Golbery Lessa- Historiador
Publicado pela relevante editora Zelio Valverde em 1945, o romance A Greve foi escrito por Antonio Osmar Gomes, intelectual penedense nascido em 1894 (atuante principalmente na Bahia) e consiste em uma das poucas obras literárias cuja temática é o mundo têxtil de Alagoas.
O autor não apresenta datas precisas, mas ambienta o enredo em Penedo à época da construção e dos quatro primeiros anos de funcionamento da fábrica têxtil da cidade, que na vida real foi inaugurada em 1893.
Apesar do escasso talento literário do autor, o seu estilo realista e a verossimilhança das situações tornam o livro uma verdadeira janela para o universo têxtil alagoano do final do século XIX e início do século XX.
Embora tenha sido escrita após cerca de 50 anos dos fatos narrados de maneira ficcional, é possível deduzir que o autor escreveu a obra a partir de sua vivência na cidade de Penedo nas duas primeiras décadas do século passado, momento histórico no qual as lembranças dos moradores sobre o período de construção da fábrica e dos primei-ros conflitos trabalhistas ainda estavam bem vivas.
Trata-se, na essência, de um rico e bem concatenado depoimento pessoal que informa sobre a memória coletiva da cidade em relação ao mundo têxtil nos seus momentos iniciais.
Um dos maiores méritos do livro é relacionar a miséria dos trabalhadores com as dificuldades econômicas da empresa, procurando explicar o sofrimento dos operários em termos sistêmicos e não a partir de uma visão idealizada das possibilidades de progresso capitalista em determinadas circunstâncias e formações sociais.
Há também uma análise primorosa do monopólio do comércio de algodão naquela cidade ribeirinha, que nos ensina sobre as causas da instabilidade do preço da matéria-prima básica das fábricas de tecido e sobre as relações entre a parte rural e a parte urbana do universo econômico formado em torno do algodão alagoano naquele período.
A riqueza da descrição dos aspectos econômicos está claramente relacionada com a vivência do autor como contador de uma indústria têxtil baiana e com sua formação de economista.
Além de dar este belo presente memorialístico para a historiografia alagoana, Antonio Osmar Gomes ainda escreveu outras obras, destacando-se o ensaio A Chegança: contribuição folclórica do Baixo São Francisco, de 1941, que o projetou como folclorista.
Foi amigo e colaborador do célebre sociólogo baiano Guerreiro Ramos e um dos fundadores do prestigiado Centro de Estudos Baianos.
Fonte:|http://reporteralagoas.com.br/noticia_cidades.php?cd_secao=1399
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