Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

A indústria têxtil e de confecção atravessa um dos piores momentos da última década. Não faltam resultados ruins. Medida pelo IBGE, a produção de têxteis encolheu 17,4%, em 12 meses, encerrados em abril de 2016. No mesmo período, a fabricação de artigos do vestuário e acessórios recuou 11%. Os dados relacionados ao emprego nessa cadeia produtiva, por sua vez, mostraram um saldo de 100,3 mil demissões, entre junho de 2015 e maio deste ano, conforme levantamento do Caged / MTE. Números para lá de recessivos e que refletem, no limite, a realidade do comércio do setor, que amarga, até o último mês de abril, uma queda de 10,8% em 12 meses.

Vislumbra-se, contudo, esparsos sinais de recuperação. Não são muitos, tampouco consistentes ou que possam revelar uma tendência, mas já estão presentes. Pesquisa mensal realizada em junho pela ABIT (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção) revela que a capacidade ociosa está alta e os estoques estão baixos. Com efeito, qualquer retomada da atividade pode ser atendida sem pressão inflacionária e deve resultar em encomendas para os elos anteriores da cadeia (algodão, insumos químicos, tintas, etc).

Ainda com base na pesquisa da ABIT, identificou-se que cerca de 20% das empresas ainda pretendem fazer demissões. Todavia, esse número em janeiro era superior a 40%, o que indica progressiva melhora do quadro. Percepção em linha com os dados do Caged/MTE de maio que registraram 219 demissões, ante aos 6,5 mil desligamentos de igual mês do ano passado.

No tocante à balança comercial do setor, o déficit de US$ 1,3 bilhão acumulado até maio é quase 50% inferior ao que se registrou nos cinco primeiros meses de 2015. Embora a desvalorização cambial represente estímulo ao produtor local, as exportações ainda não reagiram (ao contrário, apresentaram 9% de queda no acumulado do ano). De outro lado, a redução das importações (42%) foi o vetor responsável pela melhoria da balança setorial.

Ainda que as exportações se mostrem tímidas frente ao atual patamar de câmbio, há perspectiva de melhora, quer seja para as empresas que já exportam ou para aquelas que pretendem fazê-lo no futuro (ABIT). Das que já têm presença no mercado externo, 56% delas creem que vão conseguir exportar mais em 2016 em comparação ao ano anterior. Por sua vez, cerca de 70% daquelas que ainda não vendem para o exterior já admitem comercializar produtos em outros países.

Diante dessas informações, é possível inferir que o momento mais agudo da crise pode ter ficado para trás. Nota-se que o setor têxtil e de confecção estancou a sua deterioração, mas ainda está longe de apresentar uma convicta tendência de recuperação. Por enquanto, observa-se a interrupção do processo de deterioração, acumulada por meses seguidos.

Para uma retomada consistente, o setor necessita de importantes avanços. Sem dúvida, passa pela recuperação das vendas do comércio varejista e, diante disso, novas encomendas à indústria doméstica. Isso dependerá, porém, do comportamento de variáveis como a taxa de câmbio, que não poderia se valorizar a níveis inferiores a R$ 3,40 por dólar. Aliás, esse valor se revela insuficiente para tornar o produto nacional competitivo em determinados mercados no exterior, ainda que esteja ajudando, momentaneamente, a reduzir as importações.

Outros aspectos merecem atenção e são fundamentais para que o setor volte a crescer e contratar. Sem a pretensão de exaurir todas as recomendações emergenciais, consideramos imprescindível:

  • Garantir fôlego às empresas do setor por meio do alongamento dos prazos de recolhimento dos tributos, a fim de que não precisem recorrer a taxas proibitivas do sistema financeiro para honrar as suas obrigações tributárias;
  • Ainda na seara financeira, urge viabilizar linhas de crédito em condições palatáveis, de modo que a contratação não se faça à base de juros de 130% ao ano (ou acima de 300%, se a decisão for operar com cheque especial) e;
  • Assegurar rentabilidade para as exportações dos produtos têxteis, estabelecendo uma política de administração da taxa de câmbio que reduza a volatilidade e a impeça de se valorizar abaixo de R$ 3,40 / US$. Nessa linha, outra iniciativa importante seria o retorno do percentual de 3% para o Reintegra, como forma de devolução do resíduo tributário remanescente na cadeia produtiva de bens exportados.

A indústria têxtil e de confecções – assim como grande parte da indústria de transformação – mostrou sua resiliência ao longo de décadas, ao sobreviver à concorrência internacional desde a abertura comercial do Governo Collor. Hoje, atravessa um momento delicado, com níveis de produção inferiores aos do período da crise mundial de 2008 / 2009.

Ainda que tenha resistido o suficiente para empregar quase 1,4 milhão de brasileiros, essa indústria merece atenção, sobretudo quando a taxa de desemprego supera dois dígitos e pode crescer ainda mais. Oferecer condições que ampliem a oferta, especialmente para o mercado externo, é fator indispensável para que o setor volte a crescer e, assim, possa ajudar a reduzir o desemprego e as mazelas decorrentes.

Haroldo Silva¹

[1] Economista, Consultor da Macrosector Consultores e da ABIT (Associação Brasileira da Indústria Têxtil).

Para participar de nossa Rede Têxtil e do Vestuário - CLIQUE AQUI

Exibições: 372

Responder esta

© 2024   Criado por Textile Industry.   Ativado por

Badges  |  Relatar um incidente  |  Termos de serviço