Vocês acham que a mão de obra na China é barata? Que os salários são miseráveis?
Pois bem, em Bangladesh, país superpovoado vizinho de leste da Índia, um dos mais pobres do mundo e que luta para melhorar as condições de vida de seu povo, os salários da indústria têxtil – responsável por 80% de seu Produto Interno Bruto — equivalem a um quarto do que ganha um trabalhador chinês do mesmo setor.
Ou seja: oito horas por dia, de cinco a seis dias por semana, para levar, no fim do mês, o equivalente a 180 ou 211 reais (dependendo da carga horária) que, segundo economistas locais, é o menor salário de uma categoria no planeta.
Se um operário do setor têxtil ganha, na União Européia, uma média de 20 euros (perto de 60 reais) por hora, e nos Estados Unidos o equivalente a 13 euros, em Bangladesh o valor desaba para 0,38 centavos de euro (1,1 real).
As condições de trabalho conseguem ser tão ruins quanto o salário, daí, entre outros casos gravíssimos, o terrível desabamento de um prédio de oito andares lotado de pequenas confecções num subúrbio de Dacca, a capital, em abril passado, que provocou a morte de 1.127 pessoas e ferimentos em 2.600 outras.
E para quem vocês acham que essa gente miseravelmente paga trabalha, para quem faz roupas? Para grifes que vestem bem nascidos do Ocidente, como Zara, GAP, Tommy Hilfigher e Calvin Klein — sim, elas mesmas –, a distribuidora de grifes Inditex, a rede sueca de vestuário H&M e gigantes ainda maiores como o Wal-Mart, a maior rede de supermercados do mundo.
Não estranha que, com custos tão baixos, Bangladesh se tenha tornado o segundo maior exportador mundial de vestuário, atrás apenas da China.
A tragédia do Rana Plaza — nome do conjunto comercial –, porém, provocou uma revolta popular que levou as autoridades, pressionadas também por organizações humanitárias, a tomar providências.
Centenas de pequenas indústrias têxteis foram fechadas até que melhorassem o padrão de suas instalações. A H&M, maior cliente individual da indústria têxtil de Bangladesh, anunciou a assinatura de um acordo com o governo e com diversas ONGs para estabelecer padrões mínimos de conforto e melhorar a segurança das fábricas, “oficinas da miséria”, segundo Fanny Gallois, da entidade humanitária francesa Peuples Solidaires (“Povos solidários”).
A Inditex, que distribui mundialmente marcas como a Zara, seguiu o exemplo, algo com que também se comprometeu a PVH, que distribui roupas Calvin Kley, GAP e outras. Negociações com o governo procuram estabelecer um salário mínimo profissional e elevar os atuais patamares vergonhosos.
Pouco maior do que o Estado do Amapá, Bangladesh tem 150 milhões de habitantes, é cortada por um grande número de rios, sujeita a constantes inundações e maremotos e tem, portanto, enormes dificuldades para manter uma agricultura capaz de prover a população e empregar de forma estável grande volume de mão de obra no campo. A indústria têxtil tornou-se uma pedra de salvação nacional, mas a um custo humano e social enorme.
“Bangladesh quer continuar sendo um importante polo mundial da fabricação e exportação de vestuário, mas não às custas da miséria de seus trabalhadores”, disse um porta-voz do governo. “Não podemos esperar uma próxima tragédia para agir”.
Demoraram, mas — parece — acordaram.
Fonte:|http://veja.abril.com.br/blog/ricardo-setti/tag/industria-textil/
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