Indústria de vison em declínio

[Romildo de Paula Leite]

Os receios relacionados com a transmissão de vírus, reforçados pela pandemia, e a pressão por parte dos ativistas, que reduziu a procura, está a afetar gravemente a indústria americana de produção de pele de vison.

[©Pixabay-Nibman]

A produção de vison nos EUA está numa «espiral para a morte», de acordo com Wayne Pacelle, presidente dos grupos de defesa dos direitos dos animais Animal Wellness Action e do Center for a Humane Economy, citado pelo Sourcing Journal.

Foi assim que resumiu os números mais recentes do Departamento de Agricultura dos EUA sobre a produção de pelo deste animal, que caiu 15%, para 1,33 milhões de peças entre 2021 e 2022, o que representa a queda mais acentuada desde que a agência começou a registar esta informação. O Wiscosin, o maior estado produtor, gerou 571.750 peles, uma descida de 1,3% em comparação com o ano anterior. Já o Utah, o segundo maior produtor em termos estaduais, produziu 266.700 peles, o que significa uma queda de 16,6%.

Em valor, em 2022, as peles de vison registaram uma redução de 17%, de 47 milhões de dólares em 2021 para 39,2 milhões de dólares. O preço médio por pele para 2022 foi de 29,40 dólares, uma descida de 0,60 dólares face aos 30 dólares do ano anterior, o que sugere que «mesmo o número modesto de peles que saem dos EUA não está a atrair uma forte procura por parte dos compradores estrangeiros», destaca Wayne Pacelle.

O que mais sobressai, aponta, é o facto do número de fêmeas de vison criadas para gerar crias em 2023 ter baixado 31%, para 245.160.

«A criação de vison está numa espiral para a morte, sem um mercado doméstico reconhecido para as peles, falta de interesse do mercado externo e um estigma merecido como uma atividade desumana que representa uma ameaça grave de propagação de vírus para os americanos insuspeitos», destaca Wayne Pacelle.

A pandemia terá tido um papel no declínio da criação de visons. Em 2020, quando o covid alastrava, verificou-se que quintas de vison em meia dúzia de países estavam infetadas com uma variante do SARS-CoV-2, nomeadamente na Dinamarca, que ordenou a destruição de 17 milhões de animais com receio de que estes pudessem transmitir o vírus aos humanos.

O receio de contágio também levou os legisladores americanos a tomarem medidas, com as chamadas MINKS Act e Mink VIRUS Act, que referem que as condições de superlotação e pouco sanitárias em que os visons são mantidos promovem a disseminação de doenças zoonóticas, colocando um perigo para a saúde pública.

Procura em queda

Uma vez que praticamente não existe mercado interno para vison – a Califórnia proibiu a venda de peles desde 2019, o mesmo acontecendo com grandes retalhistas como o Bloomingdales, Macy’s, Neiman Marcus e Nordstrom – a maior parte das peles têm como destino a exportação para países como a China, que absorve até 80% das exportações americanas deste produto.

As vendas de peles estão igualmente em declínio no resto do mundo desenvolvido, com marcas de luxo como a Gucci a deixarem de usar o material devido à pressão dos ativistas, mudanças na legislação e alteração de gostos por parte dos consumidores, apesar dos defensores da pele afirmarem que a inflação crescente, a invasão da Ucrânia pela Rússia e as temperaturas mais altas do que o habitual estão a afetar tanto ou mais o mercado, garantindo que a anunciada morte das peles é muito exagerada.

«Os poucos produtores de vison na América estão a produzir peles para as elites na China e, no processo, estão a colocar o nosso país em risco devido às ameaças de doenças zoonóticas únicas colocadas pela manutenção destes mamíferos selvagens, solitários e semiaquáticos em confinamento extremo nas fábricas das quintas», resume o presidente dos grupos de defesa dos direitos dos animais Animal Wellness Action e do Center for a Humane Economy.

https://portugaltextil.com/industria-de-vison-em-declinio/

Para participar de nossa Rede Têxtil e do Vestuário - CLIQUE AQUI