Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

As vantagens do cânhamo face ao algodão em termos de sustentabilidade são inquestionáveis, mas poderá esta fibra substituir o chamado “ouro branco” na indústria têxtil e vestuário? Para já, há, pelo menos, uma aposta crescente ao nível da produção e processamento.

[©Bear Fiber]

A adoção da fibra de cânhamo na indústria de vestuário está a aumentar, especialmente numa altura em que os consumidores mostram-se mais conscientes em termos ecológicos e em que os benefícios do cânhamo face ao algodão são cada vez mais exaltados. Até há bem pouco tempo, a fibra era uma espécie de tabu, mas está rapidamente a tornar-se um ícone de moda.

Numa comparação direta, o cânhamo usa uma fração da água necessária para o cultivo de algodão e ajuda na regeneração do solo. Também absorve mais dióxido de carbono do que qualquer outra planta ou cultura do planeta. Quando transformado em tecido, tem uma maior durabilidade e mantém a forma. Além disso, as fibras também se tornam mais macias com a utilização. Mas a sua adoção generalizada no vestuário tem sido relativamente lenta.

De acordo com o estudo Preferred Fiber and Materials Market Report 2021, publicado pela Textile Exchange, a quota de mercado do cânhamo foi inferior a 0,2% do mercado total de fibras em 2020. A produção mundial de fibras de cânhamo rondou as 174 mil toneladas em 2020, que foram usadas em várias indústrias, incluindo vestuário e têxteis-lar.


[©Bear Fiber]

Peter Miles, especialista em cânhamo na eHempHouse, afirma ao Just Style que a integração lenta do cânhamo na cadeia de aprovisionamento têxtil deve-se a uma combinação de perceções e à sua acessibilidade. «Ficou ligado ao lado “ilegal” do cânhamo, que é a marijuana. As pessoas deixaram de o cultivar», explica. Mas há igualmente a questão do processamento. Em comparação com o algodão, as mechas de cânhamo são mais resistentes e longas.

A China lidera no processamento da fibra, mas o cânhamo apenas foi legalizado no país em 2020, depois de uma proibição que esteve em vigor 25 anos. Desde então, o Império do Meio tem-se focado em cultivar a planta e em processá-la. O país tem agora uma quota de cerca de 70% na produção mundial de cânhamo e de um terço de quota de mercado, revela Peter Miles. «O que isso significa é que o tecido de cânhamo é significativamente mais caro do que o tecido de algodão, por causa simplesmente da parca acessibilidade», acrescenta.

Investimentos em curso

Isso está, todavia, a mudar. Herve Denoyell, da The Flax Co., em França, conta que, há 15 anos, o grupo voltou a sua atenção para o linho depois de ter testado cânhamo cotonizado, mas teve uma fraca receção no mercado. Uma das razões, aponta, é que a sustentabilidade não era um tema tão forte como hoje.

Em 2020, a Panda Biotech, sediada em Dallas, anunciou planos para construir a primeira unidade produtiva nos EUA, para processar e cotonizar fibras de cânhamo comerciais em quantidades industriais, para servir a indústria têxtil e vestuário americana e clientes de exportação.

O processo de “cotonização” remove a lenhina que liga as fibras de cânhamo. Depois de cotonizada, a fibra de cânhamo pode ser misturada com outras fibras naturais ou sintéticas – como algodão, seda, lã e poliéster – e usada para produzir fios e, consequentemente, tecidos e malhas.


[©Panda Biotech]

A Delta Agriculture adiantou, no ano passado, que estava a lançar uma linha em cânhamo para tentar tornar-se uma fornecedora com escala industrial. Mais ou menos na mesma altura, a paquistanesa AGI Denim estabeleceu a sua primeira parceria mundial de produção com a Panda Biotech para usar o cânhamo produzido nos EUA, que pode ser rastreado. A AGI Denim tem igualmente desenvolvido alternativas aos métodos convencionais de processamento e produção de denim, incluindo o Hemp X, um tecido à base de cânhamo que obteve a classificação Ouro na certificação Cradle-to-Cradle.

Hassan Javed, da AGI, afiançou recentemente numa intervenção na feira de denim Kingpins24, que o consumidor consciente quer saber exatamente de onde vêm os produtos que usa e como foram processados. «A parceria para os nossos clientes, sobretudo os que estão nos EUA, é que o cânhamo da Panda é facilmente rastreável e é um produto doméstico cultivado no centro do país em quintas que estão a cultivar a fibra para o processamento e cotonização. Oferece visibilidade e segurança totais. Isto num cenário de uma indústria que ainda está a tentar responder à transparência na cadeia de aprovisionamento», destacou.

Para Herve Denoyell, o cânhamo pode ser adequado a certas aplicações, como o denim, sobretudo para marcas que querem usar um processo puramente mecânico para maximizar os benefícios de sustentabilidade. «Percebemos que a fibra era um pouco áspera, mas funcionava magicamente num sector, o denim, uma vez que o segmento não exige títulos finos. Foi por isso que fizemos o lançamento e agora está a crescer rapidamente no mercado [do denim]», assevera.


The SmartBox [©eHempHouse]

Não obstante, a fibra tem ganho tração noutros segmentos. A Bear Fiber, por exemplo, está a desenvolver um novo processo alcalino de cotonização de cânhamo para criar fibras que podem facilmente ser fiadas e complementadas com algodão.

Principais mercados

Há vários mercados para o cânhamo, com alguns mais avançados para o cultivo e processamento da fibra. A China, como já referido, dominou nos últimos 10 anos e, como tal, tem sido capaz de exigir um preço mais alto para produtos com cânhamo.

Com cada vez mais marcas de moda interessadas na fibra, Peter Miles reconhece que o mercado não irá mudar de um dia para o outro e não há soluções mágicas. «O que é necessário é ter um cultivo vasto de cânhamo para ser capaz de fornecer as fábricas e depois investir em unidades industriais para criar têxteis que se possam transformar em vestuário de cânhamo», sublinha.

A eHempHouse encontra-se atualmente a desenvolver uma fábrica móvel de processamento de cânhamo em África, batizada The SmartBox, que pretende encorajar os agricultores a cultivar, processar e vender mais produtos de cânhamo, ao mesmo tempo que resolve dois dos principais problemas dos agricultores: água e irrigação; e falta de unidades de processamento.


[©AGI Denim]

E como o cânhamo pode praticamente crescer em qualquer lugar, poderá ajudar a reduzir a dependência da indústria da moda de mercados como a China. «Pode ser cultivado na União Europeia e no Reino Unido. Pode ter uma época de cultivo mais curta. Pode apenas ter uma cultura por ano. Mas a capacidade de cultivo existe. Há 300 hectares para beterraba-sacarina no Reino Unido. Se tivéssemos isso para cânhamo industrial, teríamos um negócio têxtil cultivado internamente. Reduziríamos dramaticamente a cadeia de aprovisionamento e quanto menor a distância que os nossos produtos têm de percorrer, melhor», exemplifica Peter Miles.

Scott Evans, da Panda Biotech, acredita que «estamos atualmente apenas a raspar a superfície no que ao cânhamo diz respeito. Usamos 100% desta planta, o que é raro. Daqui a 20 anos, ver os produtos a que estamos habituados e quantos contêm cânhamo, é isso que realmente me entusiasma em relação ao futuro».


FONTEJust Style
https://www.portugaltextil.com/hora-do-canhamo/?utm_term=Portugal+T...
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