Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Incêndio em Bangladesh Expõe Riscos do Setor Têxtil Mundial

Autoridades de Bangladesh inspecionam a fábrica de roupas que pegou fogo nos arredores de Daca em novembro

Na última semana de outubro, um fornecedor da rede Wal-Mart WMT +0.94% encomendou da fabricante de roupas Simco Bangladesh Ltd. a produção de 300.000 shorts para meninas, para despachar no início de dezembro, segundo um alto executivo da Simco.

Muitas grandes marcas mundiais vêm buscando Bangladesh como local de produção de baixo custo, e a Wal-Mart se tornou a maior compradora do país, adquirindo mais de US$ 1 bilhão em roupas por ano, segundo a Associação de Fabricantes e Exportadores de Vestuário de Bangladesh.

O que aconteceu com a encomenda de shorts da Wal-Mart ilustra as armadilhas para quem faz negócios no país. Enfrentando uma capacidade de produção limitada, a Simco subcontratou o trabalho para outra empresa, sem a autorização da Wal-Mart, disse o executivo da Simco. A Wal-Mart, que afirmou que tem regras rígidas para as fábricas que produzem suas encomendas, não quis responder perguntas específicas sobre a encomenda de shorts.

Quando a fábrica subcontratada, que também estava produzindo roupas para a a rede americana de varejo Sears Holdings Corp., SHLD +3.93% a europeia C&A e outras empresas, pegou fogo no final de novembro, matando 112 operários, o incêndio revelou até que ponto alguns fabricantes de Bangladesh estão dispostos a transgredir as regras para executar um pedido — e também a crescente tensão e deterioração das relações de trabalho numa indústria que é uma tábua de salvação para a economia de Bangladesh.

A indústria do vestuário representa 80% das exportações deste país pobre do sul da Ásia e é uma das razões pela qual a economia local tem melhorado. No ano passado, Bangladesh exportou US$ 19 bilhões em roupas, perdendo apenas para a China, dobrando suas vendas para o exterior em relação a cinco anos atrás.

Os investigadores ainda estão examinando a causa do incêndio e estudando relatórios que dizem que os trabalhadores ficaram presos na fábrica porque os gerentes trancaram as portas, para impedir que os funcionários roubassem artigos. A associação da indústria do vestuário comunicou que a maioria das fábricas de roupas atende às normas de segurança contra incêndios. Os varejistas estrangeiros dizem que também têm feito esforços para melhorar a segurança.

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Mas o rescaldo do incêndio renovou a atenção sobre as condições de trabalho do setor e expôs as falhas nos esforços dos varejistas para examinar as práticas de segurança das fábricas. O incêndio também aumentou a insatisfação entre os operários: segunda-feira, cerca de 10.000 pessoas entraram em confronto com a polícia, obrigando o fechamento de 50 fábricas.

O incêndio ocorreu em uma fábrica em Ashulia, uma zona industrial ao norte de Daca, a capital de Bangladesh. A maneira como essa fábrica passou a fazer roupas para a Wal-Mart em nome da Simco mostra bem como o setor funciona. E o problema também aconteceu, notou o executivo da Simco, quando havia um volume esmagador de encomendas e prazos apertados.

Em Ashulia, os operários, que geralmente entram no setor ganhando o salário mínimo oficial de US$ 37 por mês, têm feito cada vez mais greves por maiores salários e melhores condições.

Os donos das fábricas reagiram impedindo os operários de entrarem, por dias a fio. A polícia também prendeu dezenas de manifestantes. Notícias da morte de um ativista do setor de vestuário, Aminul Islam, que foi descoberto em abril com sinais de tortura no corpo, pioraram o clima.

Como resultado, muitos operários de aldeias de Bangladesh que trabalhavam no setor decidiram ficar em casa em vez de voltar para as fábricas, dizem grupos que representam os empregados.

A Simco decidiu subcontratar um dos milhares de fabricantes de Bangladesh para o trabalho, prática comum no setor, de acordo com os donos das fábricas.

O Tuba Group aceitou a encomenda e, no início de novembro, a Simco assinou um acordo para entregar os tecidos que havia importado com isenção de impostos para a Tuba Garments, divisão do Tuba Group.

Como parte de seus esforços para garantir que as fábricas que produzem suas roupas atendam aos requisitos de segurança e outros, a Wal-Mart e outros grandes varejistas têm regras sobre quando suas encomendas podem ser repassadas para outros fabricantes.

A Simco estava a par dessas regras, pois fabrica roupas para a Wal-Mart há mais de uma década e vende 70% da sua produção para essa empresa, disse o executivo da Simco. No entanto, disse ele, a Simco repassou o pedido para shorts de meninas para o Tuba Group sem a aprovação prévia da Wal-Mart.

O executivo disse que a Simco acreditou que a iniciativa era aceitável porque algumas fábricas do Tuba Group já tinham sido aprovadas para fabricar roupas para a Wal-Mart. A Wal-Mart não quis informar se a Tuba Garments é atualmente sua fornecedora. Mas os repasses não pararam aí.

A Tuba Garments repassou a encomenda de shorts para outra divisão do Tuba Group, chamada Tazreen Fashions Ltd., sem pedir permissão, de acordo com o executivo da Simco.

A Wal-Mart informou em um comunicado na semana passada que já havia proibido a Tazreen Frashions de fabricar suas roupas, mas não deu mais detalhes.

Uma série de auditorias revelou problemas na fábrica da Tazreen Fashions, de acordo com outro documento no site Tuba Group e com auditores terceirizados.

A Wal-Mart informou que sua fornecedora, que não quis identificar, tinha encomendado roupas da Tazreen Fashions sem autorização e que terminou suas relações com a fornecedora após o incêndio.

As tentativas do The Wall Street Journal de entrar em contato com Delwar Hossain, proprietário e diretor administrativo do Tuba Group, foram infrutíferas.

Segundo a imprensa de Bangladesh, Hossain disse em uma coletiva de imprensa na semana passada que acredita que o incêndio pode ter sido criminoso. Em entrevistas, disse também que as auditorias realizadas para a Wal-Mart não levantaram problemas de segurança contra incêndios na Tazreen Fashions.

A Sears também informou que não sabia que suas roupas estavam sendo produzidas na fábrica Tazreen.

Siddiqur Rahman, vice-presidente do grupo de fabricantes de vestuário, disse que a decisão da Wal-Mart de terminar suas relações com a fornecedora, efetivamente cancelando as encomendas, pode causar prejuízos de até US $ 7 milhões e deixar 20.000 trabalhadores sem emprego.

A pressão dos varejistas estrangeiros ajudou a melhorar algumas condições para os operários, incluindo a quase eliminação do trabalho infantil na indústria do vestuário, segundo reconhecem grupos de trabalhadores.

Autoridades de Bangladesh dizem que outras melhoras nas condições de trabalho e nos salários vão custar dinheiro, mas que os varejistas estrangeiros relutam em pagar mais para financiar essas medidas.

Fonte:|http://online.wsj.com/article/SB10001424127887324001104578163841261...

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