Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Seu Guedes acordou as 6h da manhã, pegou o seu jornal para se inteirar do que acontecia no mundo. Passou os olhos pela primeira página, nada lhe chamou atenção. Virou calmamente a folha, deu uma golada em seu café, que ele chama “vitamina”, porque ele tem gastrite nervosa e a sua mulher não quer ele tome café logo cedo. Acabada a “vitamina” foi tomar banho para ir trabalhar. No caminho começou a se lembrar da situação com a encarregada, “Porque ela teria medo de dizer NÃO”? E mais, por que ela começou a chorar?

Ao chegar à empresa escutou: 

- Bom dia, seu Guedes!

A encarregada veio correndo trazer a produção na agenda, e informar os ocorridos do dia anterior. O seu Guedes escutou tudo o que ela foi dizendo, mas a sua cabeça estava ainda no pensamento porquê ela teria medo dele.

- Minha filha, pega uma “vitamina” para mim, sem açúcar! – Pediu seu Guedes.

Enquanto esperava o retorno da encarregada observou as equipes trabalhando e notou uma coisa. A encarregada da célula um, a responsável por anotar a produção na agenda, grita com todas as colaboradoras, enfatiza o distanciamento hierárquico e agride as colaboradoras verbalmente quando comentem erros. Na célula dois, a encarregada conversa em tom normal de voz, é educada ao se dirigir às colaboradoras e demonstra ter intimidade com elas. No erro, procura entender o motivo do problema e não achar culpados.

O seu Guedes pediu a produção da semana para as duas encarregadas, e notou a diferença. A célula dois apresentava números mais próximos às metas da empresa do que a célula um. O índice de faltas e de troca de funcionários é cerca de 60% maior na célula um, que na célula dois. “Como seria possível?” Pensou ele. As duas encarregadas trabalham para a mesma empresa, fabricam os mesmos modelos de camisetas, a estrutura para fabricação é a mesma. Então, porque a diferença de resultados?                                                                                                                                      
Ele notou que apesar de não ter a menor ideia do seu nome, a encarregada da célula dois mantinha a mesma entonação de voz e não se deixava abater com a sua falta de educação. Seria esse o motivo para a diferença de rendimento?

É esse o ponto, seu Guedes! Existe uma teoria do psicólogo americano Burrhus Frederic Skinner chamada Condicionamento Operante - que menciona o seguinte: “o indivíduo age em função das consequências. Isto é, para evitar punições ou conquistar recompensas.” Ele realizou pesquisas com ratos que determinaram que quando o comportamento do indivíduo é o esperado ou adequado, oferece-se o reforço positivo (recompensa). Já quando o comportamento do indivíduo é indesejado, impertinente, oferece-se o reforço negativo (punição).

Podemos notar em algumas empresas do vestuário o predomínio do reforço negativo, ou seja, a punição ou a atenção para os erros é muito mais acentuada do que o elogio, ou ainda a busca pelas causas que possam ter gerado o tal erro. Essa atitude constrange os colaboradores e inibe ações de inovação ou tentativas de quebra de paradigmas. 

Frases do tipo “Sempre foi assim“ ou “Isso nunca vai mudar” fazem parte da rotina dessas empresas. Essa situação denota a falta de perspectiva dos colaboradores e pode explicar o porque da escassez de profissionais novos na operação de máquina de costura, pois as informações as quais se têm acesso, oriundas dos colaboradores do mercado, não são estimulantes. 

O estímulo positivo, quando bem utilizado, integra equipes, fortalece o laço de relação colaborador e organização e cria novas perspectivas de desenvolvimento profissional que pode impulsionar todo o processo para situações inovadoras, melhora na qualidade e comprometimento com as metas e objetivos da organização. Às vezes um simples “BOM DIA” OU “PARABÉNS PELO RESULTADO” é suficiente para manter uma colaboradora competente na sua empresa. 

Pequenos gestos podem gerar grandes resultados. O compartilhamento tanto da culpa por um erro como o sucesso da produção pode ser o diferencial entre o sucesso e o fracasso de uma empresa em tempos de globalização e competitividade acirrada.

Ao acordar no dia seguinte, enquanto tomava a sua “vitamina” sem açúcar, o seu Guedes analisou e percebeu que o comportamento da encarregada da célula um refletia o seu próprio, o que lhe deixou um pouco chateado, pois percebeu que os melhores resultados viam da encarregada célula dois, com a qual ele mal conversava. 

Chegando à empresa o seu Guedes entrou, pegou sua prancheta e ouviu:

- Bom dia seu Guedes – disse a encarregada, e já virou para pegar a produção do dia anterior, quando o ouviu:

- Bom dia minha filha! – seu Guedes notou um sorriso na face da encarregada.

Aquele dia parecia que seria muito bom. Vamos confirmar na próxima vez...


Alexandre de Caprio Ferreira*
Professor do curso Superior e da pós-graduação da Faculdade de Tecnologia SENAI Antoine Skaf e responsável pelo curso de pós-graduação lato sensu em Sustentabilidade em Têxtil e Moda na mesma instituição

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