Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Inclusão e diversidade dão o tom do desfile de encerramento do Senai Brasil Fashion 2018- SENAI Cetiqt

Evento apresentou as minicoleções que os alunos dos cursos de moda produziram com a orientação dos estilistas Alexandre Herchcovitch, Lenny Niemeyer, Lino Villaventura e Ronaldo Fraga

“Todo mundo tá na moda”. Este foi o tema da 5ª edição do SENAI Brasil Fashion, cujo grand finale aconteceu na última quinta-feira (22) com o desfile realizado no Espaço Ação e Cidadania, no Rio de Janeiro. A diversidade e a inclusão dominaram a passarela em minicoleções criadas por 12 duplas de alunos de unidades SENAI de nove estados, com a orientação dos renomados estilistas Alexandre Herckcovich, Lenny Niemeyer, Lino Vilaventura e Ronaldo Fraga. As peças, literalmente, “falavam”, dando recados ao público, mostrando que a roupa também é uma forma de comunicação.

A mestre de cerimônias do evento foi a atriz Giovanna Ewbank, que apresentou ao público o projeto desenvolvido pelo SENAI CETIQT, principal polo formador de mão de obra para a indústria da moda e têxtil, situado no Rio de Janeiro.

“O tema deste ano lançou para as duplas de alunos o desafio de pensarem na diversidade de públicos que compõem a sociedade e que consomem moda, levando-os a desenvolverem projetos de design de minicoleções de moda baseados em necessidades, desejos, valores e lugares no mundo desses públicos consumidores. Alguns públicos para os quais as minicoleções foram desenvolvidas são mais próximos ou familiares aos seus criadores. Já outros bastante distantes, em termos psicológicos, tanto desses estudantes quanto de quem cria e produz moda no mercado hoje, mais comumente baseados em modelos ideais de beleza, corpo, forma física, entre outros”, destaca Marcelo Ramos, curador, pelo SENAI Cetiqt, do SENAI Brasil Fashion.

“O SENAI Brasil Fashion é um enorme incentivo para todos, mesmo para nós que trabalhamos com moda há muito tempo, porque nos dá a esperança de que haverá continuidade, com a originalidade e a identidade que a moda brasileira precisa”, ressaltou o estilista e coach Lino Villaventura.

O desfile foi aberto pela top Carol Trentini, que vestiu uma peça da minicoleção desenvolvida pela dupla pernambucana Theo Pereira, estilista, e Janaína Albuquerque, modelista. Eles apresentaram a coleção A Cor do Toque, criada para deficientes visuais. Inspiradas no montanhismo, as roupas trouxeram formas amplas, cores vivas, texturas e furos, simulando o Código Braile, que também estava impresso nas etiquetas internas. “Nós imaginamos que pessoas com deficiência visual, seja em qual grau for, no dia a dia com pouca acessibilidade, passam pelas mesmas dificuldades de que escalar uma montanha. Foi assim que a inspiração surgiu”, explicou o estilista.

Depois foi a vez de uma das duplas de alunos do SENAI CETIQT, do Rio de Janeiro. A estilista Isabela Santiago e a modelista Maria Levy apresentaram a coleção Após-Calypso, que fez um manifesto em favor da cultura brasileira. O desfile trouxe peças descontruídas, elaboradas com materiais inusitados, como pedaços de capachos, cordas, canudos, cadarços, telas de mosquito e redes de futebol. Além disso, as jovens exibiram um vídeo com elementos representativos da cultura brasileira se incendiando, incluindo o Museu Nacional. “Nossa coleção mostra que, apesar de todo o descaso dispensado à cultura em nosso país, ainda somos capazes de sobreviver e ressurgir, trazendo coisas bonitas, criando o luxo do lixo’, contou Isabela.

A dupla Stevan Krieg e Gabriela Louise, estilista e modelista de São Paulo, foi a terceira a mostrar suas peças na passarela, com a participação especial do modelo Paulo Zulu. Segundo o estilista, a coleção VIDAtiva, toda confeccionada em jeans e inspirada no street wear, “vem tirar essa máscara de que as pessoas mais velhas são limitadas ou não podem ter uma vida ativa”.

O estado Piauí também foi representado no SENAI Brasil Fashion. Eka Alves, estilista, e Lucas Mesquita, modelista, desenvolveram a coleção Corpos em Fluxo, inspirada no empoderamento do público LGBT. Na passarela, a top Marina Dias brilhou com uma peça feita em vinil, crochê e transparências.

Já a dupla Gabriela Henkels e Milena Gardin, estilista e modelista de Santa Catarina, apresentou a coleção Narrativas da pele, com peças cheias de recortes e texturas, em tons de roxo, vermelho e bege, remetendo à cicatrização da pele. “Trouxemos a pele como uma cultura viva, algo que expõe registros da vida de uma pessoa. Por mais que um machucado cicatrize ou se tente consertar imperfeições, a pele nunca mais será a mesma e trará para sempre as marcas de um momento da história do indivíduo”, contou a dupla. Para desfilar tais peças, elas levaram à passarela a top Celina Locks, além de um modelo com vitiligo e uma modelo albina.

Pernambuco também levou mais uma dupla ao SENAI Brasil Fashion. A estilista Cintia Grazz e a modelista Fabíola Araujo criaram peças para mulheres mastectomizadas. A coleção Corpos tatuados pela coragem mostrou roupas brancas com pontos bordados a mão, representando as cicatrizes da cirurgia; além de flores, também bordadas em transparência, representando as tatuagens que muitas mulheres fazem no local dos seios após a mastectomia. “Queremos mostrar que mesmo depois de passar por todo esse doloroso processo a mulher não precisa perder sua feminilidade, força e autoestima, sendo exemplo para tantas outras”, disse Cintia.

São Paulo também teve duas duplas no SENAI Brasil Fashion. Com a minicoleção Nenhuma a menos, representando o feminismo, Maurício Caetano, estilista, e Tamires Souza, modelista, criaram uma moda beach wear, com referências dos anos 1980, década em que a mulher ampliou sua participação na sociedade. E, para representar essa voz, foram apresentadas peças cheias de bocas e até um casaco com a figura de um útero bordado desfilado pela Top Renata Kuerten. “A coleção representa um corpo que fala, que dá liberdade à mulher para mandar no seu próprio corpo. As peças cheias de transparências, quase que mostrando os seios, traduzem um questionamento do porquê de o homem poder ter certos comportamentos e a mulher não”, explicou Maurício.

Logo após a dupla paulista, vieram Mayara Mamede, estilista, e Thiago Gritten, modelista, de Curitiba, com a coleção A semelhança entre nossas diferenças. Com peças agênero, feitas em palha de seda, a coleção foi inspirada no reaproveitamento daquilo que é imperfeito. “O novo nem sempre é composto por algo bonito; ele pode ser construído a partir de algo com defeito. Para fazer as peças incorporamos o trabalho da Casulo Feliz, empresa do nosso estado, que confecciona palha de seda a partir de casulos que não são aceitos na indústria de seda pura”, explicou Thiago.

A dupla potiguar Anna Elissa Dantas e Iure Dantas, estilista e modelista, desenvolveu a coleção Brilhante, voltada para cegos e inspirada na figura do cangaceiro Jesuíno Brilhante. “Nos inspiramos na figura heroica desse ícone do Rio Grande do Norte para mostrar que pessoas com deficiência visual não têm suas necessidades assistidas pela indústria da moda”, disse Iure. Segundo ele, “para atender a esse público não é preciso desconstruir o sistema. Uma simples etiqueta interna em braile, mencionando o tamanho da roupa, a cor e instruções de lavagem, já pode facilitar a vida e tornar essas pessoas independentes, sem que precisem de alguém para comprar a própria roupa ou até mesmo lavá-la no dia a dia”. A dupla levou para a passarela um modelo cego e peças cheias de texturas e referências nordestinas, com bordados manuais em alto relevo e outros inspirados em flores da caatinga; além de frases em braile.

Do Maranhão vieram a estilista Marielle Matterazzi e a modelista Josene Viegas, que apresentaram a coleção Um grito para a moda, com peças feitas a partir da desconstrução de chapéus de fibra de buriti.

E de Minas Gerais vieram o estilista Otávio Augusto e o modelista Douglas Carlos, que ousaram ao levar para a passarela modelos amputados, que usam próteses nas pernas. Com a coleção Os Fortes Vivem, eles desenvolveram peças inspiradas em um cenário apocalíptico do pós-guerra. “As pessoas que sobreviveram a uma tragédia trazem marcas e devem exibi-las como troféus”, explicou o modelista.

Encerrando o evento, a outra dupla carioca do SENAI CETIQT apresentou sua minicoleção. O estilista João Pedro e a modelista Alice Py levantaram a plateia ao exibirem a coleção Tira o olho, curiosa, inspirada no empoderamento gay. “O dia a dia do gay é parecido com uma batalha, as pessoas olham torto, xingam, violentam. Nossa coleção é como se fosse um contra-ataque”, explicou João Pedro. Representando essa postura, entraram na passarela modelos vestidos com peças similares a dos lutadores de boxe; mas com short, cinturão, quimono e botas amplamente bordados com canutilhos e peças em acrílico, cheias de figuras e mensagens divertidas. A top transexual Valentina Sampaio encerrou o desfile com um look militar, bordado com grandes olhos e o nome da coleção em acrílico, trazendo na cabeça um capacete com chifres de veado.

“Esta edição é um divisor de águas pelo próprio tema, que é muito pertinente com o momento que vivemos no mundo. A partir disso, conseguimos construir uma ação estruturante de mudança de pensamento sobre o que é diversidade e inclusão a partir da moda”, pontuou Jackson Araujo, consultor criativo do SENAI Brasil Fashion.

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