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Manifestantes protestaram em frente à loja de roupas Primark em Londres, exigindo o fim da exploração na indústria têxtil |
As grandes empresas têxteis sofrem a pressão da tragédia de Bangladesh da semana passada, que deixou quase 400 mortos, após o desbloqueio das primeiras indenizações e dos múltiplos apelos à transparência do processo de produção deste setor.
Menos de uma semana após o desabamento de um edifício que abrigava várias confecções perto da capital de Bangladesh, Dacca, duas empresas que tinham seus produtos fabricados no local se comprometeram a indenizar as famílias das vítimas.
A marca britânica Primark tomou a iniciativa na segunda-feira, sem informar o valor dos auxílios financeiros. Ela foi seguida pelo grupo canadense Loblaw, ligado a este edifício através de sua filial de roupas de baixo custo Joe Fresh, que prometeu uma ajuda significativa.
Gestos recebidos positivamente pela ONG Oxfam, que convoca "as outras empresas que têm ateliês neste edifício a seguirem o exemplo", a ouvir no futuro "a voz e as preocupações dos trabalhadores" e a respeitar as normas de segurança nos ateliês.
No sábado um pequeno protesto foi realizado em Londres diante de uma loja da Primark. Os manifestantes gritavam lemas como "Ame a moda, vamos proibir os ateliês da miséria" e "Vergonha para a Primark". O desabamento do edifício, construído sem autorização legal, causou a morte de 387 pessoas.
"Se as marcas permanecerem em silêncio, correm o risco de parecerem indiferentes ao drama. Interessa a elas se pronunciarem para esclarecer a situação", disse à AFP Benjamin Martin, da Publicis Consultant.
"Não podem mais fingir surpresa", sobretudo porque houve um precedente recente: em novembro de 2012 um incêndio em uma fábrica têxtil que operava, principalmente, para a americana Walmart deixou 111 mortos na periferia de Dacca.
Já há um suspeito pelo desabamento, o proprietário do edifício, Sohel Rana, que foi acusado de homicídio doloso por negligência. Mas este tipo de incidente também pode provocar temores entre as empresas europeias de degradação de sua imagem.
Para Julie Stoll, delegada-geral da Plataforma por um Comércio Justo, "há claramente um problema de transparência e de rastreabilidade no setor têxtil", diante das dificuldades das empresas em saber se o drama afetou seus fornecedores ou não. "Há 10 anos as repercussões teriam sido menores, mas agora ficarão provas nas redes sociais", segundo o especialista da Publicis.
O grupo espanhol de 'prêt-à-porter' Mango escolheu justamente o Facebook para enviar seus pêsames às vítimas e dizer que não era cliente da empresa Phantom, co-proprietária de um dos ateliês de confecção que desabaram, afirmando que encomendou apenas amostras "cuja produção ainda não havia começado".
Já o grupo italiano Benetton divulgou que "foi feito apenas um pedido a um dos fabricantes envolvidos e que ele foi enviado várias semanas antes do acidente". A Benetton assegura que, "desde então, o produtor de Bangladesh já não faz parte de seus fornecedores" e afirma que realiza com frequência auditorias sociais.
Além destas auditorias, se multiplicam os chamados para defender um salário mínimo para todos os intermediários do setor, além do cumprimento de "normas ambientais e sociais" para que o consumidor se sinta mais comprometido.
Até o momento, as práticas do setor têxtil "ainda não são uma prioridade para o consumidor europeu", reconhece uma grande associação europeia de consumidores.
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