Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Com o encerramento previsto de 1.200 lojas, a empresa comprometeu-se a dar novos postos de trabalho aos funcionários afetados, mas as vagas que estão a ser oferecidas não são equivalentes, com menos horas de trabalho e turnos só à noite ou fim de semana. Os sindicatos afirmam tratar-se de «despedimentos disfarçados».

[©Inditex]

A estratégia da Inditex de encerrar as lojas mais pequenas e com menos rentabilidade e expandir as lojas maiores está a ser já implementada em Espanha, com o país a ser o primeiro a entrar nas contas dos 700 pontos de venda que deverão fechar na Europa, a que se somarão mais 100 nas Américas e 400 no resto do mundo.

Segundo um acordo assinado em dezembro, a que a Reuters teve acesso, com dois sindicatos espanhóis, a Inditex pretende dar a todos os funcionários afetados novos postos de trabalho que correspondam aos seus contratos e senioridade dentro de um raio de 25 quilómetros do seu emprego anterior.

Os sindicatos e os empregados, contudo, afirmam que isso não está a ser cumprido. Num relatório interno visto pela Reuters, a UGT – Unión General de Trabajadores analisou a oferta de novos empregos da Inditex e concluiu que 40% das novas posições eram fora da província onde o trabalhador em questão tinha trabalhado e, em alguns casos, do outro lado do país. O relatório indica que, até agora, um em cada quatro trabalhadores a quem foi oferecido um novo posto de trabalho se demitiu.

«Se os trabalhadores que habitualmente trabalhavam 40 horas têm agora a oferta de trabalhos de 12 horas, a horas de distância, isso não é preservar o emprego», sublinha Cristina Estevez, representante para o retalho da UGT.

A UGT, o segundo maior sindicato espanhol representado na Inditex, assinou o acordo com a empresa juntamente com sindicato mais representado, a CCOO – Confederación Sindical de Comisiones Obreras.

Um porta-voz da Inditex indica, num email para a Reuters, que a empresa está a cumprir o acordo com os sindicatos e que as relocalizações respeitam «todos os seus princípios, tanto nas palavras como no espírito, que é dar prioridade à manutenção dos empregos».

A empresa está a oferecer mais do que uma vaga por cada posto de trabalho extinto, garante o porta-voz, sublinhando que 75% dos trabalhadores foram realocados com sucesso até agora.

Mais empregos

As vendas de vestuário na Inditex e em rivais como a H&M e a Next recuperaram no final do ano de valores mínimos recorde provocados pelo primeiro impacto da Covid-19, graças às compras online e a uma rápida recuperação na China. Mas a retoma completa da indústria do retalho no mundo ocidental tem sido fortemente afetada por confinamentos sucessivos e o ritmo lento da vacinação.

De acordo com os dados da Eikon Datastream e do Eurostat, o número de pessoas empregadas no sector está bastante abaixo dos níveis pré-pandemia, com menos cerca de 350 mil postos de trabalho na Europa e quase menos 400 mil nos EUA.

Em junho, a Inditex revelou pretender fechar mil a 1.200 lojas mais pequenas, tendo, até ao momento, anunciado o encerramento de 114 lojas em Espanha, representando 986 postos de trabalho, refere a CCOO, com os sindicatos a antecipar o fecho de mais 186 pontos de venda.

O número de vagas oferecidas até agora é equivalente a 126% dos postos de trabalho afetados, salienta o porta-voz da Inditex à Reuters.

Menos horas

Seis sindicatos espanhóis contactados pela Reuters, incluindo a CCOO e a UGT, afirmam que a elevada proporção de vagas em diferentes regiões para menos horas e mais noites e fins de semana está além do âmbito do que eles esperavam.


[©Inditex]

Alguns trabalhadores revelam que as opções que lhes foram oferecidas significariam reduzir o número de horas trabalhadas de 30 a 40 por semana para apenas 20, com os turnos a passarem a ser à noite e fins de semana, como mostram os documentos com as novas vagas a que a Reuters teve acesso.

«Basicamente estão a convidar-nos a sair», sustenta uma trabalhadora da Zara em Guadalajara, perto da capital Madrid, que pediu anonimato por medo de repercussões na sua carreira. «As vagas que ofereceram na nossa loja eram de oito ou 16 horas por semana, sempre aos fins de semana ou até apenas ao domingo, quando a maior parte dos funcionários fazia habitualmente 20 ou 40 horas por semana. Estão a gozar connosco», acrescenta.

O porta-voz da Inditex contrapõe afirmando que aos trabalhadores de Guadalajara foi oferecida a melhor alternativa disponível nas proximidades.

Sob o acordo de dezembro, a Inditex comprometeu-se a reembolsar os custos de transporte até 90 euros por mês quando a relocalização dentro dos 25 quilómetros é impossível e a cobrir as despesas de deslocalização se o funcionário tiver de mudar de casa. De outra forma, os trabalhadores podem optar por sair, recebendo a compensação proporcional aos anos de trabalho.

Alguns funcionários em Barcelona receberam propostas para trabalharem em Santander, uma viagem de sete horas de automóvel, exemplifica a UGT. O sindicato CGT – Confederación General del Trabajo em Madrid revela que a um trabalhador foi oferecida uma posição em Melilla, uma cidade espanhola autónoma no Norte de África.

«São despedimentos disfarçados», considera o secretário da CGT para a Zara em Madrid, Anibal Maestro. «Quando se propõe estas mudanças, estamos a forçar os trabalhadores a despedirem-se», aponta.

Cheque em branco

O porta-voz da Inditex argumenta que o acordo com os sindicatos prevê o facto de vagas mais longe poderem ser atrativas para algumas pessoas, citando o exemplo de cinco trabalhadores que pediram para serem colocados a distâncias maiores.

A retalhista de moda, que é a maior em termos de volume de negócios, expandiu a sua rede de lojas, de 1.942 pontos de venda em 2012 para 7.199 no seu pico. Mas apenas 450 lojas irão abrir entre 2020 e 2022, indicou a empresa, numa altura em que procura aumentar as suas vendas online de 14% para 25%.

Noutros pontos na Europa, as negociações relativamente ao encerramento de lojas ainda está em curso, de acordo com o UNI Global Union, que está a supervisionar o processo com sindicatos nacionais na região.


[©Inditex]

Numa videoconferência com o European Works Council (EWC) da empresa, em junho, a Inditex assegurou que os funcionários afetados pelos encerramentos iriam receber propostas de trabalho alternativas.

«Ambas as partes concordaram que salvaguardar o emprego, formar as pessoas para responder às novas funções derivadas da transformação digital e da organização do trabalho… constituem a chave no plano de trabalho», referem a Inditex e a EWC num comunicado conjunto publicado a 21 de dezembro.

Uma posição reforçada pelo porta-voz da Inditex à Reuters, que assegura que manter o emprego para os atuais colaboradores é uma prioridade nos locais onde há o encerramento de lojas.

Mas os trabalhadores no terreno continuam com receio, sobretudo os que estão ligados aos sindicatos que não assinaram o acordo.

«Esse acordo foi um cheque em branco para a empresa», considera Jose Angel Parejo, funcionário da Zara e membro do sindicato AST – Alternativa Sindical de Trabajadores, acrescentando que teme que os seus 13 anos na empresa terminem quando a sua loja, no centro de Madrid, encerrar este mês. «Eles comprometeram-se com uma equivalência em número de vagas, mas não na qualidade», conclui.

FONTEReuters
https://www.portugaltextil.com/inditex-acusada-de-ma-conduta/
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