Sucessor na Têxtil Bezerra de Menezes (TBM) de seu pai, o industrial Ivan Rodrigues Bezerra, que comandou o Sinditêxtil por três gestões, o empresário Ivan Bezerra Filho acumulou nos últimos três anos as funções de vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) e presidente da TBM, além de exercer mandato de três anos na presidência do Sinditêxtil – posto que passa agora para o empresário Germano Maia (veja texto coordenado na página 38). Ivan Filho diz que ao deixar a presidência do sindicato, o faz realizado porque conseguiu levar a efeito alguns de seus sonhos, dentre eles enxergar o setor têxtil como cadeia produtiva que englobasse todo o setor.
Como você descreveria o setor têxtil cearense? Nosso setor tem uma particularidade interessante. Ele foi constituído basicamente por empresários do estado. À época, existia algodão no Ceará e havia incentivos da Sudene e do governo, logo foram os próprios empresários que fizeram as empresas. Naquele momento, só havia um grupo de fora, a Vicunha, mas em sociedade com um grupo cearense. Então, tudo que se ganhou nesse setor foi reinvestido no próprio estado. É por isso que o setor é extremamente moderno e forte. O Ceará hoje é o maior produtor de índigo, de fios e de lingerie do país. É muito importante também noutros segmentos, mas nesses três é o maior. A indústria têxtil hoje é extremamente competitiva para o momento atual, mas temos grandes dificuldades em relação ao câmbio e aos impostos em cascata praticados no Brasil.
O perfil do setor ainda é o mesmo hoje? Quantas empresas e qual o número de empregos gerados? Hoje, esse perfil mudou um pouco. Falando da cadeia produtiva, atualmente vemos grandes grupos de confecções migrando do Sul do país para cá. A Marisol há algum tempo está instalada aqui e a Malwee e a Lunender acabaram de se instalar; agora há também a Zanoti, fabricante de elásticos, e várias outras. No momento, o Ceará possui acima de 2 500 confecções que geram mais de 70 000 empregos na cadeia produtiva têxtil. Isso mostra a relevância do setor.
Quais os principais desafios e ameaças? Podemos dizer que o maior deles é a concorrência com os produtos asiáticos? O maior desafio pelo qual passa o setor hoje está relacionado às reformas que o Brasil teima em não fazer. Da porta da fábrica para dentro, o segmento é extremamente competitivo. Agora, quando há impostos em cascata e gastos excessivos do governo, que fazem com que o país não baixe seus juros e o câmbio seja depreciado, fica complicado manter a competitividade lá fora. Logo, o problema brasileiro não é causado pela Ásia, mas pelo próprio governo brasileiro, que não faz suas reformas. Agora, a consequência disso é que o produto asiático entra aqui mais barato, já que a energia brasileira é a mais cara do planeta e a folha de pagamento é a mais pesada do mundo porque tem muitos encargos. Ou seja, é a consequência de o governo não fazer o dever de casa.
O setor têxtil do Ceará está realmente perdendo força com a guerra fiscal entre estados? Quais os caminhos para mudar essa realidade? Essa é mais uma aberração brasileira. Nove estados brasileiros, inclusive o Ceará, dão incentivo fiscal para se importar produtos. Enquanto a indústria nacional paga 12% ou 17 % de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), o produto importado paga somente 4% e mais nada. Portanto, a guerra fiscal está prejudicando não só o setor têxtil, mas diversas atividades manufaturadas no Brasil.
É verdade que as peças de confecção importadas da Ásia possuem componentes no tingimento nocivos à saúde humana e que os fabricantes brasileiros de tecidos são proibidos de utilizar o mesmo tipo de substância no processo fabril? É difícil acreditar, mas as roupas que vêm da Ásia e da China usam corantes que no Brasil são proibidos por serem prejudiciais à saúde humana. E o Brasil deixa que a China exporte para cá produtos com esses componentes. Essa é outra aberração. Como é que não podemos produzir com esse componente, que é extremamente mais barato, e na China eles podem exportar para o Brasil? Repito: o problema brasileiro não é a China, é o governo brasileiro.
No comércio internacional, onde os maiores e principais mercados já estão cativos dos produtos asiáticos, nossa alternativa seria nos voltar aos pequenos importadores? Os pequenos nichos podem devolver a força do setor têxtil cearense nas exportações? Essa é uma visão conformista que não aceito. O Brasil tem uma indústria que sempre foi exportadora. Nós mesmos, aqui na Têxtil Bezerra de Menezes, já chegamos a exportar para 16 países e hoje não exportamos para nenhum em função da depreciação cambial. Então, procurar alguns nichos com valor agregado é uma alternativa possível, mas não deve ser a única. Onde ficam toda a produção e know-how de exportação que temos? Jogamos fora? Logo, o caminho é fazer as reformas, o governo diminuir os gastos para possibilitar a baixa dos juros. Com isso, o câmbio voltará à normalidade e o Brasil será de novo competitivo.
Como o ad rem ajudaria a reduzir a competitividade dos produtos asiáticos no mercado interno brasileiro? Qual é a dificuldade para implantá-lo no setor têxtil do Brasil? O ad rem torna mais difícil a entrada do produto ilegal. Porque ele é um valor específico por unidade de mercadoria, de no mínimo 1 dólar, e não um percentual. Então, acaba com o subfaturamento. A dificuldade para implementá-lo é que falta vontade política. O governo já implementou para os calçados, mas para o têxtil ainda não.
Faça um balanço de sua gestão à frente do Sinditêxtil. Qual o legado que deixa para a nova diretoria? Saio feliz porque nesse período realizei alguns dos meus sonhos. Um deles era enxergar o segmento têxtil como cadeia produtiva e englobar todo o setor. Para isso, conseguimos fazer o Polo Moda, que foi um projeto conjunto com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), o governo do estado e a FIEC, no qual capacitamos empresários da cadeia produtiva. Fizemos também o Plano Setorial de Qualificação (PlanSeQ) para 2 000 costureiras, hoje todas empregadas. Depois, conseguimos recursos para o CTV, que é um centro tecnológico de treinamento. Conseguimos aprovar na Confederação Nacional da Indústria (CNI) e o dinheiro já está na conta para tocar a obra. Fizemos o guia do trabalhador têxtil para trazer o trabalhador para o nosso lado. Realizamos concurso para promover a costureira, o estilista e o designer. Conseguimos que o governo do estado desse um incentivo diferenciado para o setor têxtil. O grande aprendizado é que se temos bons projetos não faltam recursos. Em três anos, conseguimos mais de 7 milhões de reais em recursos para os nossos projetos. Deixamos o sindicato com quase um ano de despesas fixas no caixa. A grande lição é: vamos parar de reclamar e arregaçar as mangas que, com bons projetos e boas ideias, teremos dinheiro abundante para efetivarmos os projetos. Outro ponto importante é que o sindicato não é feito de um presidente, mas de todos os associados. E eles juntos fazem a diferença.
Fortalecimento e união
Aclamado por unanimidade para suceder Ivan Bezerra Filho, o empresário Germano Maia Pinto, sociodiretor da Tramix Indústria e Comércio Têxtil Ltda. – fabricante de linhas de costura e aviamentos –, tomou posse em 3 de outubro na presidência do Sinditêxtil, sindicato filiado à FIEC, para o período 2011/2014, com a promessa de manter o foco da entidade no fortalecimento e na união da cadeia têxtil.
Dentre os projetos iniciados, que terão continuidade durante sua gestão, aponta o Centro de Tecnologia da Cadeia Têxtil e do Vestuário, o Polo Moda e o PlanSeQ. “São os mais marcantes na minha visão empresarial. Esses projetos já estão na minha agenda de trabalho”, assegurou o empresário, que pretende continuar aproveitando toda a estrutura do Serviço Social da Indústria (SESI/CE) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI/CE) na qualificação de mão de obra para o setor.
Germano Maia disse que dará ênfase à gestão participativa por meio da formação de parcerias com instituições que fortaleçam as ações do sindicato, como o Sistema FIEC, Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), Sindicato da Indústria de Confecção de Roupas e Chapéus de Senhoras do Estado do Ceará (Sindconfecções) e Sindicato da Indústria de Confecções de Roupas de Homem e Vestuário do Estado do Ceará (Sindroupas), dentre outras. “Sozinhos somos apenas elos perdidos. Sinto-me encorajado porque estou cercado de pessoas competentes para enfrentar todos os desafios”, afirmou.
Para ele, o setor têxtil está no DNA do cearense, devendo, portanto, ser tratado com respeito. “Quem não tem algum antepassado que numa máquina de costura se aventurava a fabricar roupas? Essa prática empreendedora se dissemina hoje na indústria têxtil e de confecção, gerando no Ceará mais de 60 000 empregos diretos. Nosso estado é o quarto polo brasileiro da indústria têxtil e de confecção. Somos líderes na produção de índigo, de fios e de moda íntima”, frisou Germano Maia.
Em relação ao cenário econômico mundial, lembrou que atualmente o mundo olha para o Brasil de forma especial quando se fala de investimento e da mesma forma o Brasil está olhando para o Ceará. “A gente tem de saber aproveitar com sabedoria esse momento”, alerta o líder classista, que garante estar consciente de que “a missão de presidir o Sinditêxtil é de extrema responsabilidade”.
Ao dar posse à nova diretoria, o presidente da FIEC, Roberto Proença de Macêdo, destacou que o sindicato é um dos mais ativos da Federação e também um dos mais importantes no aspecto econômico, de prestígio e atuação nacional e pela liderança que exerce sobre toda a cadeia têxtil cearense.
Segundo Roberto Macêdo, o Ceará vai voltar a ser destaque nacional na cadeia têxtil e de confecção. “Vamos superar o fantasma da China. Temos design e qualidade. Agora, é nos mover nessa direção. Desejo sucesso e força à nova diretoria para enfrentar a crise mundial e eventualmente crises setoriais.”
Diretoria Sinditêxtil 2011-2014
Germano Maia Pinto - presidente
Fábio Diniz Pinheiro - 1° vice-presidente
Rafael Cabral - vice-presidente administrativo
Maurício Targino - vice-presidente administrativo adjunto
Graziela Teixeira - vice-presidente financeiro
Leandro Pereira de Araujo - vice-presidente financeiro adjunto
Delegados na FIEC:
Titular: Germano Maia Pinto
Suplentes: Fábio Diniz Pinheiro e Rafael Cabral
Conselho fiscal: Eduardo Machado, Alexandre Kang e Franzé Fontenelle. Suplência: Cláudio Milério, Alcidez Zulian e Manoel Trajano
Conselho consultivo: Germano Maia, Ivan Bezerra Filho, Verônica Perdigão, Paulo Baquit, Assis Machado e Raimundo Delfino
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