Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Ideologia Fora de Moda Flávio Rocha - Riachuelo/Guararapes

Alargar as portas de acesso à moda é a minha missão à frente de 40 mil profissionais.

Por FLÁVIO ROCHA*

Meus olhos foram capturados recentemente pelo título de uma reportagem de revista especializada em ciência: “Escravos da moda: os bastidores nada bonitos da indústria fashion”. O subtítulo do texto fazia referência ao que a publicação chamava de combinação de “consumo desenfreado com exploração da miséria”.

Foi como se eu tivesse sido atingido, simultaneamente, por um soco no estômago e uma punhalada nas costas. Essas afirmações colidiram com valores e convicções que norteiam minha vida.

Alargar as portas de acesso à moda é a minha missão à frente de 40 mil profissionais. A Riachuelo existe para transformar esse fator histórico de discriminação e de exclusão em uma ferramenta eficiente de inclusão. Essa magia, que ao longo da história tem sido um privilégio de poucos, passa a operar o seu milagre na vida de dezenas de milhões de brasileiros.

Só podemos classificar de arrogante e elitista a atitude de se condenar a democratização da moda. Quando milhões de brasileiros passaram a viajar de avião pela primeira vez, essas mesmas vozes preconceituosas esbravejaram que nossos aeroportos mais se pareciam com rodoviárias. É o mesmo espírito que não aceita a democratização da moda e a classifica como “consumo desenfreado”.

A revolução do fast fashion é sinônimo de inclusão – tanto pela moda, despertando a autoestima das pessoas, quanto pelos empregos que gera.

A indústria têxtil tem sido o principal fator de inclusão da humanidade. Quando o tear mecânico foi criado, um dos marcos da revolução industrial, o mundo tinha 90% de excluídos socialmente.

As mudanças transformaram a Inglaterra e, mais adiante, a Europa. Chegaram aos EUA e, quando se manifestaram na Ásia, nos anos 1950, modificaram a história do Japão e da Coreia. Esse processo vem ocorrendo hoje em Bangladesh, Vietnã e Sri Lanka. No futuro, é possível que chegue à África.

Apesar dessas transformações incontestáveis, tornou-se comum nos últimos anos atacar a indústria têxtil por causa das relações de trabalho. Em alguns casos, de fato, há condições realmente precárias em fornecedores do setor.

Atos que contrariam as leis do país precisam ser impetuosamente combatidos, mas não é possível aceitar que uma legislação anacrônica e interpretações forçadas contra o setor prejudiquem esse processo transformador.

Os varejistas atuam por conta própria para evitar que empresas pratiquem atos ilegais. As companhias do setor têxtil têm contratado auditorias externas para investigar as condições de trabalho em confecções e subcontratadas.

Relatórios mensais são produzidos após visitas surpresa, entrevistas com trabalhadores e inspeções às instalações.

A interpretação do que é jornada exaustiva de trabalho faz com que relações entre empregador e empregado sejam, erroneamente, consideradas trabalho escravo.

É preciso que essas definições fiquem mais claras, de forma a evitar que interpretações exageradas e ideologizadas comprometam a reputação de marcas de varejo que trabalham na formalidade, geram milhares de empregos diretos e indiretos e investem vultuosamente em auditorias de monitoramento da cadeia fornecedora.

É necessário também diminuir a absurda normatização das relações de trabalho. As partes têm maturidade suficiente para negociar. Nossa legislação é de uma época em que o trabalhador assinava o contrato com a impressão digital do dedo polegar. Isso precisa mudar.

* FLÁVIO ROCHA é presidente da Riachuelo e vice-presidente do IDV (Instituto para Desenvolvimento do Varejo)

Fonte: Folha de São Paulo

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