Além disso, duas tendências se destacavam: as estampas florais nos vestidos e as inovadoras técnicas com retalhos de patchwork. Antes experimentadas por amadores, as tendências foram apropriadas por profissionais no século XX, que a transformaram em uma forma de arte.
“Durante o século XVIII, o domínio artístico da França e sua influência sobre a sociedade moderna impôs uma certa uniformidade na saída dos workshops que podem, por vezes, tornar difícil identificar a proveniência de um bordado particular. Mas, ao mesmo tempo, a diferença que sempre existiu entre os bordados feitos para o mais alto nível da sociedade e aquelas disponíveis para as pessoas de baixa patente parecia ficar mais acentuada, como a diferença notável entre o trabalho profissional e amador. Distintas tradições também tinham se desenvolvido no seio das comunidades camponesas em muitos países e os bordados sobreviventes, portanto, apresentam uma grande variedade de estilos que podem refletir o tanto seu desenvolvimento social quanto a sua origem geográfica”
Jenny Udale
França e Inglaterra, “oficinas do mundo”
No século XVIII, a França dominava artisticamente os bordados criativos, os tecidos luxuosos e, claro, as tendências. Até a Revolução Francesa, a corte criava e recriava vogas ao bel-prazer da rainha Maria Antonieta, uma fashionista precursora.
Ainda no século XVIII, a Revolução Industrial alavancava novas realidades para a produção. Desde então, cruzou fronteiras, transpassando Europa, América e Ásia. No campo da moda, a produção têxtil ganhava novos contornos com os avanços técnicos com as máquinas e teares.
Século XIX: 1801 a 1900
Na virada do século XVIII para o XIX, a época romântica trazia estampas com pequenas flores além da estética, as flores escondiam marcas sujas e manufatura pobre.
Motivos medievais e naturalistas também continuavam em alta. Xales eram feitos em diversos tamanhos e eram usadas para todas as estações. Os materiais utilizados foram o algodão, lã, seda, cambraia, musselina e renda.
As cores foram igualmente diversas: canário, verde, branco, vermelho e azul eram os favoritos. Foi o advento da cashmere, porém, que realmente fez o xale popular. O material macio, rico, feito de couro tibetano, foi primeiramente observado em 1755, mas apenas no século XIX realmente conquistou as atenções.
No início século XIX, uma grande inovação do francês Joseph-Marie Jacquard, de Lyon, daria um up nos tecidos adamascados: o tear automático, que é usado até os dias atuais: o jacquard.
1835: A alpaca nos Andes
A lã de alpaca, da família dos camelídeos dos Andes, se tornou um tecido em 1836, quando sir Titus Salt misturou a alpaca com a seda. A lã se tornou popular na década de 1840, usada para confeccionar peças e forrar casacos. Nos países andinos, o tecido continua em voga, nas peças tradicionais. Além da alpaca, os pêlos da lhama e da vicunha também são usados para se tecer lãs.
1873: O jeans nos Estados Unidos
O jovem alemão Levi Strauss (1829-1902) era um mercador de rolos de lona, usados para cobrir barracas e carroças. Em 1872, o alfaiate Jacob David passou a adaptar os rolos para costurar calças para os mineradores, por serem mais resistentes às intempéries climáticas.
Ao descobrir o denim, um novo tipo de brim francês importado de Nîmes, Levi-Strauss e David passaram a produzir novas calças e, para amenizar as variações de cor, tingia o tecido com índigo blue. Nascia, assim, o blue jeans, patenteado pela Levi Strauss & Co em maio de 1873.
O fio sintético de acetato foi criado na Alemanha, em 1869. Posteriormente, os químicos Camille e Henri Dreyfus de Basiléia, no início do século XX, continuaram estudando o novo material. No entanto, seus estudos foram interrompidos com a Primeira Guerra Mundial, quando o acetato foi usado na fabricação de encerados para revestir os aviões franceses e britânicos. Em 1920, uma companhia inglesa produziu fibras de acetato com o método Dreyfus. Desde então, o fio é usado em lingerie, vestidos e malhas.
1888: O aertex na Inglaterra
Tecido de algodão lançado na Inglaterra no final do século XIX por Lewis Haslam, Benjamin Ward Richardson e Richard Greene, que formaram a Aertex Company, em 1888. Três anos depois, a companhia estava fabricando lingeries com aertex.
1889: O raiom na Inglaterra, a primeira fibra química artificial
Trata-se da primeira fibra química artificial, apresentada ao mundo em 1889, com o químico francês Hilaire Bernigaud, conde de Chardonnet de Grange (1839 a 1914). No entanto, a fibra recebeu o nome rayon em 1924, escolhido por Kenneth Lord, após um concurso para encontrar um novo nome para a seda artificial, feita de celulose. Em 1912, foram produzidas as primeiras meias finas de seda de raiom.
De 1900 a 1920
Musseline, gaze e tule estavam na moda. Airosos e transparentes, gaze e tule davam frescor aos looks. A musseline é um tecido macio, fresco e fino, construído em ponto de tafetá – o nome é uma homenagem a “Mosul”, cidade no Iraque onde o tecido foi originado. Ao longo dos séculos, Índia e Bangladesh se tornaram o lar das musselinas exóticas. Alfaiataria, rendas, flores, arabescos e chinoiserie também marcaram a época.
Lamê, rayon, musseline organdi e organza foram os destaques da época. Entre as estampas, destacavam-se as listras e as ilustrações de arte moderna.
A palavra francesa lamé corresponde à ideia de “adornos dourados e prateados”. É o nome dado a tecidos feitos com fios metálicos nesses matizes. Desde a década de 1930, o lamé é muito usado em vestidos de toalete.
1921: O raiom acetato na Suíça
Após o fim da Primeira Guerra Mundial, mais uma fibra química foi obtida nas experimentações laboratoriais. Os suíços Henry e Camille Dreyfus criaram a celanese, conhecida como raiom acetato.
1935: O nylon nos Estados Unidos
O nylon nasceu em 1935, de maneira triunfante na história da moda, pois fazia a roupa não amassar. Em 1949, o francês Robert Weill lança a expressão “prêt-à-porter”
e traz a moda para a indústria, acessível para todos. Na esteira do nylon viriam o Tencel e a Lycra, tecidos importantes para o fast fashion.
Na época, a moda mesclava jérsei de lã, veludo cotelê e crepes. Enquanto a Segunda Guerra Mundial dava o tom para o pesado clima político da época, a moda se desdobrava para se manter na Europa. O estilo militar, mais sério, continuava em voga, com tecidos pesados e resistentes, como o tweed. Devido à escassez dos tecidos mais finos, como a seda, a moda precisou buscar materiais alternativos, como a viscose, o raiom e as fibras sintéticas.
No pós-guerra, o New Look de Dior daria uma reviravolta na moda. O luxo e o glamour estavam de volta e, com eles, os tecidos nobres para vestidos sofisticados e peles.
1947: O acrílico na Alemanha
A fibra sintética foi lançada em 1947, mas o acrílico só foi produzido em larga escala a partir da década de 1950. É um tecido forte, usado na confecção de malhas e forro de botas, luvas e paletós, na tentativa de substituir a lã.
De 1950 a 1960
Na esteira do New Look, de Christian Dior, os tecidos luxuosos voltaram às produções. Fustão cotelê, cetim e sedas. Além disso, nos tempos de juventude rebelde, jeans e jaquetas de couro conquistaram espaço privilegiado nos figurinos hollywoodianos e no cotidiano de milhares de jovens.
1958: A lycra nos Estados Unidos
No início, a lycra era um fio tão grosso que se destinava à confecção de cintas cirúrgicas. Depois, o fio ficou mais fino, incorporando-se à lingerie e à moda praia. Atualmente, a Lycra é capaz de se ajustar às curvas do corpo, como uma segunda pele.
De 1960 a 1970
Tweed, jeans e couro, estampas florais provençais e liberty, listras finas, bayadère e cartoons, vários estilos passaram a se mesclar ao longo da década de 1960. Enquanto muitos viam o auge de sua juventude em um simples e livre jeans, outros incorporavam a moda étnica, com túnicas floridas e xales indianos.
De 1970 a 1980
Arabesco estilo Pucci, motivos folclóricos e estampados românticos tipo hippie protagonizavam a moda da década de 1970.
De 1980 a 1990
Jeans, lycra e nylon com brilhos e cores estrelavam a década dos excessos. Assim como os modelitos, os tecidos eram over.
De 1990 a 2000
Microfibra, poliéster e strecht entram em cena, assim como as novidades na indústria têxtil foram incorporadas à moda, criando novas possibilidades para peças e estilos.
Na página 132 do livro Fio a fio, Gilda diz: “No século XXI, tudo é permitido e as influências socioculturais entram na dança frenética de tecidos, cores e materiais. Usa-se do clássico, reciclado e com aspecto de novidade, às pequenas loucuras lançadas por estilistas e designers têxteis e aceitas socialmente. Festa para olhos e pele que favorecem à indústria têxtil e à versatilidade da moda”.
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