Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Insustentável, crescimento da China vai desacelerar

 Insustentável, crescimento da China vai desacelerar
MICHAEL PETTIS


The Wall Street Journal - 10/08/2011


Enquanto a China tenta aos trancos e barrancos reequilibrar a economia, um número pequeno mas crescente de economistas chineses começa a projetar um crescimento muito menor - de 6% a 7% ao ano - para os próximos anos. Mas a matemática do ajuste sugere que o crescimento deve cair ainda mais, talvez para metade desse nível.

O crescimento chinês nas duas últimas décadas foi sustentado com grandes saltos no investimento direto do Estado. A consequência foram grandes superávits na balança comercial para absorver o excesso de capacidade resultante na indústria.

Tal situação é insustentável. O investimento, sobretudo em infraestrutura e imóveis, é cada vez mais desnecessário. Com a Europa em crise e Japão e Estados Unidos endividados até o pescoço, a demanda de exportações da China vai estagnar.

É possível, para a China, fazer do consumo interno - e não do investimento - o principal motor do crescimento? Sim, mas vai ser muito difícil. Na China, o consumo das famílias responde por cerca de 35% do PIB, mutíssimo menos do que em qualquer outro país. Tamanho desequilíbrio interno não tem precedente histórico.

Em Pequim, há quem reconheça como o desenvolvimento do país foi desequilibrado. Daí o governo estar dizendo que a meta, nos próximos dez anos, é elevar o consumo para 50% do PIB. Até mesmo essa parcela é baixa - deixaria a China na lanterninha do grupo de países do Leste Asiático onde o consumo é baixo.

Mas bater essa meta é complicado, pois exige que o consumo das famílias aumente a um ritmo quatro pontos porcentuais mais acelerado do que o do PIB. Na última década, o consumo das famílias chinesas subiu entre 7% e 8% ao ano; já o PIB cresceu de 10% a 11%. Se a expectativa for a de que o PIB chinês vai crescer de 6% a 7%, o consumo das famílias teria de subir de 10% a 11%.

É difícil um crescimento do consumo dessa ordem, pois há tremendos fatores estruturais trabalhando contra. O modelo de crescimento chinês transfere renda das famílias para empresas, sobretudo na forma de juros artificialmente baixos. Isso derruba drasticamente o custo do crédito para estatais que injetam esse dinheiro barato em megainvestimentos. O crédito fácil também engorda margens de lucro de bancos e permite que absorvam facilmente dívidas podres.

Esse capital barato tem um preço para o cidadão comum. O baixo rendimento de depósitos obriga o chinês a sacrificar o consumo para poupar mais. O resultado é uma queda acentuada da fatia do consumo no PIB. Se a China quiser que o consumo substitua o investimento como motor do crescimento, esse processo de repressão financeira terá de ser revertido. As famílias terão de ter uma parcela cada vez maior do crescimento geral.

Tal inversão é inevitável, mas não será fácil. Investimentos desnecessários e excesso de capacidade significam uma dívida cada vez maior com bancos, o que exige mais transferência de riqueza para manter viável o sistema bancário. Mas se nos próximos anos as famílias seguirem pagando como fizeram até aqui, a China não conseguirá escapar desse modelo.

Precedentes históricos desse acúmulo de dívida são preocupantes. Na história moderna, todo país que viveu muitos anos de "milagre econômico" passou pelo problema do investimento e do endividamento excessivos. Basta olhar para o Japão. A necessidade de derrubar endividamento dificulta o reequilíbrio interno - e o processo sempre demora muito mais do que as projeções mais pessimistas.

Mas é preciso considerar o preço de adiar essa inversão. Ainda que o consumo siga crescendo à taxa registrada na última década (quando o cenário econômico na China e no mundo era efervescente e o peso da dívida muito menor), o crescimento da economia teria de cair para 3% ou 4% para um reequilíbrio. Esse é, em outras palavras, o impacto do corte necessário no investimento, que terá de ser rápido e acentuado.

No pior cenário, o crescimento do consumo cai para menos do que o registrado na última década - talvez devido à expansão mais lenta do PIB -, dificultando ainda mais o reequilíbrio. A única maneira de acelerar o processo seria o governo recapitalizar os bancos com dinheiro público.

A China tem um punhado de decisões difíceis a tomar se quiser dar à economia outro rumo que não o do investimento. Todos os cenários exigem que a economia deixe de crescer tão rápido como até aqui. Tanto Pequim como o mundo terão de se acostumar à nova realidade.

Michael Pettis é professor de finanças da Universidade Pequim e pesquisador sênior do Carnegie Endowment.

fonte: http://www.primeaction.com/noticia.asp?t=4&id=14334

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