Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Bombeiros e trabalhadores tentam apagar o fogo em uma fábrica de roupas em Dhaka, Bangladesh, em 26 de novembro

Os consumidores se acostumaram ao fluxo constante de novidades das lojas de vestuário "fast-fashion" (moda rápida). Em vez de lançar linhas só no começo de cada estação, redes como a Zara, da Inditex, e a H&M, da Hennes & Mauritz, introduzem estilos com frequências que chegam a ser de duas semanas. A renovação constante faz os clientes voltarem às lojas em busca desses produtos, que geralmente são mais baratos.

Mas defensores dos direitos dos trabalhadores afirmam que a moda rápida tem um lado sombrio: a demanda constante por lançamentos pode estar colocando em risco a vida de trabalhadores em países emergentes como Bangladesh, que em poucos meses já registrou dois incêndios em fábricas com vítimas fatais.

Roupas vendidas pela espanhola Inditex, a maior companhia de vestuário do mundo e pioneira do "fast-fashion", foram encontradas em uma fábrica que pegou fogo em 26 de janeiro em Bangladesh, acidente em que pelo menos sete pessoas morreram. Em 24 de novembro, mais de 100 pessoas foram mortas em outro incêndio em uma fábrica no país que produzia roupas para companhias como Sears e Walmart.

O que está em questão é a dependência crescente de um modelo de negócios que encoraja a busca dos menores preços possíveis nas fábricas subcontratadas em países que já possuem alguns dos menores custos de produção do mundo. Para manter seus contratos, as fábricas podem colocar preocupações com as agendas de produção à frente dos direitos ou da segurança dos trabalhadores. "Se elas não conseguem entregar os produtos a tempo, com qualidade e nas especificações que os clientes querem, eles mudarão para o concorrente", diz Richard Locke, professor da Sloan School of Management do Massachusetts Institute of Technology (MIT), cuja pesquisa sobre cadeias de fornecimento o levou a fábricas de várias partes do mundo.

Em seu relatório de responsabilidade corporativa de 2010, a Nike afirmou que "pedir às fábricas para produzirem um número muito grande de estilos é uma das coisas que mais contribuem para as horas extras dos trabalhadores no setor de vestuário". E quando os trabalhadores não fazem pausas suficientes, diz Locke, acidentes podem acontecer.

Roupas das marcas Lefties e Bershka, da Inditex, foram encontradas entre os escombros da fábrica que pegou fogo em 26 de janeiro, segundo o Institute for Global Labour and Human Rights. A Inditex enviou investigadores ao local e parou de fazer negócios com a fornecedora espanhola Wonnover e a subcontratada bangladeshi Centex Textile & Apparel como medida de precaução, segundo o porta-voz da Inditex, Jesús Echeverria.

A alta dos salários e a inflação na China estão levando os varejistas globalizados a transferir a produção para Bangladesh. Uma indústria de US$ 18 bilhões vem florescendo, marcada por fábricas com instalações elétricas precárias, números insuficientes de saídas de emergência e pouco equipamento de combate a incêndios.

Mais de 700 trabalhadores da indústria de roupas já morreram em Bangladesh desde 2005, segundo o International Labor Rights Forum, um grupo de defesa dos trabalhadores de Washington. Ativistas dos direitos dos trabalhadores estão exortando as varejistas internacionais a ajudar a pagar por melhorias na segurança em cerca de 4,5 mil fábricas de Bangladesh. Isso representaria 10 centavos de dólar por peça, ou US$ 3 bilhões em cinco anos, segundo uma análise do Worker Rights Consortium, sediado em Washington.

Os varejistas aderiram ao "fast-fashion" como uma maneira de atrair consumidores que estão tendo que lidar com o desemprego e o aumento dos impostos. "O consumidor americano quer a maior variedade possível e quer já", diz Nate Herman, vice-presidente de comércio internacional da American Apparel & Footwear Association.

Até mesmo o ministro do Comércio de Bangladesh, Ghulam Muhammed Quader, admite a existência de problemas. "A indústria de roupas cresceu de repente em Bangladesh, em um ritmo muito acelerado", disse ele a jornalistas em 30 de janeiro. "O setor cresceu mais que a capacidade de nossas instalações e de controle." Quader diz que novas inspeções estão sendo realizadas em todas as quase 5 mil fábricas de roupas e tecidos do país, para garantir um nível suficiente de segurança e equipamentos de combate a incêndios.

A mudança da indústria do vestuário para Bangladesh coincidiu com a disseminação do "fast-fashion". Antes, as companhias encomendavam roupas para cada estação, e uma peça levava até um ano para sair do conceito para as lojas. As fabricantes de roupas tinham como acelerar a entrega das encomendas, para atender demandas inesperadas do mercado, mas fazer isso custava caro. Então, a Inditex e a H&M mudaram o jogo na década de 90, ao provarem que era possível reduzir o tempo de execução e ainda manter os custos baixos. A H&M, que está entre as maiores compradores de roupas prontas em Bangladesh, vem registrando margens brutas de lucro de mais de 50% nos últimos dez anos. Concorrentes como Gap e Urban Outfitters nunca passaram da ponta mais baixa dos 40% nesse mesmo período. É por isso que grande parte do setor aderiu à moda rápida. A Gap não quis fazer comentários para este artigo, enquanto que a Urbam Outfitters e a Hennes & Mauritz não responderam aos pedidos de entrevista.

Quader, o ministro do Comércio de Bangladesh, diz que as redes ocidentais de vestuário poderiam se esforçar mais. "Se eles abrissem mão de uma parte da margem para a melhoria das condições de trabalho e algumas outras coisas, talvez isso pudesse nos ajudar", diz.

As fábricas frequentemente se sentem à mercê dos grandes clientes. Dois meses atrás, Fazlul Hoque, que preside a fabricante bangladeshi de roupas Plummy Fashions, recebeu uma solicitação de um fabricante de roupas europeus, cujo nome ele não revela, para uma mudança no design das presilhas de cintos de 30 mil calças femininas. A mudança ocorreu dois meses antes de as roupas serem embarcadas, forçando Hoque a colocar sua fábrica para trabalhar em horas extras e absorver os custos adicionais. "É como uma reação em cadeia", diz Hoque. "Os consumidores sempre querem novos modelos, as companhias de roupas seguem a nova tendência e nós pagamos o preço."

Pedir a uma fábrica que substitua ou altere uma encomenda de 20 mil shorts pretos e 5 mil vermelhos pode não parecer muita coisa, "mas apresenta um efeito-chicote", diz Locke do MIT. As fábricas dos fornecedores podem ser forçadas a encomendar novas matérias-primas, trabalhar mais horas ou terceirizar parte da fabricação para poder cumprir as novas demandas. "E elas ainda precisam embarcar os produtos na hora", diz Locke. O desejo de mais flexibilidade significa que as companhias de vestuário resistem a assinar contratos de prazos mais longos com os fornecedores, o que segundo grupos de defesa dos trabalhadores melhoraria a segurança.

Em última análise, a indústria do vestuário terá de oferecer menos escolhas, afirma Locke. Isso é um pesadelo para os grupos varejistas, que alegam estar apenas respondendo à demanda do consumidor. Scott Nova, diretor-executivo do Worker Rights Consortium, não compra a ideia de que os consumidores foram fisgados pelo "fast-fashion". "Isso é uma expectativa que os varejistas criaram", diz. "Os consumidores não exigiam isso 20 anos atrás. Os varejistas precisam recuar nessa postura absurda de mudar os estilos a cada 15 minutos, se quiserem que as fábricas apresentem uma segurança mínima." (Tradução de Mario Zamarian)

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